aliança
Coisa muito comum e na maioria das vezes pouco ética, o fim de relacionamento afeta somente dois tipos de pessoas: as que já passaram por isso e as que ainda vão passar. As pessoas se deixam por vários motivos, mas principalmente porque se enchem uma da outra, criam muitas expectativas ou se empolgam pra teatralizar uma relação mais pros outros que pra si. São os tempos líquidos de que o velho Bauman fala e que nesta física de formas e temporalidades fazem evaporar um monte de coisas. Vale tudo pelo momento; quase nada para qualquer coisa que se solidifique, seja em nossas relações humanas, divinas ou materiais. É algo pra se pensar nesse dia dos namorados e separados. O exemplo é aquele colega de estudos e bodega que após duas semanas de apresentação e nenhum coito já queria conhecer os pais, programar a viagem de férias, o nome dos filhos e mandava declarações de amor infinito no Facebook – e na linha do tempo, não inbox. Explicitar namoro em rede social tem mais valor para fins jurídicos que uma união estável registrada em cartório. Antes de virar a lua, voltou à condição de solteiro na vida virtual e real. Talvez tudo isso esteja ligado a essa nossa expectativa em não passar a vida sozinho ou ao medo de envelhecer cercado de gatos – o que não é de todo mal, pois muita gente quer isso mesmo da vida e, enquanto não pagarmos suas contas, não temos que dar pitaco. “Namoro com muita melação não dura”, dizia minha vó muito antes de qualquer alemão filosofar sobre esses tempos em que comprar o kit de erva-doce da Avon à vista é mais garantido que parcelar o par de alianças no cartão: o namoro às vezes acaba e a conta fica.