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Francisco Beltrão
sábado, 07 de junho de 2025

Edição 8.221

07/06/2025

Nelson Massetto – 2ª parte: No Exército, contra o comunismo

 
 
Nelson Massetto: “A partir da hora que você quer andar de carro novo,
quer ter conforto, quer ter coisas tuas, ter teu dinheiro, quer viajar e
quer passear, você não pode ser comunista da ideologia marxista”.

Esta é a sequência da entrevista com Nelson Massetto iniciada domingo passado. Um gaúcho de nascimento, mas criado no Paraná desde o segundo ano de idade, acumulou muita experiência como professor, militar, atleta, odontólogo e, depois de aposentado, optou pelo interior em vez de cidade grande. Aposentado mas continua cheio de atividades, em seu sítio, agora como rotariano e presidente da Associação de Vitivinicultores de Francisco Beltrão. E continua, sobretudo, ligado aos problemas do país, destacando-se a falta de mão de obra, aqui e na Europa, que ele conheceu melhor fazendo o Caminho da Compostela.

JdeB – Estava nos seus planos se tornar militar?

Nelson – Naquela época, da ditadura, o militar tinha um respaldo social, era autoridade do país, sem dúvida que aquilo de certa forma me cativou, apesar de aqui em Beltrão ter mexido alguma coisa com a UNE e tal e tive uma ideia vaga do que estava acontecendo politicamente aqui no país e se tinha medo, pois foi nessa época a Guerra do Vietnã. Eu sou daquela geração que recebia as notícias da Guerra do Vietnã pelo rádio e aquilo me agoniava muito; se tinha uma ideia de que podia vir um comunismo para o Brasil, assim como os vietnamitas, que eram comunistas. Era um burburinho, a cabeça do estudante que estivesse um pouquinho aberta para essas ideias do que estava acontecendo no planeta. Era muito difícil, as informações chegavam muito quebradas, vinham de longe, então pensei vou entrar, vou ficar e vou seguir carreira. E nos deparamos com toda aquela problemática da segunda metade da ditadura para frente, ideologias complicadas para a época, tínhamos convicção que não queríamos o comunismo aqui e uma grande parte da sociedade não queria, e acho que até hoje queremos uma coisa mais liberal, mais democrática, e o comunismo da época e a ideologia era muito ditatorial, muito forte, muito de agriloar, de aprisionar o cidadão. Eu nunca acreditei na democracia do proletariado, que foi uma coisa assim de fachada, e depois você vai se transformando em um pequeno burguês, porque a partir da hora que você quer andar de carro novo, quer ter conforto, quer ter coisas tuas, ter teu dinheiro, quer viajar e quer passear, você não pode ser comunista da ideologia marxista.

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JdeB – E para viver isso você precisa seguir um filão maior que tem aí?

Nelson – Exatamente. Eu fui formado nesse tipo de ideologia, apesar de no seminário ter tido um tipo de ideologia socialista católica cristã. Jesus pregou um tipo de socialismo perfeito, então fiz a carreira ali, percebi também que não tendo feito a academia militar, eu não teria postos altos de comando no Exército, então eu disse que teria que estudar fora, ser médico, ser dentista ou ser alguma coisa, mas também por causa do trabalho e da falta de dinheiro fiz o curso de Educação Física primeiro – até tive algum sucesso, fui atleta no Rio de Janeiro e treinei equipes nacionais.

JdeB – Qual seu ponto forte como atleta?

Nelson – Fiz salto com varas muitos anos no Vasco da Gama e no Flamengo, fazia decatlo também, mas sem muita projeção.

JdeB – Que recorde conseguiu ou qual altura foi a melhor?

Nelson – Na época em que o recorde brasileiro era 4,20 metros, eu cheguei a saltar 3,97 e 3,98 metros e o recordista era um rapaz de São Paulo. Nós não tínhamos muitos meios e materiais… A Fabiana Murer vai competir e leva seis varas, nós tínhamos uma que era doação. Eu comecei a treinar salto com vara de bambu, são épocas diferentes. E dentro do Exército eu pude ir trabalhando com as duas coisas, na academia militar eu fui ser instrutor de atletismo e daí fiz Odontologia.

