
e casa fica abaixo da margem dela.
Dia e noite há tráfego intenso na PR 483, na saída de Francisco Beltrão para Cascavel. No local, uma empresa está construindo uma trincheira para melhorar o acesso e a saída dos veículos e dar maior segurança aos motoristas e pedestres. Naquela região também há uma ponte sobre o Rio Marrecas e a entrada para o bairro São Miguel. No ano passado, cerca de 48 famílias foram retiradas das proximidades para viabilizar a obra, que é bancada pelo Governo do Estado. Mas dona Roseli de Morais Diores permanece morando no local.
Sua residência fica praticamente dois metros da parede que dá sustentação à rodovia e também fica abaixo da margem da via, que já foi alvo de duas quedas de caminhões. O primeiro acidente aconteceu por volta de 10h40 da manhã, quando José Ávila arrumava cabos de ferramenta em frente de casa, onde mora com a prima Roseli. “Eu escapei por pouco da morte, devido ao acidente, fiquei três dias na UTI (Unidade Intensiva de Tratamento) e mais cinco dias internado. Machucou e vou precisar de mais um raio-X e exames”, conta José, que ainda não se recuperou do susto.
Quinze dias após o primeiro acidente, na manhã de quarta-feira, 18, aproximadamente às 7h45, mais uma vez a família foi surpreendida pela queda de um caminhão. Desta vez, ninguém se machucou, mas o veículo derrubou o muro da área da residência. Na casa, moram seis pessoas e também está instalada a empresa da família.
Um caminhão Mercedes Bens seguia sentido a Francisco Beltrão, quando reduziu a velocidade em uma lombada e outro caminhão bateu na traseira. Como o veículo estava carregado, nem a tentativa de frear conseguiu pará-lo.
Mesmo com os sustos constantes, Roseli agradece a sorte de seu filho ter saído mais cedo para ir pra aula naquele dia, pois algo pior poderia ter acontecido. “Meu marido tinha acabado de levantar, nós levamos um susto com o barulho. Nós já comunicamos, mas ninguém da Prefeitura veio aqui. Não podemos nem sair de casa. Estamos há 22 dias sem a retroescavadeira que ficou danificada pela queda do caminhão, além de R$ 45 mil que dará no conserto dela”, reclama a moradora.
Mudança de casa
Roseli diz que, pelo menos, a Prefeitura deveria tirá-los daquele lugar. A família gostaria que arrumassem uma casa, enquanto a obra não termina. “Depois de terminada a obra e verificado que o local não apresenta riscos, então nós voltaríamos, mas não dá pra ficar nesta situação, que a cada pouco a gente acha que outro acidente pode acontecer”, frisa a moradora.
A família anda com os nervos à flor da pele. Além disso, a insegurança e o sentimento de impotência os acompanham. Roseli também cuida de quatro netos e todos eles são menores de 6 anos, o que a deixa ainda mais preocupada. “No primeiro acidente, fui colocar lenha no fogão, quando voltei às pressas devido ao barulho, vi o agasalho de um dos meus netos embaixo do caminhão, achei que tivesse pegado ele. Quando o Samu chegou, eles tiveram que me atender primeiro, pois tive um princípio de infarto, por achar que ele poderia ter morrido”, emociona-se Roseli ao lembrar o fato.
Medo a todo instante
Há 17 anos, a família de Roseli mora no local, mas pela primeira vez eles sentem medo a toda hora. “Os caminhões descem carregados e freiam em cima do quebra-molas. Estamos sempre com a sensação que vamos precisar sair correndo”, diz a moradora. A vizinha Ibra Ema Marinês pergunta como Roseli consegue dormir e ela conta: “Eu só durmo com o auxílio de remédios”.

danificou o muro da frente da casa. Foto de Monique Sffogia/TV Guará
Assistência Social analisa legalidade para intervir na residência
A secretária municipal de Assistência Social, Ana Lúcia Manfrói, informou que está em negociação com a equipe de Planejamento para verificar o que é possível fazer no caso dessa família. “Vamos ter que avaliar se é possível fazer uma reintegração de posse ou se há outra situação legal. Todos que estavam na área de risco, de acordo com a demarcação do DER, nós retiramos da área, mas esta família não está dentro da demarcação”, esclarece Ana Lúcia.
A secretária lamenta os acidentes ocorridos no local e acredita que, após o término da obra, não haverá mais o problema. “No caso de reintegração de posse, nós precisamos de um documento do DER que comprove a situação da residência, e a família não nos procurou até agora”, diz Ana Lúcia.

DER esclarece que residência não é atingida pela obra
O gerente regional do Departamento de Estradas e Rodagens (DER), Roberto Machado dos Santos, conversou com a reportagem do Jornal de Beltrão e esclareceu que a casa não foi retirada do local, pois a residência não é pela obra. “No final da obra, a rua terá acesso e o tráfego da rodovia estará normalizado,” garante Roberto.
A trincheira está prevista para ficar pronta dentro de quatro meses, mas pode variar devido à condição do tempo. Após os acidentes, o departamento constatou que houve falhas, pois toda a sinalização não foi obedecida. “Não é uma situação normal, porque há três redutores de velocidade, um deles é próximo da residência. Todo acidente não é proposital e acontece em qualquer lugar, inclusive pode ser dentro da cidade. Estamos na reta final da obra e logo tudo estará resolvido”, diz o chefe do DER.
As famílias que foram removidas por causa da obra ficavam do outro lado em relação à casa atingida pelos caminhões, onde a construção da trincheira não atinge os terrenos das residências. “Até terminar as melhorias, será um transtorno, mas depois trará benefícios, como maior segurança. Estamos estudando a colocação de uma defensa metálica para aumentar a proteção, mas se os caminhões não respeitarem a velocidade e a sinalização, nem mesmo a defensa é capaz de segurá-los”, comenta Roberto.
