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Francisco Beltrão
sábado, 07 de junho de 2025

Edição 8.221

07/06/2025

Ari Ignácio de Lima

O maior ganhador do Prêmio Amsop

Ari é o segundo de uma família de seis irmãos, todos homens e todos com nome iniciado pela letra A: Avelino, Ari, Adi (o Dídio), Adelino, Altair e Adelmo. Adi trabalha na Fadep; Adelino, que é técnico agrícola, produz leite em Coronel Vivida; Ari é jornalista, os outros três são eletricistas. Não por influência do pai, porque Angelino Ignácio de Lima, seu Gilico, é agricultor, aos 74 anos continua residindo em Coronel Vivida. E a mãe, Conceição Lino Pinheiro de Lima, é a dona Ceiça.O maior ganhador do Prêmio Amsop de Comunicação é um profissional nascido em Coronel Vivida, ex-seminarista que estudou em Santa Maria (RS) e Buenos Aires, capacitou-se em jornalismo pela TV Sudoeste desde 1990 e diplomou-se pela Fadep em 2004.

Ari nasceu dia 2 de agosto de 1965. Até o quarto ano primário estudou nas escolas rurais das linhas Alto Pinhal e Jordani. A partir do 5º ano do ensino fundamental estudou no Colégio Arnaldo Busato de Coronel Vivida, depois ingressou no seminário de Santa Maria (RS). Em 1986, estudou Espiritualidade em Llavalol, cidade da Grande Buenos Aires. Em 87 e 88 voltou a estudar em Santa Maria (Teologia e Filosofia). Ao sair do seminário, iniciou sua vida profissional como comunicador. Começou como operador da Rádio Sobradinho e foi um dos primeiros locutores da rádio Jacuí FM, do mesmo grupo de Sobradinho (RS).

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Em 1990, voltou para o Paraná atendendo a um convite para trabalhar na TV Sudoeste, onde continua até hoje, como coordenador de Jornalismo. Em 1994 conheceu a Rose Amorin, sua esposa desde 1999 e mãe da filha Ariela, que em 15 de outubro deste ano comemorou seus 15 anos.

Em 99, Ari ganhou seu primeiro Prêmio Amsop e de lá para cá sempre esteve entre os premiados, muitas vezes com vários troféus, tanto que em 20 edições já recebeu 28 troféus.

Terça-feira desta semana, no final do expediente da tarde iniciado às 7h da manhã, ainda na TV Sudoeste ele recebeu o Jornal de Beltrão para esta entrevista, que só não segue na íntegra porque faltou espaço.

 

JdeB – Quanto prêmio, Ari! Qual foi o teu primeiro contato com comunicação? Você garoto, interior de Coronel Vivida, como que era a tua infância?

Ari – Eu tinha dois sonhos, na roça, trabalhando sempre com o pai e a mãe, sempre fui tido em casa como o mais moloide pro trabalho, então eu compensava, alguém ia carpindo na frente e eu falava “tô aqui atrás, mas não tem nenhum mato pra trás”. Nós sempre escutávamos rádio, interior não tinha televisão, lá na baixada do Rio Quieto, lá na Linha Jordani, nós não tínhamos televisão, só rádio, e os tios que tocavam gaita. Eu tive assim três sonhos base. O primeiro sonho, quando passei a infância no Alto Pinhal, tinha um asfalto que passou por lá, eu via muito caminhão de porco e eu tinha o sonho de ser motorista de caminhão de porco. Quando nós mudamos pra Linha Borgia, Linha Jordani, aí o desejo de morar na cidade pra estudar e eu passei a ter o sonho de ser charreteiro pra entregar leite, pra não precisar fazer esse trajeto a pé que eu fiz todo tempo do ensino médio. Morar na cidade, como eu vou morar? O que eu sei fazer? Mas tem um cara que entrega leite e precisa de um charreteiro, até fui atrás, mas não deu certo. E o terceiro sonho, que sempre foi premiado nesses dois primeiros, é ser cantor sertanejo ou radialista. Por quê? Porque escutava a rádio, gostava disso e porque os meus tios tocavam violão, gaita. Como sou desafinado, toco um pouco de violão, eu segui o rádio depois de ter passado pelo seminário. Nesse envolvimento de interior, para estudar eu ia cerca de sete quilômetros a pé, inicialmente até a oitava série de dia e da primeira à terceira série à noite. Quanta chuva, quanto barro pra ir pra aula! Foi um período que eu não me arrependo e tenho orgulho em falar, porque a aprendizagem se dá assim – quando é muito de graça, não valoriza. Nesse período todo é que eu fui participando do grupo de jovens, nessa convivência com as comunidades de interior, do culto de domingo. Não tinha igreja na escolinha da comunidade, nós passamos a ajudar, o pai sempre envolvido na diretoria da escola, na diretoria da comunidade, fazendo festas e foi no envolvimento com o grupo de jovens, num encontro em São João, que inclusive naquela época um dos animadores do encontro era o Frei Olivo, que hoje está em Pato Branco, na época jovem, recém-ordenado, e aí no envolvimento, teatro e citação bíblica e vocacionado, eu fui dormir na casa de um colono que produzia leite, próximo a São João. Eu tinha 17 anos, terminando o ensino médio, e à noite eu fui dormir e sonhei com aquela citação bíblica. Quando eu voltei para o encontro domingo, chego lá e um padre que era de Coronel Vivida “e aí, que tal ir pro seminário?”. Comecei a pensar sério a partir daquele encontro. Daí comunicaram os nossos superiores palotinos e mandaram um promotor educacional lá em casa, e de seis meses que faltavam do ano e outro ano já em 84 fui pro seminário, direto na Filosofia, não passei pelo propedêutico, porque o padre acompanhou cerca de seis meses lá em casa, indo lá visitar e conhecendo. Daí fiz Filosofia e Teologia.

