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Francisco Beltrão
quinta-feira, 26 de junho de 2025

Edição 8.233

26/06/2025

“Oi, prazer, pai, sou seu filho!” Pra mim, soa até patético

Geral

Todo mundo nesse mundão gigante de “meu Deus” tem um pai e uma mãe. Não interessa em que circunstâncias, se veio de uma camisinha que estourou, de uma pílula esquecida, de uma bebedeira, se foi planejado e desejado; enfim, seja como for, ninguém é filho de chocadeira. O que muda são as formas de famílias, que se moldam naturalmente. Uma mulher com filhos consuma o segundo casamento com um homem que vem de um histórico de dois divórcios e pronto: a mistureba dá origem a uma família diferente, com filhos de outros relacionamentos e o amor flui. Comigo foi assim e talvez por isso seja tão automático eu acreditar que a convivência diária — leia-se a batalha nossa de cada dia para criar e educar um filho — seja tão igual ou maior que genes e a famosa desculpa de muitos pais ausentes por aí: “é sangue do meu sangue”. Aliás, depois de uma divagação acerca do que considero família de verdade, vou me ater ao tema da coluna: pai presente. Sempre me chamou a atenção, desde a época em que programas de televisão faziam encontros de pais e filhos que não se viam há anos, esse tipo de sentimento. Não imagino como deve ser não conhecer o pai e nem ao menos ter seu sobrenome registrado na certidão de nascimento. Mas o que se sabe é que na esmagadora maioria dos casos, os homens engravidavam as mulheres e simplesmente somem no mundo. Alguns até tentavam se tornar pais com o passar do tempo, mas não suportavam o tranco e abandonavam a criança à mercê da própria sorte. Dali em diante, a história é a mesma (tirando os caminhos que cada pessoa faz na vida): a criança tem dor de cabeça, febre, nascem os primeiros dentes, ela aprende a andar, a falar, cresce, vai pra escola, passa pela adolescência, se mete em confusão, vira homem, constitui família, arranja um emprego e a vida continua. Tudo isso se passou e o pai de sangue não acompanhou, não esteve por perto quando o filho precisou.

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Dia desses vi no Fantástico o quadro “Quem é meu pai?”, que tem a missão de aproximar pais e filhos pelo país afora. Descobri que em Francisco Beltrão, em parceria com a Unioeste e o curso de Direito, a Vara da Família do Fórum também tem essa missão. São inúmeras pessoas que passam anos e anos à procura de um pai que simplesmente sumiu. Refiro-me aqui àqueles que optaram por isso, que não são pais porque não querem. Sinceramente, perdoem-me as pessoas que talvez estejam lendo essa coluna e vivam essa situação, mas não entendo que motivos levam alguém a procurar um desconhecido por anos e anos a fio. Tudo bem, tem a história da árvore genealógica, de onde eu vim, para onde eu vou, que raízes eu tenho, sangue do meu sangue, mas é só. É difícil dizer o que faria se fosse comigo, porém, sei de gente que sabe da condição de adotado (e é bem resolvido) e jamais pensou na hipótese de correr atrás do pai ausente. Acho que eu faria o mesmo. Que pai em sã consciência, sendo uma pessoa de bem, opta por deixar o filho para trás? Não importa se o relacionamento com a mãe deu certo, se tem condições financeiras ou não, nada disso vale mais do que o simples fato de ser pai e querer tê-lo por perto. Imagina passar 30 anos sem pedir um conselho, uma ajuda, bater um papo com o cara que te gerou um dia meio sem querer. Pra que, então, depois de tudo isso, querer o sobrenome na certidão? Há em jogo, óbvio, os direitos da criança (pensão alimentícia e herança), é mais que lei, é sagrado. Mas para essa criança em questão se tornar homem deve ter tido um outro pai por perto, dando apoio, segurança e amor.

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Fato: ter um pai presente vai além de um pai de sangue. Não é questão de ser radical ou orgulhosa. É que depois de anos não acho que nenhum amor a distância se fortaleça. Daí, no reencontro tão esperado, o filho busca o sobrenome tão desejado. O pai ausente, um perdão pra deitar no caixão com a consciência mais leve. Em meu ponto de vista, soa falso, patético. Pai é quem cria.

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