Antônio Cantelmo Neto é um dos poucos filhos de políticos de destaque em Francisco Beltrão a seguir a carreira do pai. Se a pesquisa ficar somente entre os filhos de ex-prefeitos do município, ele é o único, até hoje, a ambicionar o mesmo cargo do pai.
Quando Neto nasceu, dia 28 de julho de 1967, seu pai, Antônio de Paiva Cantelmo, era prefeito pela primeira vez. Ele tem mais lembranças da segunda gestão, de 73 a 76, quando estava com a idade de 5 a 9 anos. E ainda não tinha nascido quando seu pai foi vereador, em duas gestões, de 52 a 56 e de 60 a 64.
Antônio Cantelmo Neto é o quinto filho de Antônio e Mildred Carneiro Cantelmo. E também o único filho homem. Antes dele nasceram a Eliane, a Edna, a Edil Maria e a Enoy.
Neto casou com Bernadete Bussolaro e teve um casal de filhos, Arthur e Mariana. Sua segunda esposa é Rose Mari Guarda.
Sua formação é administrador de empresas, pela Unipar.
Na vida política, foi secretário de Urbanismo e Interior (83-88). Antônio Cantelmo Neto elegeu-se vereador para a gestão 93/96 e depois voltou a candidatar-se somente em 2008, para prefeito, e novamente este ano, para prefeito.
Na correria da campanha, ele encontrou tempo, esta semana, para esta entrevista ao Jornal de Beltrão, com a finalidade de falar um pouco sobre sua vida.
Quais são as primeiras lembranças da sua infância, em Francisco Beltrão? A gente sempre lembra das coisas boas. A gente teve uma infância muito boa, uma família bastante inserida na sociedade, também muito católica, meu pai e minha mãe eram muito católicos. Nós participávamos ativamente da igreja, da vida política por conta do pai ser prefeito, estar sempre envolvido, não só na política e na igreja, mas nos movimentos sociais também. Meu pai sempre foi cursilhista, depois lareirista, envolvido com cursos de noivos, e a gente fazia uma participação na sociedade inserida nesse sentido. Eu sempre estudei no Colégio Nossa Senhora da Glória, um colégio tradicional da cidade, sempre tivemos bons amigos. Havia, na época, uma influência muito grande em Francisco Beltrão e uma importância muito maior do que hoje do Quartel, a gente sentia isso naquele período da ditadura, era proibido falar qualquer coisa que remetesse a qualquer tipo de manifestação contrária ao que o Exército fazia, isso era muito presente na nossa cidade. Lembro muito da extração de madeira, dos caminhões do Camilotti, dos caminhões semirreboques no final da tarde que chegavam na cidade trazendo madeira; dos leiteiros que entregavam o leite de charrete, a cavalo, também é uma lembrança boa.
Levantando pó da estrada de chão? Não, no meu tempo já era calçadão. Lembro-me da praça que não tinha árvores grandes, foi devastada e construída uma nova. Lembro-me também da energia, que não suportava a sobrecarga no final da tarde. Foi uma infância muito boa, bastante feliz, com muitos amigos. Nós brincávamos do final da tarde até as 9 horas da noite, na então Rua Rio de Janeiro, hoje Antônio de Paiva Cantelmo, uma vizinhança muito familiar, compartilhávamos tudo. Quando alguma família comprava um carro novo, era notícia pra algumas semanas, isso era bem interessante na época. “Alguém trocou de carro”, comentava-se muito tempo.
Acontecia seguido com o seu pai, de comprar carro novo? Não, não. Quando meu pai era prefeito, ele usava o carro da prefeitura, nós não tínhamos carro. A prefeitura tinha um Fusca, naquele tempo era o carro oficial do gabinete.
Seu pai era o prefeito e não tinha carro? Não, não tinha carro. Pra ir daqui a Curitiba a gente pegava estrada de chão até Pato Branco e de Pato Branco tínhamos o asfalto até Curitiba.
Depois de quatro meninas veio um menino, isso deu mordomia pro menino? Olha, eu acredito que até deu conforto em casa, evidentemente, o último filho sempre tem alguns privilégios em toda a família, mas é um conceito bem diferente de vida do que se tem na sociedade de hoje, antigamente a educação era muito mais ortodoxa, mais tradicional.