 

Padre Olivo?

Não, o Frei Olivo era de Chopinzinho, era franciscano, mas o padre palotino que me acompanhou, que era outro seminário dele, daí eu fui pros palotinos de Santa Maria.

 

E os teus pais, o que disseram quando você falou que ia pro seminário?

Essa é uma coisa que às vezes a gente não vê nos colegas de seminário que eu convivi, esta liberdade total. Muitos vão para o seminário porque o pai obriga. No meu caso, eu tive uma liberdade total, apoio total do pai e a mãe. E quando eu decidi sair, lá na frente, depois, também eles disseram “é isso que você quer?” Nunca interferiram de forma a atrapalhar minha decisão. Agradeço muito por ter essa compreensão dos pais.

E o seminário era aquilo que você imaginava?

Eu acho que até melhor do que eu imaginava. O seminário foi uma grande escola de convivência, de superação de medos que a gente tem, a convivência com grupo. Nós começamos, no meu grupo, com 31 seminaristas que vieram de fora, direto para o seminário, e 10 que vieram de Vale Vêneto, de seminários menores, e esse grande grupo passou a conviver. A gente passou a morar três, quatro cada quarto, e foi muito importante essa convivência, que, além do estudo, tinha espiritualidade, oração, o trabalho no seminário. Eu fui padeiro, eu ajudei cortar lenha, ajudei cuidar e matar porco, um período ajudei a cuidar do pomar, coisas que a gente já fazia em casa, porque na minha família nós somos em seis irmãos homens, nós lavava, nós passava roupa, costurava, e no seminário a gente continuava fazendo isso. O seminário para mim foi muito importante porque eu cresci em todos os aspectos, principalmente intelectual. Eu não fui um grande estudioso, os meus colegas achavam que eu tinha facilidade, até achavam que era um cara diferenciado, mas não, sempre fui normal; não era de estudar muito, mas nas provas eu ia bem sempre, até porque o lema do seminário era Liberdade com responsabilidade. Eles não proibiam você de ir pra boate, a gente fazia trabalho de grupo de jovens e saía com jovens, ia até pra boate, pra baile, e lá que aprendi a dançar inclusive. A gente trazia os jovens pro seminário, fazia os eventos culturais, com apresentação e canto. Aprendi um pouco de violão também e essa relação nunca proibida com a comunidade externa é que fazia o seminário praticamente uma família, não tinha aquela pressão dos seminários antigos.

 

Você tinha certeza que ia ser padre ou não chegou a ter certeza disso?

Nos dois primeiros anos para mim foi uma experiência. Eu não fui aquele cara convicto pra ser padre. Teve colega meu que foi convicto, mas as pessoas que vão muito convictas vão muito bitoladas, chegam lá e não é aquilo que eles querem. Desses 31 de fora, mais dez que vieram do menor, só chegamos no noviciado em 14, eram 12 brasileiros e dois argentinos, e depois do noviciado, já perdemos mais três ou quatro, ficamos em oito, nove. Mais dois anos pra experiência pastoral e desses se ordenaram seis. Eu fui um dos últimos a sair.

