
Fazer uso do táxi é algo cultural, ou você tem o hábito ou não tem, ou então adquire. Há cidades em que pegar um táxi pra ir de um local a outro é praticamente imprescindível, devido às distâncias. Em municípios do interior, onde tudo fica mais próximo, geralmente pegar “carona” com esses veículos é algo menos comum. Mas no caso de Francisco Beltrão, com 84 mil habitantes e considerado polo regional, o fato deste meio de transporte não ser tão procurado e contar apenas com 30 taxistas não se deve apenas ao estilo de vida dos moradores.
Os taxistas de Beltrão trabalham no sistema de rodízio, que, segundo eles, é melhor. Na cidade, os usuários contam com cinco pontos de táxis, além da rodoviária. Isso significa que, em cada ponto, seis taxistas ficam à disposição da população.Por aqui, o problema maior é a ausência do taxímetro nos carros. Para grande parte dos profissionais, falta também estrutura para melhorar o trabalho e, consequentemente, atender melhor a clientela. No entanto, a instalação do taxímetro, que parece ser alvo de polêmica, não é vista com bons olhos pela maioria dos taxistas.
O Jornal de Beltrão foi até dois pontos da cidade e conversou com quem está na profissão há mais de 40 anos. Com fala calma e bem comunicativa, um dos taxistas disse que provavelmente o taxímetro vai prejudicar os mais pobres. Se for mesmo assim, pode haver mais gente sendo contra do que a favor. “O povo aqui do centro fica beneficiado com o taxímetro, porque um bem pobre não mora no centro. Enquanto que os usuários dos bairros bem distantes vão pagar bem mais caro do que o preço da tabela agora. Por causa da distância, lombada, sinaleiro, vai prejudicar o pobre, que já tem dificuldade, enquanto que o beneficiado é o de melhores condições. Por isso, o taxímetro precisa ser muito bem estudado.”
Ele deixou claro que não é questão de ser “a favor ou contra”, mas realmente saber se Francisco Beltrão comportaria o taxímetro. Consciente de que está havendo abusos por parte de poucos profissionais, o senhor admitiu que talvez, por isso, parte da população esteja descontente com a tabela. “Existe uns cobrando o dobro do valor e alguns cobrando muito abaixo. Quem cobra muito, leva as pessoas a pensarem que os taxistas de Beltrão são “ladrões”. Já quem cobra muito baixo o preço, o usuário nunca pensa que está certo o valor da tabela. Existe uma tabela e deveria ser respeitada.”
Corrida mínima, de até dez quadras, custa R$ 10. Depois de anos sem reajuste, os taxistas tiveram a tabela modificada, com novos valores, em maio deste ano. O valor está de acordo com os bairros e a quantidade de quadras e quilômetros rodados. O senhor que concedeu entrevista ao jornal no primeiro ponto visitado disse que a corrida mínima, de até dez quadras, custa R$ 10. Acima de dez quadras, nos bairros centrais, é R$ 14. Nos bairros mais distantes é R$ 15 e, dependendo da distância, sobe para R$ 18. Já nos bairros da Cidade Norte, a corrida fica no valor de R$ 20. “O preço por fora [na rodovia] é R$ 1,20 o quilômetro rodado no asfalto. Na estrada de chão é R$ 1,50 o quilômetro rodado, contado ida e volta.”
Na visão dos taxistas, não é apenas a corrida para os bairros que pode sair mais cara ao usuário com taxímetro; eles também alegam que ganhariam pouco, já que o mesmo precisa ser ligado apenas no momento que o passageiro embarca no veículo. E usaram o seguinte exemplo: “Ligam aqui pra nós, para irmos lá no 24 horas. É um doente, mas ele quer um táxi para andar quatro ou cinco quadras. O que vamos ganhar daqui até o Pinheirão? Sete reais? Não dá para trabalhar desse jeito. Por que o deslocamento é muito grande e andamos muito pouco com o passageiro, e temos que ligar o taxímetro quando o passageiro entra no táxi. Em Pato Branco, alguns taxistas já cobram o deslocamento antes de ligar o taxímetro, se a pessoa aceita, eles vão, se não, não. Caso contrário, vamos trabalhar apenas pelo combustível. O taxímetro pode ser um problema em cidade pequena”.Em Pato Branco, o taxímetro funciona há três anos. Mas há quem esteja cobrando o “deslocamento” para sair do ponto e buscar o passageiro.