JdeB – Onde fez Odontologia?

Nelson – Eu me formei em Volta Redonda, no Rio de Janeiro. Depois de formado, comprei consultório e fazia as duas coisas ao mesmo tempo, de dia Exército e à noite na clínica.

JdeB – E depois que se aposentou, parou ?

Nelson – Depois continuei mais uns sete ou oito anos e parei, uns três ou quatro anos atrás. Aposentei-me em 97 e continuei uma porção de anos em período integral.

JdeB – Valeu a pena o tempo em que se dedicou ao Exército?

Nelson – Valeu, na minha óptica, me formei um bom cidadão, hoje eu tenho o mesmo ímpeto que tinha quando era de infantaria aqui em Francisco Beltrão, um jovem idealista, e vou defender a pátria seja onde, como e contra quem for. A bandeira pode estar nas mãos erradas, mas onde tiver bandeira estamos juntos e como jovens da época nós éramos assim, aconteça o que acontecer, o Brasil acima de tudo, às vezes com um conceito fundamental não pensado corretamente por quem criou esse jargão, essa era a nossa verdade. Nós somos uma nação e não um governo, politicamente é assim e precisamos distinguir muito isso, o que é complicado hoje em dia.

JdeB –Tem as benesses para uns e as desculpas para os outros, que podem avacalhar porque é ao contrário e esquecem a nação.

Nelson – Em termos políticos, é o que falta hoje em dia para o brasileiro de um modo geral, precisa acontecer alguma coisa, pode-se passar noites discutindo as variáveis do que precisa e deve acontecer, mas que ainda não aconteceu em nosso país.

JdeB – Depois de aposentado teve duas opções, cidade grande ou interior, viveu as duas experiências.

Nelson – Sim, hoje eu já me choco quando vou para Curitiba e olho pela janela o prédio em frente e não vejo ninguém, vejo 25 andares de concreto e olho na rua e vejo um ou outro caminhando com o cachorrinho à tardinha e os carros frenéticos passando e buzinando, as sirenes, digo meu Deus, aonde vai toda essa gente. E eu fiz parte dessa gente que correu, então o interior te dá essa diminuição. Na neurofisiologia se chama isso de diminuição da frequência cerebral, que o cérebro não precisa pensar tão rápido e fazer tanta coisa ao mesmo tempo, você perde qualidade. Eu me vi sem qualidade, apesar de estar trabalhando na área da saúde, fiz especialização e fui instrutor em hiperoterapia em odontologia sempre visando reduzir dor do paciente, reduzir sofrimento, em muitos cursos, mas tava faltando um negócio para mim, tô acreditando que estou no caminho certo, não cheguei na calmaria, porque não quero calmaria do ócio, mas conseguir ver a transformação das coisas. Estou lendo um livro agora, “A última grande lição – o sentido da vida”, do Mitch Albom, ele é jornalista e fala de um professor americano que foi perdendo as capacidades de fazer as coisas normais da vida, tipo levar bichos fora, trabalhar e tal. Tá se aniquilando com uma doença que vai destruindo os músculos e sobrou para ele ficar em frente à janela e olhar a paisagem da janela da casa dele, olhar o quintal e quanta coisa ele podia ver só naquele quadrado que antes ele não via, e que a gente não vê. Nessa busca, de repende, tem a oportunidade de ver e deslumbrar tudo e de entrar no particular, isso te torna mais sensível, te torna melhor pessoa e nós temos que buscar isso.

JdeB – Quem pensa que o Nelson está muito sossegado por aqui se engana, pois se encheu de atividades de novo?