 

E a ida pra Argentina, era sequência normal ou foi escolha sua?

Não, dentro dos palotinos – aqui na região nós temos Verê, Itapejara e Coronel Vivida -, a congregação palotina tinha feito um seminário latino-americano em Santa Maria que recebia os seminaristas argentinos, uruguaios e chilenos. No ano em que estava lá, tinha apenas argentinos, os uruguaios e chilenos já não vinham mais. Os argentinos vinham e estudavam no Brasil toda a filosofia e teologia e os brasileiros, como eram em maior número, ficavam um ano lá, o ano de noviciado. Hoje já não se faz mais, hoje faz em Palotina ou Campo Grande, Cascavel. A minha turma foi a última a fazer esse intercâmbio, nós passávamos um ano lá sem vir pra casa, de janeiro a final de dezembro, estudando espiritualidade, cultura, tínhamos um dia livre pra ir pro cinema, pra interagir com as famílias argentinas.

 

Você gostou daquele período na Argentina?

Foi o melhor. Santa Maria foi bom, a Argentina foi ótimo.

 

O que te marcou lá, se você voltar hoje, o que te vem, da região de Buenos Aires?

Eu fiz experiência agora em setembro, depois de 86, dá 27 anos, eu e mais dois colegas da época que também desistiram, voltamos lá para reencontrar os amigos. Foi fantástico, ficamos uma semana lá e faltou agenda para visitar os amigos que fizemos naquela época. Até aconteceu um fato estranho, legal: a Graciela e o Sergio eram noivos na época, espécie de padrinhos da gente, Sergio Dias e Graciela Ranconf, e a gente perdeu um pouco contato, mas as pessoas que nós tínhamos contato ligaram “olha, o Ari, o Paulo, o Luiz estão aqui, vem aqui em casa, vamos marcar, quinta-feira à noite“. Só que eles esperaram nós lá achando que a gente era padre, porque a gente tinha perdido contato, e aí chegamos lá, o jantar pronto, “como é que vocês estão? Trabalham em que paróquia?” Ficamos assim… “nós não somos mais seminaristas“. Dos outros dois eles sabiam que não eram mais seminaristas, porque eles já tinham voltado. Eu não tinha mais voltado lá, mas eles imaginavam que eu fosse padre. Vamos dar a bênção igual, porque todo mundo pode dar bênção, mas não como padre, na hora da refeição. E a gente reestabeleceu a amizade, a gente quer se encontrar agora com as famílias. Mas foi muito bom, porque o que mais marcou foi a amizade.

 

Quando você vê piada de argentino, que brasileiro gosta de contar, chamando eles de arrogantes e tal, como é que você vê?

Eu vejo que tem razão, por conhecer o portenho que é de Buenos Aires realmente. O argentino portenho mesmo é um pouco dona da bola, se acha, mas essas pessoas que a gente conviveu ali, em Llavallol (Javajol), que não fica mais tanto perto do porto, mais influência do interior, são pessoas amáveis, mas aquele portenho mesmo, perto do porto, eles se acham um pouco superiores, mas eu conheço lá e sei que não é o povo argentino, só aqueles da região. O argentino é muito amável, depois de estabelecer amizade, é extremamente fiel, dócil, receptivo, você passa a ser da família.

 

Quando saiu, este ano, o papa argentino, você gostou?

Adorei por isso, porque eu conhecia a comunidade que ele trabalhava lá, sabia que havia um trabalho de base dos padres argentinos, como no Brasil a comunidade eclesial de base, eles adoravam muito a teologia brasileira nessas noções de pobreza, na região onde o então padre trabalhava.

 

Quando você voltou pro Brasil, ficou mais dois anos no seminário em Santa Maria?

Foram os dois anos que a princípio eu tive quase certeza que seria padre, porque voltei do noviciado, um ano longe da família, eu comecei a sentir necessidade de refletir e pensar outras coisas. Até que na transição, no primeiro ano, em 87, foi o ano em que eu mais estudei, que mais me aprofundei no estudo de Filosofia e Teologia e em 88 que eu comecei a sentir necessidade de outras experiências. E como eu já tava se “abisminhando“, o ano de experiência pastoral, porque em 89 saí no ano de experiência pra voltar em 90 pra encerrar os estudos e ser padre, o que aconteceu com meu colegas, e eu saí no final de 88, no ano de experiência, mas não saí oficialmente para experiência, eu saí já do seminário, mas experiência de comunicação no rádio, de necessidade também de mulher, não escondo de ninguém, foi necessidade também afetiva.

