
recorrentes inundações do córrego Progresso.
Somente os carros do Corpo de Bombeiros passavam pela Avenida Guiomar Lopes, no bairro São Miguel de Francisco Beltrão, ontem de manhã. Às 9h, moradores dos bairros Cristo Rei e, sobretudo, São Miguel fecharam a via como forma de protesto por medidas que previnam as enchentes nos arredores dos córregos Progresso e Lambari, dois dos locais mais afetados pelas inundações no início deste mês.
Com uma série de reivindicações, como limpeza frequente do leito dos córregos, canalização e asfaltamento da Avenida Progresso – marginal ao córrego -, os manifestantes aguardavam a presença do prefeito Antonio Cantelmo Neto (PMDB), que não apareceu.
A partir desse horário, líderes da mobilização decidiram, com o intuito de dar mais visibilidade ao ato, fechar a esquina da Rua Getúlio Vargas com a Avenida Guiomar Lopes. “Estamos cansados de levar abaixo-assinado e pedidos dos moradores para tomarem alguma providência nesse córrego”, desabafou Willian Lunkes, 24, um dos organizadores. Segundo o mecânico, os ribeirinhos ao córrego Progresso já se dispuseram a ajudar no custeio da pavimentação da avenida, algo que vem se arrastando há anos. Outra reclamação é a suposta falta de interesse da administração municipal em atender os moradores, que formaram uma comissão e visitaram a Prefeitura durante a semana, mas, segundo eles, não foram recebidos pelos representantes do executivo municipal.
Outra reclamação, agora com relação à atuação da Assistência Social, era de que roupas, móveis e outros utensílios domésticos, que foram arrecadados por entidades e doados por empresas beltronenses, não foram repassadas aos atingidos pelas águas. “As roupas que o pessoal arrecadou, não entregaram pra gente”, afirmou a diarista Maria de Lurdes, 46. Segundo ela, empresários doaram fogões e móveis novos, mas “sumiram da noite para o dia”.
Outro lado
Por telefone, o prefeito Neto conversou com o Jornal de Beltrão e qualificou a ação como “desnecessária”. “O poder público, através das suas diversas secretarias, deu todo apoio aos afetados pelas inundações”, declarou. Sobre as reivindicações, Neto admitiu que o córrego Progresso “foi o único que faltou ser limpo”, mas que isso não impediria a enchente.
Da mesma forma, ele contestou o pedido pela canalização dos córregos. “Tecnicamente, só isso [a canalização] não basta. Esse é um problema no deságue da água dos córregos no Rio Marrecas que só os engenheiros poderão solucionar”, disse.
Sobre o possível “sumiço” dos itens doados aos desabrigados e desalojados, o chefe do executivo classificou como “informação leviana” e assegurou ter documentos que comprovam o repasse dos itens às vítimas.
Até mais de uma enchente por ano
Trabalhar para suprir a possível perda de bens dentro de casa. Essa é a rotina anual de alguns dos habitantes da região. Mestre de obras e morador da Avenida Progresso há quatro anos, o mestre de obras Oneide de Oliveira conta que, em quatro anos, foi atingido por quatro enchentes. “Em um desses anos foram duas enchentes seguidas!”, diz, indignado.
Há cerca de 20 anos morando no bairro, a pensionista Selmira Marcon, 62, afirma que, quando eram feitas limpezas frequentes no leito dos córregos, problemas graves de inundações praticamente desapareceram. “Não fui atingida pela enchente, mas quero participar, pois quando limpavam o rio ficou 11 anos sem uma enchente. A prefeitura precisa voltar a fazer isso e começar a multar quem joga lixo ali”, aponta.
Falta de projetos
De acordo com o vereador Valmir Dile Tonello (PMN), o Legislativo encaminhou requerimento e duas indicações de obras para os córregos Progresso e Lambari. A casa também pediu mil tubos para canalização ao Instituto das Águas do Paraná, no entanto, “faltou a prefeitura enviar o projeto da obra” ao órgão. Marmeleiro e Salgado Filho, por exemplo, foram dois dos municípios que já receberam o material. A reportagem do JdeB tentou contato com a Secretaria de Planejamento, mas não obteve sucesso.