Gran Torino
Sei que já escrevi sobre Gran Torino nessas miseráveis linhas, mas acabei de ler a biografia de Clint Eastwood e não pude resistir. À luz de novas informações, a produção ganha mais significado para a carreira do ator/diretor/produtor/compositor/reprodutor.
Eastwood sempre teve uma relação difícil com os críticos e a Academia (responsável pelo Oscar). Só foi conciliar bilheteria com elogios e prêmios com “Os Imperdoáveis”, em 1992, e “Menina de Ouro”, 2004. Contudo, depois de conquistar quatro estatuetas – duas como diretor e duas como produtor (melhor filme) -, “Gran Torino” foi o último esforço de ser reconhecido como ator. Não conseguiu, mas foi injusto.
É difícil não olhar para o protagonista Walt Kowalski e não ver o Homem Sem Nome, Dirty Harry Callahan e William Muny. Clint parece contar aqui a aposentadoria de seus mais icônicos personagens. Enquanto os anteriores eram os gatilhos mais rápidos do Oeste ou de San Francisco, o velho operário é a língua mais afiada de Michigan. Vovô Walt não mede as palavras, “dá nos dedos” de qualquer um, pode ser filho, vizinho ou padre. Acredito que Eastwood viu um pouco de si nessa história.
Kowalski é veterano da Guerra da Coreia, trabalhou na fábrica da Ford, tem um belíssimo Gran Torino 1972 verde e dourado, mora no subúrbio dominado por imigrantes asiáticos, onde mantém um impecável gramado na frente de sua casa, obviamente ornada com a bandeira norte-americana na varanda, e acaba de enterrar sua esposa.
Logo no velório fica evidente o notório mau humor do velho ranzinza, que não tem traquejo nenhum, principalmente com os filhos e netos. Esses também não ajudam. Nitidamente estão mais preocupados com os bens de Walt e as responsabilidades que sua senilidade possa trazer do que com o que ele pensa. Chega ser engraçada a cara que Kowalski faz quando seus netos entram na igreja para o velório da avó, zombando do Sinal da Cruz. Sabe aquela fisionomia fechada, de mau e cruel que só Eastwood consegue fazer, rosnando como um cão importunado enquanto rói um osso?
Apesar de querer viver só – coisa que um jovem padre não permite, ao insistir numa confissão -, ele se envolve com seus vizinhos Hmong, a contragosto, é claro, mas logo percebe que tem mais em comum com os orientais, que tanto despreza, que com sua própria família. Agora, Kowalski tem que enfrentar uma gangue e ensinar o jovem Thao a ser homem.
O filme é uma obra-prima, assim como o Gran Torino 1972, que todos querem comprar, herdar ou roubar.
Direção: Clint Eastwood
Roteiro: Dave Johannson, Nick Schenk
Elenco: Clint Eastwood, Bee Vang, Ahney Her, Christopher Carley, Elvis Thao, Doua Moua, Cory Hardrict, Dreama Walker, Geraldine Hughes, John Carroll Lynch, Brian Haley, Scott Eastwood, Choua Kue, Brooke Chia Thao, Brian Howe
Produção: Bill Gerber, Clint Eastwood, Robert Lorenz
Fotografia: Tom Stern
Trilha Sonora: Kyle Eastwood, Michael Stevens
Duração: 117 min.
Orçamento: US$ 33 milhões
Classificação: 14 anos