 

Isso pesou muito na tua decisão?

Bastante. Pesou bastante o celibato.

 

Foi o que mais pesou?

Não, o que mais pesou foi a necessidade de experiência diferente, porque eu saí da roça e fui para o seminário, e aí, conversando com grupo de jovens, amigos, eu tinha muita amizade com juventude, não só com os seminaristas, eu fui do grêmio DCE da Filosofia e, embora estudasse fora, nós pertencíamos ao DCE de Filosofia da universidade, e eu sempre ia muito nos encontros de estudantes DCE, participei inclusive de um congresso da UNE em Campinas, e nessa experiência com a juventude externa eu sentia necessidade de ter uma vida mais fora da igreja e isso pesou mais, mas a experiência com mulher pesou bastante também, não nego isso.

O Prêmio Amsop tem que ter todo ano

 
Ari Ignácio de Lima, no dia desta entrevista: “Como eu sempre me
identifiquei com a profissão, como sempre fiz o que gostei, eu nunca
cansei”.

JdeB – Como é que foi tua decisão de sair do seminário?

Ari – Quando decidi sair, eu falei “quero fazer aquilo que eu sempre pensei, comunicação”. Em Sobradinho estava abrindo uma rádio FM, tinha uma rádio pra cinco municípios, ao contrário que aqui tem municípios com três, quatro (…). Era uma rádio com potencial muito grande. Aí o Paulo Ceretta, que é meu amigo até hoje, tinha um irmão dele, o Video, piazão novo que acabou falecendo com câncer, 30 anos, estava na rádio, aí fui a Sobradinho, ainda no final de 88, falar com o diretor da rádio, tido como um senhor sério. Conversei com ele, ele me escutou e falou “Ari, não quero mais pegar ninguém de fora, eu quero formar gente daqui, mas como você tem uma formação de seminário, é amigo do Ceretta, que é gente boa… Tua voz é ótima pro rádio, tem um vozerão. Então vou dar uma experiência para você aqui, você começa como operador na rádio AM e vai fazendo experiência pra locução, depois eu quero você na FM, quando inaugurar daqui uns seis, sete meses. Mas você tem que fazer uma coisa, se feche no estúdio a noite inteira e perca esse sotaque de padre, porque isso é teu problema“. Convivendo com padre, fica com a voz reflexiva. Nunca esqueço, e realmente eu fiz isso. Como eu morava sozinho, longe de casa, só tinha a família Ceretta, que passei a morar na casa deles, é uma segunda família pra mim até hoje, então à noite eu ficava na rádio, fechava o estúdio e dele gravar texto, mostrava e corrigia. Aí passei de sonoplasta e comecei a fazer notícia na AM. Quando inaugurou a FM, inaugurei um programa de sertanejo das sete às oito da manhã, e das oito às nove gaúcha e à tarde ao contrário, da cinco às seis sertanejo e das seis às sete gaúcho, e foi um programa que logo se tornou líder de audiência, pelo gênero, né. Na época, naquela região, foi novidade ter sertanejo e gaúcho em FM. Novidade também era a própria FM, mas foi bom. Quando eu vim nas primeiras férias pra cá, estava esperando o ônibus em Pato Branco, fui conhecer a (Rádio) Celinauta. Na infância escutava muito, venho hoje apresentando um programa gaúcho, gosto do tradicionalismo porque naquele período, enquanto morava em Coronel Vivida, escutava Celinauta, um programa Potreiro de Guacho, que hoje tem na Onda Sul também, esse nome que vem da Celinauta, com Agostinho Barronuevo e com o Luiz Moraes, cantor que fazia à tarde, aos sábados, e o gosto por poesia gaúcha, escutava muito o Jaime Caetano Braun, varrendo o terreiro e escutando Celinauta.

 

Limpava o terreiro no sábado à tarde escutando Celinauta.

