Geral
Marco Aurélio Nogueira é professor de Teoria Política e autor de vários livros, entre eles ?Em defesa da política? e ?Um Estado para a sociedade civil?. Publicou na revista ?Política Democrática? nº 16, o artigo ?Brasil: os anos futuros?, que começa perguntando: ?O que podemos esperar para o próximo ciclo político brasileiro depois do biênio 2005-2006 e do processo eleitoral recém-terminado que culminou na reeleição do presidente Lula?
Ele mesmo responde: ?Se considerarmos o quadro de modo panorâmico, podemos perceber um cenário inquietante e perturbador. De 2005, veio a constatação de que temos graves problemas nas estruturas superiores do Estado e nas práticas de governo. Falta-nos sobretudo uma sólida cultura republicana de governo, e esse aparelho de Estado ainda não adquiriu a leveza, a dimensão e a flexibilidade necessárias para conviver com os tempos atuais. Das eleições, veio a certeza de que estamos sem muitas alternativas políticas. O cenário não é fechado e sombrio, mas repleto de desafios, incertezas e novidades potenciais, ainda não decifradas. Da crise de 2005 à reeleição de Lula, esse cenário permaneceu imóvel, congestionado de paradoxos, de excessos e de um imenso vazio?.
Sobre os dois partidos que disputaram o 2º turno das eleições, Marco Aurélio Nogueira escreveu: ?PT e PSDB saíram das urnas com um ponto de interrogação nas costas. Apesar dos bons resultados que obtiveram, não evoluíram como atores políticos capazes de coordenar a sociedade ou de apresentar a ela algum programa ou uma agenda de reformas. Emergiram das urnas como partidos divididos, as voltas com problemas internos de difícil solução e desprovidos de pujança propositiva, como se fossem organismos sem espírito e sem identidade?.
O autor termina o artigo, com essas palavras: ?Não é um cenário necessariamente de horror. Há uma disposição participativa não explorada na sociedade. Medidas concretas de política social, mesmo que focalizadas e de curta duração, poderão produzir importantes impactos positivos. Além do mais, sempre se pode esperar que também saia das urnas o germe de uma convicção socialmente enraizada de que o país só avançará com rapidez se conseguir juntar suas forças e curar suas feridas, privilegiando as camadas mais pobres e miseráveis, mas sabendo que só o caminho democrático ? com seus tempos, suas negociações, seu pluralismo, seus conflitos ? pode garantir sustentação a um projeto renovador. Se quiser superar a crise operacional, moral e intelectual em que se encontra, terá de ser esse o horizonte da esquerda?.