A OMS diz que o período da adolescência vai dos 10 aos 20 anos, o ECA, dos 12 aos 18, mas psicólogo
Um dos costumes da adolescência, apesar da idade, ainda permanece.
A hora do Play Station é sagrada. “E isso não significa que sou adolescente? Ou sim?”, pergunta.
Quem tem filho adolescente em casa, sabe entender como funciona a cabeça de meninos e meninas nessa fase cheia de mudanças no corpo e na mente. É a fase dos porquês, das turbulências, das descobertas. Mas será que é possível definir exatamente em que idade se inicia e termina a adolescência? Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), são chamadas de adolescentes pessoas que têm entre 10 e 20 anos incompletos. Para o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é dos 12 aos 18 anos. No entanto, a psicóloga beltronense Franciele Franzoni Melati afirma que a idade é um mero detalhe. “O que vale para definir a adolescência ou a idade adulta são os comportamentos”, declara.
Pensamento bem diferente têm os psicólogos britânicos especializados no tratamento de jovens. Eles estão decidindo que a adolescência vai até os 25 anos. A ideia é que esse período não vá até os 18 anos, como estava previsto, e a decisão tem justificativa, por incrível que pareça. “A ideia de que, de repente, aos 18 anos a pessoa já é adulta não é bem verdade”, disse à BBC a psicóloga infantil Laverne Antrobus, que trabalha na Clínica Tavistock, em Londres. “Minha experiência com jovens é de que eles ainda precisam de muito apoio e ajuda além dessa idade.”
Para os psicólogos de Londres, a mudança da fase da adolescência para a vida adulta deve ser gradativa e melhor acompanhada. Eles dizem, ainda, que essa mudança pode ajudar a garantir que quando os jovens atinjam a idade de 18 anos, não caiam nas lacunas do sistema de saúde e educação. “Se com 18 não se é mais adolescente, mas nem adulto, pode ser que essas pessoas não estejam preparadas para alcançar a maturidade emocional, e os problemas e dilemas entrem em ação.”
Maioridade aos 18
Levantado o tema nas redes sociais, a reportagem recebeu vários depoimentos. Alguns internautas até não acreditaram no que liam e escreveram coisas do tipo: “ninguém merece”, “que palhaçada é essa?”. O fotógrafo Eduardo Tomasi, de Pato Branco, atualmente reside em Buenos Aires, na Argentina, e afirma que, pra ele, adolescência vai até os 18 anos. “A partir disso já possui maioridade, portanto é adulto.” Contudo, Eduardo fez questão de ressaltar que ser adulto não significa ter total discernimento para certos assuntos: “Ou seja, tem adulto com cabeça de adolescente e vice-versa”.
A advogada beltronense Giuzeila Machado Watte não se considera radical em suas opiniões, especialmente no que diz respeito a pessoas e comportamentos. “Tudo é muito subjetivo nessa área e nem sou profissional especializada para entender.” Mas, sobre a questão da adolescência até os 25 anos, ela foi direta: “Parece piada. Estamos lutando pela maioridade penal aos 16, o voto já é permitido a partir dos 16 e a carteira de habilitação é possível aos 18 anos. Tudo isso subentende que a pessoa já tem capacidade suficiente para gerir seus atos em todos os aspectos, o que por certo um adolescente não o faz.”
Para Giuzeila, aos 25 anos grande parte das pessoas já possui famílias constituídas, são profissionais formados e estão inseridos no mercado de trabalho. “Não vejo nenhum aspecto em que possa ser sustentada referida tese”, argumenta.
Idade define responsabilidade?
A declaração dos profissionais londrinos pode não passar de especulações, mas a polêmica sobre se a idade é fator determinante reacendeu. Segundo a consultora empresarial e colunista do Jornal de Beltrão Melissa Faust, maturidade não está totalmente associada à idade, mas “às experiências que a pessoa passou e a lição que tirou delas”.
Conforme Melissa, o fato das pessoas demorarem mais para deixar a casa dos pais pode ter contribuído para estender a adolescência. A consultora ainda levanta a questão: “Afinal, qual o conceito de adolescência? Sempre achei que fosse uma fase de transformações, em que a gente deixa de ser criança e passa por uma confusão de ideias, hormônios e responsabilidades. O tempo que vai levar para se decidir é um detalhe, e não determinante”.
