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Francisco Beltrão
segunda-feira, 30 de junho de 2025

Edição 8.235

28/06/2025

Os desafortunados

Geral

As pessoas costumam chamar umas às outras, de sortudas ou azaradas. Fulano sempre teve sorte na vida, enquanto que sicrano parece que dorme com o azar. Essa forma de se expressar, dá-nos a nítida idéia de que as pessoas têm sorte ou azar na vida, por uma determinação superior aleatória.
Ou seja, esses fatores seriam designados por escolha ao acaso, e não por merecimento. Ledo engano quem pensa assim. Sorte ou azar na vida, somos nós mesmos que produzimos com nossos atos, omissões, palavras e pensamentos.
Na verdade, nós é que escolhemos o nosso destino, que no final trará sorte (felicidade) ou azar (desgraça). É o que depreendemos no conto a seguir, do relato de Robert Greene:
?Era uma vez uma mulher chamada Marie Gilbert. Nasceu na Irlanda, mas foi para Paris ganhar a vida como atriz e bailarina. Descendente de espanhóis, mudou seu nome para Lola Montez. Sem sucesso na carreira, para sobreviver virou uma bem-sucedida prostituta de luxo.
Nessa nova profissão, conheceu Alexandre Dujarier, crítico de teatro e dono de jornal de maior circulação na França. Seu encontro foi estrategicamente planejado. Apesar de advertido do comportamento duvidoso da amante (havia fugido de casa e ainda estava casada legalmente com um inglês), Dujarier pretendia casar-se com Lola.
Numa festa, o crítico, após embriagar-se, ofendeu Jean-Baptiste Rosemond de Beauvallon, colega de profissão, devido a comentários a respeito de Lola. Beauvallon o desafiou para um duelo. Dujarier tentou se desculpar, mas o combate aconteceu e ele foi morto. Alexandre levou azar, pois Jean-Baptiste era um dos melhores atiradores da França.
Decepcionada, Lola viajou para Munique. Decidiu que iria conquistar o rei Ludovico da Baviera. Para conseguir uma audiência, novamente utilizou-se de estratagema e ardileza. Apesar de ser pífio seu desempenho como dançarina e atriz, dois dias após haver conhecido o monarca, ela estreava no palco bávaro.
Mesmo recebendo ácidas críticas de seu povo, continuava enfeitiçado por Lola. Exibia-se com ela em público, deu-lhe um título de condessa e até lhe construiu um palácio novo. Era tamanha a influência da amante, que ela já opinava em questões políticas de Estado. Lola tratava os ministros com desdém e arrogância.
O governante que antes reinava em paz, enfrentava seguidas rebeliões, e o país vivia à beira de uma guerra civil. Finalmente, não agüentando mais a pressão, o rei determinou que Lola deixasse a Bavária. Mas, o estrago já estava feito. Ludovico, antes tão amado, enfrentou a ira dos bávaros. Um mês após a partida de Lola, ele foi forçado a abdicar.
Lola Montez foi plantar sua nova desgraça na Inglaterra. Conheceu George Trafford Heald, um jovem oficial do exército com futuro promissor. Casaram-se, porém, acusada de bigamia ela foi presa, mas conseguiu fugir. Foram viver na Espanha. Viviam brigando e certa ocasião ela o feriu com uma faca. Acabou mandando-o embora.
Voltando para a Inglaterra, George descobriu que havia perdido seu posto no exército. Banido da sociedade inglesa, e pobre, mudou-se para Portugal. Poucos meses depois, num acidente de barco, sua curta vida chegou ao fim. Lola, porém, continuava desgraçando vidas.
Na Califórnia, casou-se com um homem chamado Pat Hull; trocou-o por outro, cujo convívio tempestuoso, quatro anos depois, levou-o à morte, em virtude de bebida e depressão profunda.
Lola arrependeu-se de sua vida pecaminosa e, aos 41 anos, usando roupa branca e uma tiara na cabeça como se fosse uma auréola, viajou pela América palestrando sobre temas religiosos. Morreu dois anos depois. Moral da história: Diga-me com quem andas, e te direi se tens sorte ou azar na vida.

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