É. Eu pegava o ônibus pra Santa Maria e depois Sobradinho, falei vou conhecer a rádio. Subi aqui, a Cleuda, que hoje é minha colega, tava na portaria e disse “vou chamar o frei Lindolfo Schmidt” – ele faleceu num acidente de avião em Santa Catarina, naquela época ele cuidava da parte técnica aqui – e enquanto esperava pra falar com o Frei Nelson, ele me trouxe aqui em cima conhecer a televisão, inclusive no corredor encontrei o Itamar Pereira, trabalhava na televisão e aquele jeito dele “prazer, venha pra cá, vem trabalhar com nós“. “Não vim pra trabalhar, vim pra conhecer“. Voltei lá em baixo, falei com o Frei Nelson “você anotou meu telefone de lá?” Isso foi lá por abril. Em junho, julho, a moça da portaria “tem uma ligação de Pato Branco“. Já levei um susto, Pato Branco, pra quem mora em Coronel, era sinônimo de doença. No telefone a característica “Frei Nelson falando”. Falei “pronto, morreu alguém, se o frei tá falando comigo”. “Tem algumas férias? Preciso falar contigo”. “Tenho férias, mas o que era, frei?”. E ele: “Surgiu uma vaga aqui na rádio”. Aí eu vim pra cá, acertamos que era pra vir pro rádio, aí voltei e quando falei pro João, ele entrou em desespero. “Bá, falei pra você que não pegava ninguém de fora por isso, quando você tá perdendo o sotaque de padre e começou ficar bom, você vai embora…” Falei “mas, João, veja bem, perto da minha família, tem uma empresa forte lá”. Aí combinamos que eu ia sair, dei os trinta, dois dias depois eu tô no ar na Jacuí FM, toca o telefone, o João: “Ari, tô te escutando aqui em casa, não tem como você repensar isso? Agora que você tá bom!” Vim pra cá, comecei 1° de agosto de 1990 aqui na televisão. Vim pra ser pro rádio, mas naquele período tinha uma menina que era jornalista que estava saindo, e o frei, eu usava cabelo comprido, ele me chamou lá, e eu tinha caído de moto antes de vir pra cá, tava com o ombro amarrado. Ele “Ari, tem que cortar esse cabelo, porque você vai pra televisão”. “Mas não sei televisão.” “Mas você aprende.” E aí, com o cabelo comprido, fui fazer uma reportagem na Associação Comercial. Me lembro até hoje que era a segunda reportagem. A primeira foi com um chileno, que veio dar um curso de teatro, e acho que impressionei os câmeras, que tavam comigo. Na época tinha câmera e o cara que apertava o VT, duas pessoas, e o cara era chileno e eu cheguei pra fazer a entrevista e falei espanhol fluentemente, daí os cara “pô, esse repórter novo aí mata a pau, porque ele fala até espanhol”. O seminário também foi importante pra isso. Depois na televisão comecei a fazer reportagem, depois fui pro Jornal da Manhã, tinha o Sudoeste em Destaque, Sudoeste Sete Horas, daí fui pro meio-dia e voltei pra noite e tô até hoje de meio-dia.

 

Passado o seminário, você entrou na atividade profissional, aí vieram duas coisas, o teu casamento e o Prêmio Amsop. O que começou antes?

O casamento foi antes que o primeiro prêmio. A gente se conheceu em 94, teve um período importante na vida que é bom salientar, que às vezes o seminarista sai do seminário e logo casa, o padre deixa e logo casa, e às vezes dificilmente dá certo. Entre sair do seminário e me envolver definitivamente tive um período de cinco anos. Nesse período tive experiência de namoro, paquera e tal, acho que foi importante no amadurecimento afetivo também, pra quem viveu cinco anos praticamente fechado. E aí logo a gente passou a morar junto em função da Ariela, e uma experiência de ser pai é única. Ariela é tudo, a gente vive pra ela, e passar a morar junto, dividir, uma esposa que trabalha, que não fica em casa, nos dias atuais que seria mais cômodo você ter uma mulher em casa, cozinhando ou cuidando da filha, nós não, desde os onze meses a Ariela vai pra escola, e tem a parte negativa, que é estar distante praticamente todo o dia, só ver ela à noite, mas tem o lado também que ela amadureceu. Como é filha única, foi importante conviver na escola, esse é o ponto positivo.

 

Antes do Prêmio Amsop veio o curso de Jornalismo.

Na verdade foi assim: quando cheguei pro Frei Nelson, uma pessoa muito de visão, ele disse “Ari, se provisione, faça coisa legal”. Eu tinha feito um curso na Fundação Landel de Moura, em Porto Alegre, sempre participei de congressos de jornalismo.

 

Como foi o 1º Prêmio Amsop?