O pai era bastante ocupado na comunidade, a educação dos filhos ficava mais pra mãe? Ficava com ambos, eu acredito que a dedicação demasiada à sociedade não é bom pra família, a gente viveu isso. Acho que precisa ser dosado, “nem tanto ao mar nem tanto à terra”. Meu pai e minha mãe trabalhavam demais para a sociedade em determinado momento, isso fez falta pra todos nós da família. Naquele tempo isso era entendido como normal, e por opção deles também. Mas, resumindo, infância muito boa, colégio muito bom, algumas coisas marcantes que tivemos: a seca de 1978. Eu me lembro o dia que choveu, começou a chover na saída da aula, era 15 pra meio-dia, todos os alunos foram pra chuva, uma comemoração, uma coisa muito bonita, foi um dia marcante. Lembro-me que em 1975 nevou aqui em Francisco Beltrão, eu tinha 8 anos, claro que uma neve fina, mas eu me lembro, com o meu avô Lúcio, inesquecível também. Depois, em 1983, vieram as enchentes, foi o drama inverso, pegou todo mundo desprevenido, uma situação difícil; algumas coisas ruins também marcam. Depois, o êxodo de Francisco Beltrão, 85, 86, todo mundo indo embora, achando que a solução estava no Mato Grosso. Os nossos empresários daqui investindo lá, e os nossos agricultores e famílias indo pra lá também. São fatos que marcaram a gente. E mais tarde, já na adolescência, voltando pra cá, no frigorífico Chapecó.
Lembrança boas, não teve lembranças traumáticas? Não, nada que possa ter maculado. Lembranças muito boas das Expobéis, primeiro a Fenafe, depois o cinema, e aí tem que fazer uma referência positiva ao senhor João Arruda. O primeiro passeio ciclístico de Francisco Beltrão, o João era prefeito, acho que foi 78, a Coca-Cola tinha se instalado em Beltrão e a proposta era o seguinte: se reunia todo mundo na praça e íamos pedalando até a Água Branca e quem chegasse lá ia ganhar uma Coca-Cola. E o seo João saiu com a bicicleta barra circular e todo mundo foi bem até na frente das imediações da Antônio Carneiro Neto. Chegou lá, começou a pesar e o seo João começou a não conseguir pedalar, e ninguém queria passar ele. Até que o primeiro passou, daí abandonamos o seo João (risos). Ele foi um prefeito próximo ao povo.
E no início na escola o que você sentiu, era mais pra matemática ou pra português? Olha, eu nunca fui um aluno exemplar em termos de nota. Se a gente mede aluno por nota, eu não sou a melhor referência. Mas eu sempre gostei de história, acho que até pela natureza de gostar de política, todo mundo que gosta de política gosta de história. A gente só não pode ficar muito saudosista, porque todo o saudosista também é muito pessimista. A gente deve ter a história como base de referência pra tentar enxergar o futuro. Tive uma excelente professora de história, que não atua mais, que é a Mirna Pécoits, sem dúvida uma das melhores educadoras que tive. Ela era muito exigente, veio de uma escola diferente das nossas aqui. Depois, o aparecimento do Colégio Madre Tereza, já no ensino médio, foi uma necessidade que houve em Beltrão em 1982, porque se entendia que os filhos estavam tendo que ir pra Curitiba pra ter chance de passar no vestibular. Então veio o Madre Tereza pra Beltrão no entendimento da Diocese com a paróquia. Foi o primeiro colégio que trouxe ensino através das apostilas do Positivo, nós estudávamos com a apostila base do curso de Curitiba. Aquilo era um horror, porque nós não tínhamos familiaridade nenhuma, tampouco os professores. A gente foi se habituando, aprendendo, entendendo como era bom estudar com aquilo.
O ensino superior não veio na sequência, teve um período que você parou. É, eu iniciei o ensino superior em 85, em Pato Branco, na Funesp, como administrador. Nós saímos todos muito bem do Madre Tereza, todo mundo que saiu, conseguiu passar, foi acima da média da região. Mas daí fiz um ano e meio de faculdade em Pato Branco e acabei parando. O trabalho que eu fazia, que era no comércio, não permitia que eu conseguisse trabalhar até o final da tarde, pegasse o ônibus e fosse estudar. Isso era em 1986, o auge do Plano Cruzado, vendia-se tudo o que se encontrava, não precisava ter muita qualidade na venda, faltava tudo no país, desde automóvel a peças das mais elementares. Surgiu o ágio, as pessoas compravam mais do que tinha pra vender. Depois acabei me casando, tive dois filhos com a Bernadete, o Arthur e a Mariana, hoje com 22 e 15 anos, respectivamente; o Arthur está se formando em Arquitetura, a Mariana está fazendo o ensino médio.