Nelson – Sim, só que eu procuro fazer em outro ritmo, agora estamos entrando no Rotary, recebemos um convite do Rotary Vila Nova de alguns amigos nossos. Acho que o que foi aprendido no seminário, não basta você fazer coisa para você, até o dia de morrer você tem que ajudar e estar à disposição de alguém que esteja mais necessitado, e você com tua experiência, com tuas possibilidades, sejam financeiras ou intelectuais, fazer algo mais para o outro. E o Rotary permite esses tipos de trabalhos também, a Abevi (Associação Beltronense de Vitivinicultores), o Rotary, o sítio, o aviário a família… tenho um monte de projetos pela frente, não paro nunca.

JdeB – Folga mesmo não tem?

Nelson – Agora estava comentando com a Lurdes, nesse inverno, em mais de 40 anos juntos, a primeira vez em nossa vida que estamos levantando um pouco mais tarde e estamos fazendo fogo no fogão a lenha, tomando uma garrafa de chimarrão, tomamos um cafezinho e aí quando esquenta um pouquinho a gente vai para a lida – eu tô me surpreendendo.

JdeB – Enfrentar essas atividades no aviário e também como presidente da associação dos vitivinicultores, uma constatação que está fazendo é a dificuldade de mão de obra do interior ?

Nelson – Nós estamos chegando num patamar europeu da falta de mão de obra. No caminho de Santiago, eu atravessei a Espanha inteira a pé e conversei com centenas de pessoas, e lá não tem mão de obra, a juventude desapareceu, são poucos jovens e pouca mão de obra. É uma consequência da redução do número de membros da família, temos essa perda quantitativa e qualitativa. E essa dificuldade é do interior inteiro, temos que ir mecanizando o que é possível.

JdeB – Mas tem atividades que precisamos de mão de obra.

Nelson – Não tem como escapar, em nível de desenvolvimento regional que temos aqui, o braço humano é indispensável, mesmo que você tenha ali o equipamento como ordenhadeira, o curral, mas mesmo assim você precisa de alguém ali para controlar e tratar, isso que está desaparecendo.

JdeB – E as principais atividades, o leite e a ave, são atividades diárias.

Nelson – Sim, bem constante, muitas horas por dia e não pode ser uma pessoa idosa para fazer isso, o que nós estamos notando é que os idosos que estão na agricultura familiar estão chegando num linear da possibilidade de trabalho, e o que vai acontecer é que cada família terá que seguir um caminho diferente depois, as autoridades vão ter que visualizar isso, ter recurso. Nós não estamos na Europa, onde tem agricultura de muito subsídio, onde se tem um curral onde as vacas saem do pasto e vão para o lugar onde é para ordenhar é calçada, asfalto ou cimento. E o governo te dá uma picapezinha para você acompanhar o gado que está nas pastagens pelas trilhas, que são de dois metros e meio, mais ou menos, nas montanhas, dá para andar com um furgãozinho da Renault que eles compram da França. Então você está no caminho de Santiago e pega as estradinhas e está lá o fazendeiro com seus 50 anos e igual às dificuldades nossas.

JdeB – Como presidente da Abevi, o senhor percebeu que o desenvolvimento da produção de uva também está enfrentando essa falta de mão de obra?