Quem já pagou valores diferentes, em distâncias iguais, prefere o taxímetro

Bastou que a reportagem comentasse o assunto na rede social para vários internautas opinarem a respeito. Dos mais de 15 comentários, todos se posicionaram favoráveis à implantação do taxímetro em Francisco Beltrão.
Luane Grisa Mossellim contou ao jornal que num sábado precisou pegar um táxi antes das 22 horas. O motorista cobrou R$ 20 do Colégio Mário de Andrade até o Sobá. Para voltar, por volta das 3 da manhã, o táxi foi chamado novamente. Era outro motorista e o preço foi menor, R$ 15, para retornar ao Mário e fazendo um trajeto um pouco maior.
“Questionei o motorista que cobrou mais barato e ele disse que os passageiros têm de começar a cobrar recibo, o recibo válido é apenas o da Associação dos Taxistas da Cidade, que tem CNPJ e tudo o mais. Se ao final da corrida, mediante o pagamento, caso for da vontade do passageiro, o taxista não entregar o recibo ou o recibo não for da associação, o passageiro não tem a obrigação de pagar a corrida.”
Na opinião de Luane, “passou da hora de implantarem o taxímetro”. “Alguns poucos taxistas são muito provalecidos, pois se está estabelecido determinado valor e ele não é por quilometragem, é dever do próprio taxista falar quanto vai dar a corrida. Sem essa de ‘Ah, vai dar uns 20 pila’. Daí chega ao lugar e cobra R$ 25.”
Outra beltronense descontente com o sistema de táxi no município é Cienara Cândido. Ela relatou que pagou mais barato um táxi em Curitiba do que em Beltrão. “Necessitei de um táxi na capital. Andei 10 km e paguei 13 reais. Da rodoviária de Beltrão até minha casa, cerca de 3 km, paguei 25 reais e ainda tive que ouvir do taxista “vou deixar por apenas 25″. Pois é, acho que precisamos não só de taxímetro, mas de profissionais com ética”, reclamou.
Variação de 50% dependendo do motorista
Cristiane Salmoria postou na rede a seguinte reclamação: “O mesmo trajeto já paguei de 10 a 15 reais”. Ou seja, 50% de variação dependendo do motorista. Situações como essa incomodam os usuários e faz a questão do taxímetro entrar em cena.
Os profissionais entrevistados pelo jornal foram unânimes em dizer que o sistema não é interessante em uma cidade do porte de Beltrão, mas já é lei federal desde agosto de 2011, quando a profissão foi reconhecida pela presidente Dilma Rousseff: cidades com mais de 50 mil habitantes devem fazer uso do taxímetro.
A jornalista Carine Prolo Cavanhari reside em Cascavel, mas seus familiares são de Beltrão. Ela nunca se esquece de uma vez que perdeu o ônibus na rodoviária e precisou ir de táxi até em frente ao banco Itaú. “O motorista cobrou R$ 10. Isso faz uns seis anos. Imagina quanto cobrariam hoje para andar três quadras?”. Uma coisa é certa. Mesmo não havendo taxímetro, existe uma tabela de preços e o valor de até dez quadras é de R$ 10. Ou seja, se fosse hoje Carine gastaria o mesmo. Mas é neste quesito que também fica a dúvida: menos de dez quadras ficaria com preço menor com o taxímetro rodando?