Você teve um pouco mais de tempo pro seu filho ou foi como seu pai? Não, tivemos um tempo muito bom, morei lá no bairro Vila Nova por 16 anos, na Rua Argentina. Uma infância muito boa a deles, um tempo muito feliz.
E das experiências profissionais, qual foi a melhor? Eu comecei a minha vida trabalhando com um dos maiores empresários que o Sudoeste já conheceu, que era de Pato Branco, seo Gumercindo Palaggi; trabalhava na filial de Francisco Beltrão. Uma pessoa extraordinária, muito bem-sucedido, um rotariano de comportamento invejável, um exímio comerciante e ele ensinou isso pra gente. Depois, passei por diversas empresas, eu já tive lotérica, já tive oficina mecânica, já tive máquina pesada.
Tudo isso ajudou? Eu acredito que sim, porque hoje eu tenho amigos nos 42 municípios do Sudoeste do Paraná mais Oeste de Santa Catarina. Isso é um patrimônio que fica e o fato também de eu ter trabalhado com venda de serviços pro serviço público nunca me afastou do poder público, porque quando eu não estive dentro do poder público, eu estive ligado por conta da atividade, vendendo, tanto que a gente conhece as 42 prefeituras do Sudoeste, por causa disso. Depois, quando em 2000 fui convidado para assumir a Secretaria da Saúde em Beltrão, isso acabou ajudando muito pelo fato de o sistema do núcleo de saúde funcionar em rede e essa rede traz muita gente pra Beltrão. Naturalmente, eu pude reencontrar muita gente dos municípios.
Daqueles seus amigos de infância, principalmente os filhos de políticos, você foi dos poucos que seguiram a carreira do pai. Quem mais o estimulou na política? Eu diria até que quem acabou me estimulando mais pra entrar na política foi o (Ademar) Traiano, claro que o Vilmar (Cordasso) participou e o Traiano me estimulou por ser cunhado e tal. Hoje, se nós formos analisar, em um momento que o Brasil tá vivendo a condição remuneratória, só entra em política quem é um apaixonado mesmo, ou quem tem alguma história, porque se nós formos levar em consideração o desgaste que é, o risco que é, o que remunera e o que tolera, tem muita coisa melhor do que fazer política no país. Quando você é colocado na vala comum, naquele discurso de que todo o político é corrupto, que todo mundo é ladrão, aí desmotiva, ou seja, todo mundo enxerga os defeitos do político, mas poucos enxergam os trabalhos que eles fazem, e aí eu falo de todos, como um todo, em prol da sociedade. O meu caso, um caso bem especial porque eu acompanhei meu pai, ele sempre me levou, desde criança, junto com ele, eu acho que eu peguei. Desde quando foi criado o Dimea, era aqueles torneião, os caras nem chuteira tinham pra jogar, dava brigas, dava tiroteios, futebol tinha disso. Esses dias a gente tava fazendo uma reunião lá no Km 20, onde hoje acontece a Fest Vin, tudo muito bonito, quando foi inaugurado aquele campo, eu me lembro, o meu pai era prefeito, ele foi inaugurar, ele e o comandante do Exército, foi levado uma rede pra cada trave e duas bolas, os times lá já tinham camisa e tal, chuteira. Naquele tempo, futebol era tudo o que tinha ali. Eu sempre acompanhei ele muito, então, naturalmente, as pessoas falavam, os agricultores ‘ah, esse aí o senhor vai deixar pra ser assessor’. Talvez no meu subconsciente aquilo ficava registrado.
Você lembra de alguma vez seu pai ter falado do seu futuro político? Não, nunca falou. O meu pai era uma pessoa muito exigente, de uma formação militar, foi alguém que serviu o Exército três anos na 2ª Guerra, participou da movimentação brasileira prestando o trabalho militar em Fernando de Noronha. Ele trouxe muito desse comportamento pra vida dele, e sempre nos cobrou muito caráter, disciplina, a questão da honestidade, essa coisa toda, mas em nenhum momento ele estimulou para que eu me dirigisse ou declinasse da questão política.
Mas também não disse não? Não, participei de grêmios estudantis, embora quando eu cheguei na idade a movimentação estudantil já estava em declínio, mas a gente participou muito do PMDB Jovem. Nos primórdios aqui em Beltrão, nós participamos também.
Depois de um ano numa gestão, você não quis mais continuar como vereador, por quê? Eu senti que o legislativo não é o meu perfil de atuação; é um perfil de executivo, eu sou uma pessoa mais pragmática. Não é que eu não gosto, mas eu acho que tenho mais o perfil de executivo mesmo, de executar as ações.