Nelson – Sim, a mão de obra é um problema, as tecnologias novas para o cultivo e melhoria da qualidade, o conhecimento da análise do solo, adubações, os tratamentos, tem que abarrotar a cabeça do produtor com esses conhecimentos também, alguns podem tocar ali mais uma década, 10 ou 15 anos ainda, mas estamos indo buscar mais informações, conhecimento e técnica aprimorada dentro da limitação do nosso solo, nosso clima permite a vinicultura. Nós não podemos criar uma ilusão que aqui no Sudoeste do Paraná seja uma área propícia para a vinicultura de uvas nobres, é impossível, então para as uvas de mesa, para uvas de variedade para suco, para vinho colonial, que já é agregado de cultura popular de se tomar aqui, essa uva bordô principalmente presta para isso, mas somos um dos únicos países do mundo que utilizamos esse tipo de uva para fazer vinho, é uma uva para sucos. Mas se você traz uvas nobres de viníferas reais, aí o solo e clima são desfavoráveis, é um investimento muito grande de infraestrutura e tratamento, daí viabiliza. As viníferas do sul já têm grande dificuldade de concorrência com o vinho estrangeiro no preço e na qualidade, até a qualidade temos visto vitórias em prêmios internacionais do nosso vinho, o problema é você colocar no mercado interno com preços competitivos. E no rol do Mercosul tem o vinho deles barato e no rol das taxações do produto alcoólico ele entra numa faixa muito alta e não consegue sair desse emaranhado. E por outro lado, temos a deficiência de que as nossas cantinas se adéquem às exigências da vigilância sanitária, a qualidade de manuseio da uva, do fabrico do vinho dentro das normas, que aqui era tudo no artesanato, era, como diz a gíria, “feito a facão”, onde você espreme a uva, coloca dentro da pipa, engarrafa, tudo num ambiente só, quando na realidade você tem que ter espaços diferentes, equipamentos para filtrar, para engarrafar, para rotular, o manuseio da uva, equipamentos de prensagens e isso tudo demanda um investimento alto, conhecimento, e nós temos aqui um produtor descapitalizado. Aí se pensa nesse vinho colonial, que o próprio governo não está acenando com possibilidade de reduzir essas exigências sanitárias, não de limpeza e higiene, mas reduzir os equipamentos e os espaços físicos e ser mais modesto um pouco, permitir que o produtor pequeno também cresça, que é a grande dificuldade nossa, mas vai crescer como sem dinheiro e o fiscal do ministério exigindo assim, segundo a nossa óptica, demasiadamente um elemento físico que não vai interferir na qualidade? Então é uma luta da Abevi com a cooperativa, a Abevi é a mãe, é o embrião da cooperativa do Sudoeste inteiro, e a gente se preocupa mais com o produtor de uva e de vinho.

Compostela, Patagônia, caminhadas…

 
Caminhada da Compostela que o Nelson Massetto fez em 2010.

 

JdeB – Essa dificuldade de mão de obra vem desde tempos atrás, que o pessoal não gostava muito de ficar na roça, e hoje tem mais gente estudando e mais gente não querendo ficar na roça. E qual é perspectiva que nós temos?

Nelson – Eu estou vendo uns projetos interessantes, como a ampliação e a criação do colégio agrícola perto do centro tecnológico. Porque nós não precisamos de um engenheiro agrônomo na boa parte das fases, nós precisamos de um técnico agrônomo, e no Brasil nós temos essa carência de técnicos de nível médio. Quando se vê esses projetos, se acende uma luz, que lá na frente nós podemos ter uma mão de obra mais qualificada e, se esses técnicos quiserem realmente trabalhar na agricultura, que seja pequeno porte, eu só espero que eles não se transformem em mais um teórico, que nós temos de sobra, que saibam operar máquinas e não conheçam a parte laboral da coisa, pois isso não vai resolver o problema da mão de obra. Essa mão de obra nós não temos alternativa, eu acho que vamos passar por uma mudança muito importante nas próximas década e meia ou duas décadas, do que vai ser feito nesses minifúndios, e isso passa muito pela administração municipal, que conhece todas as dificuldades, o potencial e tudo o que pode ser feito aqui. Eu tenho um alqueire e meio de terra, tem que vir alguém, já que eu não tenho iniciativa de como eu vou tirar desse alqueire e meio essa produção, algum elemento que me dê a sobrevivência e rendimento, na cidade eu não vou, pois não tenho qualificação para trabalhar, então precisa ter a indústria do morango, a indústria do alho, alguém que conheça o potencial de cada região, de cada município, e Beltrão tem um potencial grande, tem áreas boas, terrenos férteis. Alguma coisa da agricultura planejada com agregações de valores em cima do que vai produzir. Em regiões do Rio Grande do Sul, grandes produtores de uva bordô Izabel, que não agregam valor nenhum, o grande produtor de lá está encolhendo na área dele porque não consegue mais cuidar daquilo, não faz o vinho, só vende a uva. No meu caso, eu preciso criar alternativa. Eu vejo aqui a (alternativa) do morango, que existe a possibilidade, exige também investimento. Eu não sei se a Europa foi para o buraco por causa do excesso de subsídio a tudo, o governo fez tudo lá e quebrou e aqui também ele não pode estar fazendo tudo porque somos pobres e, por outro lado, o agricultor pequeno não tem reserva financeira para investir. Por esses aspectos, estamos pessimistas em curto prazo.

