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Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Anildomá, doutor em Lampião, o rei do cangaço

Anildomá

Lá por 2000 estive em Serra Talhada, sertão de Pernambuco, recebido pelo cangaceirólogo Anildomá Willians de Souza, casado com Cleonice Maria, pai de Saulo Alexandre, Simão Pedro, Karl Marx e Sandino Lamarca, o que basta para demonstrar sua orientação ideológica…
Hoje, Domá é um dos maiores entendidos em Lampião em todo o Nordeste. Rodei com Anildomá pelo interior de Serra Talhada, passei horas em sua casa-museu haurindo um pouco de sua sabedoria sertaneja e de sua imensa coleção de livros, fotos, fitas, músicas, indumentária, tudo ligado ao cangaço. 
Anildomá lutava para erigir uma estátua e até um memorial a Lampião, mas havia muita resistência. Não sei se hoje a Igreja e o governo estão mais simpáticos a Lampião. Até bem pouco, Anildomá era secretário de Cultura de Serra Talhada e ganhava uns trocos com seu Conjunto de Xaxado Cabras de Lampião, em que participa parte de sua família. Lutou para transformar o sítio onde nasceu Lampião em verdadeiro centro de romarias ao mito (que não matava gente pobre…).
Verdadeira enciclopédia do Cangaço, Anildomá é convidado pelo mundo sertanejo e lampiônico para falar de seu ídolo. Autor de vários livros sobre Lampião, entre eles “Lampião, a história – nem herói nem bandido”(2006), “Lampião, o comandante das caatingas (2002), “Nas pegadas de Lampião”(2004). Uma conversa com Anildomá convence o mais empedernido dos inimigos de Lampião a seu fã, que passa a tê-lo como guerrilheiro da caatinga, líder de massa, justiceiro dos carrascais, inimigo dos coronéis de engenho e profeta com cartucheira e punhal do Sertão… 
Não sei se me esqueci de lhe perguntar se ele conheceu bem o rei do baião Luiz Gonzaga, que fui, em vão, visitar no Exu, mas ele não estava lá. Fiquei na fazenda de dona Ita, perto da Caiçara, onde nasceu Gonzagão. Lampião deve ter aprontado das suas no Exu, que fica mais a oeste de Serra Talhada, bem perto do Crato e de Juazeiro do Norte. Pelo que sei, não há, no Nordeste inteiro, nenhuma estátua dedicada a Lampião. Como há, hoje, fanáticos de certas seitas que perseguem o pessoal do candomblé, há também – e pior ainda – os que têm ojeriza aos fãs de Lampião, que fazia justiça à bala, percorria o Sertão matando senhor de engenho e “macaco” (policial).
Assimilado como figura da cultura popular, em sua raiz mais legítima, Lampião e o Cangaço podem conviver com a civilização e até receber verbas para sua apresentação em forma de espetáculo circense, teatral e musical. O Cangaço, com seu gibão, perneira, chapéu de couro e peixeira na cinta, lembrava o cabra macho, figura hoje da literatura, foi bem representado por Gonzagão, que subia nos palanques sem agredir, sem reproduzir os atos de violência de seu ídolo Lampião. Pode parecer paradoxal, mas em 500 anos, por falta de heróis, Lampião pode ser alçado ao panteão de heróis nacionais e um Eduardo Cunha será lixo histórico da Pátria.

1 COMENTÁRIO

  1. Boa noite.
    Existe estátua de Lampião e Maria Bonita em Canindé de São Francisc, Sergipe. Fica na beira do rio São Francisco, de frente a Hidrelétrica de Xingó.

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