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Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

Melancias quentes

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Nesta semana ouvi pela primeira vez uma gíria que, depois de entender o significado, achei engraçada. “Está tipo melancia quente”, disse uma das meninas da CDL, logo após receber uma ligação de alguém que ouviu informações pela metade, fez um raciocínio equivocado e ligou imediatamente para a entidade a fim de tirar satisfações. Tipo melancia quente? Só compreendi quando ouvi o complemento “pronta pra fazer mal”. A piada se baseia no raciocínio de que fruta quente faz mal, causa indigestão. E a melancia, ao menos na crença popular, não falha: quando quente, é uma bomba camuflada de fruta.

E se a gente for pensar, há de concordar que o mundo está cheio de melancias quentes. Gente pronta pra fazer mal, pra azedar, pra ver defeito em tudo, pra derrubar os outros, teorizar sobre o que não sabe, não conhece. Como curioso do marketing, do jornalismo e da comunicação voltada aos processos empresariais, tenho o dever de defender que organizações e profissionais estejam abertos a críticas, que saibam aproveitar aquilo que o cliente, o colega, tem a dizer. Alguém já escreveu que a crítica é uma consultoria gratuita que a empresa recebe. E isso é a mais pura verdade. Precisamos ouvir e tirar proveito, entender, aprender e tomar providências pra resolver. Mas é preciso reconhecer: se não é fácil digerir de imediato nem as críticas que fazem sentido, que podem melhorar o desempenho pessoal ou da empresa, é natural que tenhamos imensa dificuldade pra engolir os raciocínios insensatos e ignorantes. Quando nos deparamos com um prato destes, por educação, obrigação ou falta de outra alternativa, a gente se esforça pra engolir sem demonstrar os estragos. Mas o fato é que não desce fácil, é caroço ácido e espinhoso que enrosca na garganta e, quando desce, repousa no estômago com a leveza de um tijolo. Mal fomos preparados para a crítica, que dirá para o desaforo.

E não tem jeito, as melancias quentes surgem via telefone, ao vivo e, atualmente, brotam no mais fértil dos terrenos, a internet. Sim, a mesma internet que aproxima clientes e empresas, pessoas e pessoas, também dá espaço para azedos, para as frutas que não veem a hora de colocar pra fora a substância corrosiva de que estão cheias. Quem vive o jornalismo um pouco mais de perto, sabe que é uma das áreas que mais se beneficiam e, ao mesmo tempo, mais engolem tijolos via internet. Se beneficia porque consegue dar mais visibilidade ao trabalho, ter mais alcance; sofre porque tem de engolir comentários muitas vezes infantis, de gente que não faz ideia do que está falando. Claro, vêm críticas sensatas, com as quais enxergamos nossos erros – que não são poucos. Mas frequente mesmo é o comentário que revela mais o momento que seu autor está passando, sua necessidade de descarregar, agredir ou seu modo de encarar a vida do que qualquer sinal de coerência. Tem a hipocrisia também. Recoberta por uma casca de moral e camadas de modernidade, gente com preparo sólido feito polpa de melancia despeja sua visão limitada e arrogante. E tem vezes que dá vontade de parar e responder aos comentários facebookianos item por item, o que exigiria tempo, paciência e, inevitavelmente, criaria um discussão interminável.

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Mas o jornalismo é só um caso. Com a internet, todas as organizações e profissionais ficaram mais expostos à crítica – com e sem fundamento. Por isso, a necessidade de que as pessoas que exercem funções de liderança, ou de atendimento – seja cara a cara ou por canais digitais -, estejam preparadas, tenham equilíbrio, inteligência emocional. Ou, em vez de resolver os problemas, iniciam uma guerra. Aquela filosofia de nunca reagir por impulso, contar até dez, esperar a poeira baixar, já deve ter preservado muitas relações comerciais. Essa capacidade de filtrar o que vale a pena ouvir e responder, daquilo que é apenas entulho, é que faz diferença e deve ser trabalhada. As melancias quentes sempre estarão por aí, prontas pra fazer mal, o que importa é a forma como lidamos com elas. E o humor me parece uma boa alternativa para facilitar a digestão.

 

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