JdeB – Tem mais detalhes sobre a experiência na Europa no Caminho da Compostela.

Nelson – Compostela é um livro, são tantos aspectos, tantas nuances que se pode detalhar. Foi uma experiência religiosa fantástica, uma experiência física extraordinária, apesar de ter a história de atleta de tudo, mas na forma que eu fiz num tempo muito curto.

JdeB – Fez em quantos dias?

Nelson – Fiz em 23 dias 800 km, foi uma média alta de quilometragem diária, com isso eu perdi uma série de análises de convivência, mas pretendo fazer de novo ano que vem, mais devagar, com mais tempo, com outros olhos. Eu tinha que passar por essa experiência e foi uma visão religiosa, um contato religioso muito profundo, uma convivência física, uma observação de que a Europa já estava em 2010 em crise muito séria, não se noticiava muito a crise interna de cada país, mas você, passando por entre as pessoas e cidadãos, todo mundo está com isso pela garganta, pela queixa de que a Espanha estava no buraco e se nota que foi feito muita coisa com o dinheiro emprestado. Volta muito dinheiro para as indústrias da Espanha e outros países, mas eles não têm muito de onde tirar esse dinheiro, diferente de nós, aqui do Brasil, que temos todo um potencial para ser explorado, porque lá já está tudo feito, lá se destrói uma estrada para fazer outra para se criar mão de obra. Vinha se fazendo uma grande rodovia de Leste a Oeste da Espanha, cortando morros, para criar mão de obra, na verdade foi um tiro que saiu pela culatra, porque mão de obra braçal não se faz assim, gera um pouco de emprego, e lá é tudo muito interligado, os cimentos têm que vir da França e o guindaste vem da Bélgica, a Alemanha manda o triturador, é complicado. Em Compostela, o principal mesmo foi a parte espiritual, vivenciar aquele caminho de Tiago Apóstolo, a verdade sobre quando você acredita em algo, o grande ensinamento pode ser esse, você a milhares de quilômetros conviveu com uma pessoa que se chamava Jesus, que veio contar uma história nova e um grupo acredita nessa história e sai pelo mundo, sozinho por milhares de quilômetros, a cavalo, uns de barco, e depois caminhavam e vê a travessia que ele faz ali de Leste a Oeste, vindo da França até na divisa com Portugal, pregando uma coisa que acreditava que podia mudar o mundo. Isso que foi grandioso, você passar por aquilo, conhecer histórias interessantes, de fato milenares e seculares, que se passam de boca a boca por tradição, é bem interessante.

JdeB – Se não tivesse ido, não teria programado a segunda viagem?

Nelson – Sim, eu quero refazer esse que fiz e depois quero fazer outros trajetos, são vários caminhos, eu fiz esse que é mais tradicional, mais antigo, mais conhecido, que é o caminho francês: eu saí da França, atravessei a montanha que separa os Pirineus até quase Portugal. Eu recomendo, a ideia é fundar em Beltrão um grupo que já tenha feito e que pretende fazer, que queira caminhar, um grupo de caminheiros, de peregrinos aqui. Está bem forte em mim, já fiz alguns contatos, várias pessoas que topam pegar duas vezes por mês, nos domingo, e vamos fazer caminhadas de percurso pequeno.

JdeB – Temos as cavalgadas e vamos ter as caminhadas?