Para Lara Spessatto, que andou uma quadra e pagou R$ 10, o preço cobrado deve ser justo para ambas as partes. “É dever deles usarem o taxímetro e nós pagamos o que é correto”, defende. Um jovem relatou ao JdeB que precisou do táxi numa noite, por volta das 23 horas, para ir do Arrudão até o Allure. A corrida custou R$ 25.
Numa outra vez, o mesmo jovem necessitou do serviço novamente. Dessa vez era durante o dia. Ele estava no trevo do bairro Alvorada e tinha que ir, novamente, até próximo ao ginásio Arrudão. “Fiquei com medo do preço, porque comparando com a outra corrida achei que custaria uns R$ 40”. Para a surpresa do passageiro, o motorista cobrou apenas R$ 15.
“Beltrão não está em condições de implantar taxímetro”

Para o presidente da Associação dos Taxistas, Arno Barbieri, que trabalha há 40 anos na profissão, o município ainda não está em condições de implantar o taxímetro. “Está havendo muita controvérsia, sobre o negócio de ligar o taxímetro apenas na hora que o passageiro embarca, porque os caras querem ligar o taxímetro na hora que sai do ponto e o passageiro não está concordando”, alega.
Arno também segue a linha de pensamento do colega: quem vai pagar mais são os pobres. “O taxímetro vai favorecer o rico, os que moram nos bairros vão pagar o mesmo preço da tabela ou até mais.”
Segundo o presidente, a Prefeitura precisa fiscalizar a tabela e tentar evitar os abusos. Além disso, é interessante que o passageiro que se sinta lesado pagando mais caro, exija recibo e faça a denúncia à associação. “A maioria trabalha dentro da tabela, mas sempre há o que cobra o que quer, tem o desonesto”, comenta Arno.
Em relação à estrutura dos pontos de táxis, Arno reclama do localizado no bairro da Cango, próximo ao Morro do Calvário. Segundo ele, o lugar é inadequado e há muitas infiltrações. Nos demais pontos, os profissionais não fizeram grandes reivindicações; a maioria está contente com a atenção dada pela Prefeitura. No caso do ponto da rodoviária, onde muitos já haviam reclamado da falta de segurança, a conversa também surtiu efeito positivo. Atualmente há um vigia no local.
Sobre a padronização dos veículos, a categoria não tem uma posição concreta. Hoje, não há uma cor padrão. De fato, isso atrapalha a localização dos táxis pela cidade e prejudica até no quesito segurança. Seria um ponto a ser mais bem planejado pela associação. Em Pato Branco, os taxistas elegeram a cor branca como padrão na cidade.
Taxímetros de Pato Branco
Ao custo de R$10 com o sistema de taxímetros de Pato Branco é possível percorrer 11 quadras na área central da cidade, fora dos horários de maior movimento.
Nos horários de pico o valor tende a ser maior, pois os taxímetros cobram também pelo tempo parado em semáforos e engarrafamentos. A bandeirada tem o valor de R$5,60 e a hora parada tem custo de R$ 22.
Segundo o presidente do Sindicato dos Taxistas Autônomos de Pato Branco, Laurivaldo Cella, a cada quilômetro rodado os taxímetros acrescem R$ 2,50 ao valor da corrida, ou R$ 0,25 a cada 100 metros. No caso da Bandeira Dois, cobrada entre às 20 horas e 6 horas da manhã e das 12 horas de sábado até as 6 horas de segunda-feira e feriados, a cada quilômetro são acrescidos R$ 2,80. (*Com colaboração de Luana Borba)
Palavras do prefeito Cantelmo Neto: “Sou a favor das iniciativas que provocam evolução ao nosso município, e essa é uma delas. Acredito que irá colaborar no aumento do número de usuários do serviço de táxi. Contudo, é um assunto que será tratado com a importância devida, iremos conversar com todos os envolvidos diretamente nessa questão.”