Foi emocionante, porque você estava no meio de pessoas, cobras da comunicação, e depois vieram outras experiências, porque eu tive a experiência com o jornal, inclusive ganhei um primeiro lugar pelo Jornal de Pato Branco, com o Adriano (Oltramari). Pra mim foi muito marcante porque a televisão vai deixando a gente um pouco preguiçoso em termos de texto, tem que fazer textos enxutos, você sintetiza tudo, aquela experiência do jornal foi muito positiva. Era a possibilidade que tinha de ganhar mais de um prêmio na mesma categoria, depois mudou, permitia trabalhar mais de um tema na mesma matéria, também mudou, então teve tempo de ganhar cinco prêmios. Ganhei quatro de novo este ano, até com foto eu ganhei este ano, que uma das minhas paixões é imagem. Se eu começasse hoje, acho que seria cinegrafista e fotógrafo.

 

Tem prefeitos falando em fazer a cada dois anos, outros nem querem fazer, o que você diz do Prêmio Amsop?

Acho que tem que ter todo ano. O Prêmio Amsop já se falou em recorde de inscrições, mas acho que já teve outro ano antes com mais de duzentos também, e se fazia todo ano. Como os prefeitos dizem, é valorizar a imprensa e eles vão sair ganhando com isso, porque estimula a produção de matéria de interesse do tema que eles definirem. E pra mim ter ganho tantos prêmios assim, 28 ao todo, pra mim é muito gratificante, porque diz que a gente está no rumo certo. Ganhar prêmios, estar entre os primeiros, com um trabalho produzido na nossa região, diz que a gente está no caminho certo do ponto jornalístico, diz que a região está evoluindo, porque são temas da região e também faz com que a gente mude pra produzir cada vez melhor. Nós temos uma imprensa muito boa na região.

 

Qual o tipo de matéria que você mais gosta de fazer?

Sou um pouco generalista, mas o que mais me estimula pra fazer é ligado à agropecuária e meio ambiente, por ter essa relação muito próxima, se criar na roça.

 

De todas as repostagens que você fez que deram prêmio, qual ou quais são as que você mais gostou de ter feito?

Eu gostei muito de fazer uma matéria em Ampere sobre um projeto de recuperação das fontes. Eu fui entrevistar um senhor que me levou lá numa fonte que ele plantou jabuticaba, plantas nativas e que a senhora e ele me diziam assim “olha aqui, a água não corria mais e hoje tá correndo, aqui não tinha mais bem-te-vi, não tinha mais tucano, agora tem“. E era uma região que você percebia que a água nascia purinha, cristalina do chão. Às vezes os gestores não sabem o poder do alcance de um simples gesto não custa caro proteger o rio, é só criar uma lei e pronto. Vai ter algum e outro agricultor que não vai querer perder uns metros de terra, mas é esse tipo de matéria que marca, porque alguém que foi criado na cultura de destruir, que a terra valia mais se tivesse derrubado toda árvore, e de repente ele percebe, com aquela idade, um senhor já aposentado. O projeto era em Ampere, mas ele morava em Santa Izabel, o rio nasce lá e tinha essa visão muito clara que a ação dele fez o meio ambiente ficar melhor.

 

E o esporte na tua vida?

O futebol, colorado, eu sinto uma saudade imensa de jogar bola, faz uns oito, dez anos que eu não posso mais jogar bola em função de duas cirurgias no joelho, por isso também aumentei de peso, hoje estou indo na hidro pra tentar emagrecer, e academia.

 

Como que era o dia a dia de quando você chegou e agora?

Naquela época era bem mais tranquilo. Primeiro eu era só repórter, mas como eu sempre me identifiquei com a profissão, como sempre fiz o que gostei, eu nunca cansei. Depois eu passei a apresentar, aí já começou a exigir um pouco mais. No fundo eu preferia mais rua do que interno. Depois veio a coordenação do Jornalismo, aí eu saí novamente só pra externo, nos últimos seis eu estou na coordenação interna, mas eu também não deixei de fazer rua. Agora pouco eu estava numa reportagem externa, final de semana eu fico de plantão, durante a semana tem uma escala, uma vez por mês eu pego final de semana, uma vez por semana eu pego uma noite de plantão. A condição de coordenador não me deixa diferente dos demais, porque se eu sou coordenador e faço, outro também se sente na obrigação de ir e às vezes se falta câmera eu faço, faço imagem. Inclusive, a matéria que eu tirei terceiro lugar este ano em televisão especial, eu produzi imagem com a minha câmera fotográfica, só contei com o apoio do colega pra editar. A passagem, eu coloquei a câmera no tripé, lá na universidade, aliás, sem ser hipócrita, ficar entre os primeiros é bom, mas eu achei que essa reportagem poderia ficar melhor que terceiro lugar. Foi benfeitinha, os critérios jornalísticos. Os jurados sabem o que fazem também. Mas assim, peguei o tripé, coloquei lá, fiz a passagem, a câmera você pode virar o visor, pode se ver se o cabelo tá bom, fiz essa reportagem assim.