Nelson – Sim, outro dia eu saí daqui, fui para Beltrão, Marmeleiro, Renascença, fui lá na Nossa Senhora da Salete, dá 40 km certinho, a pé é um caminho bom de se fazer. O próximo caminho que vou fazer vou sair de Pato Branco para cá. Sair bem cedo e no final da tarde eu estou aqui, isso faz bem. E o esqueleto funciona assim, você exige dele, ele te responde, quanto menos você exige, menos ele dá as respostas, e você só vai sentir mesmo isso quando estiver vizinhando a terceira idade, se você tem um lastro bom ele te responde, se você exercitar, tem uma qualidade melhor, se torna melhor, se alimenta melhor, é mais feliz, é melhor pai, melhor marido e melhor diretor.

JdeB – E sua perceptiva para hoje, seu sonho é continuar vivendo aqui perto de onde enterrou o umbigo?

Nelson – Pois é, papai e mamãe estão sepultados aqui no Quibebe. Às vezes eu vou lá e pergunto para a minha mãe, que eu tinha mais interação, e agora, o que eu faço? E ela diz nunca deixa de fazer, nunca deixe de ter sonhos, de ter metas, quanto mais sonhos você tem, mais coisas você vai realizar. Provavelmente eu vou morrer deixando de fazer um monte de coisa, felizmente, isso significa que estou fazendo coisas, que estou me realizando. Você sempre vai mudando o enfoque das coisas, a motivação é forte, mas ela muda de cor, antes é mais pessoal, eu vou buscar as coisas para mim. De repente você vai andando, deixa de ser tão egoísta e vai trabalhando mais para o outro. Agora os objetivos são muitos: a associação dos caminheiros aqui de Beltrão, conto contigo para a gente fazer a coisa certa e bonita, com segurança e criar motivações nas pessoas, o Rotary, a vinicultura, a Abevi, viajar, comprar minha motorhome. Para o ano que vem estou levantando dados para fazer uma boa caminhada na Patagônia, a primeira vez que vou para lá, aí já entra o problema da idade, já tenho que ir mais ao verão, pois lá no verão já é friozinho e no inverno tem que passar por um processo diferente de climatização.

JdeB – Uma pergunta sobre sua família: tempo do Exército que conheceu a Lurdes, como é que foi?

Nelson – A Lurdes tem uma história, eu era seminarista aqui em Beltrão, a gente era coroinha e os juvenistas, os seminaristas iam para a missa todas as manhãs bem cedo e ela morava com a irmã dela, Ítche (Valentina), a mulher do Nino Soranso, ela é irmã da Valentina a ministra, a mãe do Severino Soranso, do Luis.

Lurdes – Você deixe bem claro que eu não desencaminhei você.

Nelson – Eu era seminarista, eu vinha para a missa e ela morava perto, na esquina do Soranso. Ela é irmã da Ítche e mãe do Severino e do Luiz. Ela vinha na missa e me paquerava, e eu não sabia, não conhecia. Aí um dia estava no quartel, final do dia, quando não tinha atividade, eu vinha na missa na concatedral e vi ela. Depois de algumas vezes que a gente se viu, conversamos e começamos a namorar, eu fui para São Paulo noivo e nas férias voltei e a gente casou e estamos junto desde de 1971, 42 anos. Demorávamos muito para ter a nossa filha, vários problemas e primeiro nós queríamos esperar devido a problemas de saúde, mas conseguiu engravidar e a Giovana hoje tem 27 anos, uma família como todas as outras.

JdeB – Família encaminhada a Giovana também?

Nelson – Sim, tocando a vida dela, está feliz, crescendo e aprendendo junto, grande ensinamento que os filhos nos dão. Eu fiz duas faculdades e duas especializações, mas dá para dizer que os grandes ensinamentos quem me deu foi minha filha. Se você tiver a percepção, a sensibilidade à permissão para dizer que eu posso estar errado e você, que é bem mais jovem que eu, está certo.

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