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Francisco Beltrão
domingo, 08 de junho de 2025

Edição 8.221

07/06/2025

Confira a entrevista coletiva com Gilmar Reolon

O que aconteceu com você esse tempo todo Gilmar?

Me escondi no mato.

Por que você se escondeu no mato?

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Por causa das besteiras que eu fiz.

O que você fez?

Matei meu pai e minha família.

Você matou seu pai, confirma?

Confirmo. Foi uma promessa que fiz quando tinha 12 anos.

Você prometeu de matar seu pai quando tinha 12 anos?

Não, prometi matar não, prometi me cobrar o que ele fez comigo.

O que ele fez contigo?

Ele me tratava muito mal.

Você matou ele como?

Com uma paulada na cabeça dele.

Por que você matou a sua família, Gilmar?

Pra não passar fome e vergonha.

Como é que foi?

Dei uma paulada na cabeça deles. Saí de noite, eu  matei na noite primeira [quarta-feira, dia 6/1/10], depois voltei na outra noite [quinta], finquei fogo na casa [em torno das 2 da manhã de sexta-feira, dia 8]. Fui no mato, me pendurei na árvore para me enforcar  e o galho quebrou.

Você tentou se matar?

Me pendurei, o galho estourou, me ralei todo, fique uns dois, três dias sem comer, e foi indo, acontecendo, fui levando.

E você percebeu quando a polícia te procurava lá na região?

Uma vez, sim.

Só uma vez?

Só uma vez, daí eu me escapei pra outros matos, bem mais longe.

E o gado você que estava matando?

Pela explicação que o meu irmão deu pra mim tem 16 cabeças mortas lá, eu matei, eu acho, foi umas dez só.

Você matava e tirava só aquela parte do corpo do gado, o peito e a coxa?

É, só.

Por que só essa parte?

Entra mais bem, e não estragava.

E como é que você viveu no mato todo esse tempo? Você vinha pra cidade, tinha algum contato com alguém?

Com ninguém, nunca vim pra cidade.

Fazia tudo sozinho?

Sozinho.

Ninguém levou comida, ninguém conversou com você?

Não, ninguém.

E nesse período o senhor não tentou se matar depois da primeira vez?

Eu fiquei uma vez seis dias sem comer pra tentar, aí eu não aguentava mais e matei de novo.

O senhor matou a sua família pra eles não passarem fome?

E vergonha.

Tem uma denúncia de que você teria abusado da sua filha, isso é verdade ou não?

Nunca, isso jamais, jamais faria uma coisa dessas.

Primeiro você matou e depois tacou fogo na casa?

Sim.

Matou num dia, voltou no outro e tacou fogo?

Sim.

E matou como?

Matei na paulada.

Cada um?

Sim.

Você ficou com pena da filha, do filho?

Não. Tava bem sossegado, pois tava na coragem, depois, com o tempo, vai pensando o que você fez.

Você se arrependeu depois?

Me arrependi, meu Deus, pelo mal que fiz.

Vizinhos viram você lá por fora e a casa tava fechada e você não deixou chegar? A família já estava morta?

Matei numa noite [quarta, 6/1/10] e vim para a cidade [Beltrão], ia me jogar no rio [Marrecas] ou contra um caminhão [na rodovia], mas daí voltei lá [quinta de noite, 7/1/12] e resolvi tacar fogo [madrugada do dia 8] e saí com um pedaço de corda. Até pouco tempo a corda estava junto comigo.

Como foi a morte do seu pai?

Fui pagar a prestação que eu devia [maio de 2009] pra ele do financiamento e ele disse que eu tinha que pagar duas. Mas porque pagar duas se foi descontada só uma? Ele disse “não, você vai ter que pagar duas”. “Mas eu não tenho dinheiro, não senhor, vou pagar como se não descontaram?”. “Você tem tomar uns laçaços”. Falei: “você não ponha mais a mão em mim, já apanhei que chega”. Ele se virou para me dar um soco, um tapa, eu dei um empurrão e ele bateu a cara no forrageiro, daí voltou de volta, passei a mão num pau que tava lá e bati na cabeça dele.

Quando a polícia achou sua primeira cabana [fevereiro de 2012] você mudou de lugar?

Sim, eu fugi pro mato mais longe.

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