 

Cem por cento tua.

Só a edição de imagem que não. A de texto sim, a gente que define o que vai. Então, se não gostasse do que eu faço, se não fosse a minha vocação, eu não estaria mais, porque o trabalho é muito puxado. Hoje tem a coordenação de Jornalismo, faço o programa Raízes, que é uma coisa que adoro, ando a cavalo, vou pra cavalgada pra gravar o programa porque gosto também. Tem o Sudoeste em Destaque, entrevista de prefeito ou temas do dia, e a reportagem e o jornal diário também, que eu faço ao meio-dia. Com tranquilidade, eu não venho pro trabalho, venho praticamente todo dia pra um lazer. Já tenho vinte e três anos aqui mais dois lá, vinte e cinco anos de profissão, não cansa porque faço o que gosto.

 

E os teus pais, sobra tempo pra visitá-los?

Quando eu posso, eu tô dando um pulo em Coronel Vivida, seu Gilico e dona Ceiça, os apelidos deles, estão bem de saúde, o pai com 74 e a mãe com 72 anos, e a gente com os irmãos, nas festas principais estamos lá no bosque do seu Gilico, a gente se encontra lá pra assar uma carne e pra jogar baralho, tocar gaita e violão com os tios. Só tem um problema daqui pra Coronel Vivida, a gente nunca foi de exagerar, mas hoje nem um traguinho de cerveja dá pra tomar lá pra voltar pra casa, porque se a Polícia Federal pegar, é um problema.

 

Já te pegaram alguma vez?

Mas nesse dia eu não tinha tomado. Tive que fazer o bafômetro, mas não tinha tomado, graças a Deus. Aliás, tem uma vantagem, quando eu vou para Coronel Vivida e eu vou tomar, a minha esposa dirige. Já tem meu irmão que a mulher não dirige, daí tem esse problema, não pode tomar.

 

Você tem outra paixão também, que é o sítio.

Tem, graças a Deus, eu, com muito sacrifício, comprei um sitiozinho. Sempre que posso, eu tô lá, adaptando estrebaria para uma área de festa, cuidando da horta, tem um cavalo, e nem que seja pra ir lá sentar na varanda, tocar um violão desafinado, tomar uma cachaça pura, que meu vizinho tem alambique, ele produz e cuida a casa pra mim. Quando chego lá, se termino a minha garrafa, ele enche de novo, não com exagero, mas sentado na área pita um palheiro. Não fumo, mas lá um palheiro vai bem. Às vezes eu durmo lá, dá vinte quilômetros, é tranquilo. É uma paixão que, se eu puder, sempre digo pra Rose “vamos nos programar enquanto a gente tem saúde pra ir morar no sítio, não pra depois de velho, não poder fazer nada”. Eu gosto de viajar também, mas o sítio é a paixão, tem família, trabalho e sítio.

 

Pato Branco e região, como é esse nosso povo?

O sudoestino é primeiro com essa visão de povo trabalhador, que vem com a cultura europeia, alemães e italianos, portugueses também, essa mistura das etnias que formou o sudoestino é que criou um ser trabalhador, receptivo, acolhedor, afetivo e empreendedor, esses adjetivos cabem bem no sudoestino. Na política eu vejo uma dicotomia, nós falamos que elegemos bastante e é verdade, nós somos politizados e o fato de eleger me parece importante, agora a dicotomia por quê? Aí é que se a gente elege bastante e tem bastante representante, por que nós não temos todas as conquistas que sonhamos? Os nossos parlamentares são ineficientes ou eles passam a negociar o interesse do partido e não da região? É esse questionamento que me faço: se elegemos bem, elegemos, mas por que esses eleitos se são a maior parte que, será que só a população que nós somos, nós somos poucos mesmo. Talvez seja isso. (Mais Ari na página 5).

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