O pacote de incentivo à economia, anunciado pelo governo no início do mês, não foi suficiente para convencer o mercado financeiro. Segundo analistas de mais de 100 instituições consultadas pelo Banco Central, o PIB deve crescer 1,16%, ante uma previsão anterior de 1,24%. Para o ano que vem, a projeção também caiu, passou de 1,73% para 1,6%.
O movimento é influenciado por uma queda na estimativa de produção da indústria, cuja expectativa do mercado passou de expansão de 0,51% para recuo de 0,14%. Se o tombo for confirmado, seria o segundo da produção de manufaturados no governo Dilma Rousseff, após a retração de 2,7% em 2012.
Com a desaceleração da produção industrial, os analistas passaram a esperar uma contribuição menor do setor no Produto Interno Bruto (PIB). Na pesquisa Focus, até 13 de junho, a expectativa era de que o PIB industrial ficasse em 0,59% no ano. Agora, essa projeção recuou para 0,32%. Para 2015, a previsão caiu de 1,9% para 1,7%.
Sobra otimismo
Apesar do otimismo do presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, que acredita que as medidas de política industrial anunciadas ajudarão a indústria brasileira a recuperar a competitividade e estimularão os investimentos no país, empresários locais estão incrédulos com as medidas. “Todos os setores saíram muito otimistas. Estamos sentindo que realmente está sendo feita alguma coisa para a indústria brasileira. As propostas vão no sentido do Brasil crescer mais e melhor”, completou ele.
Falta otimismo
Mas não é isso que pensa, por exemplo, o industrial Edson Flessak, de Francisco Beltrão, para quem essas medidas emergenciais em vésperas de eleição nunca são bem-vindas, pois são paliativas e não atacam o problema na raiz. “Não adianta aceitar pagar até 25% mais caro pelo produto nacional se o que o empresariado precisa é ser competitivo em todos os mercados. E o governo não pode se considerar o todo poderoso pagando mais caro, porque ele não compra toda a produção brasileira. Isso nem de perto resolve o problema de competitividade industrial”, ressalta.
De acordo com ele, o país precisa de reformas trabalhista, fiscal, tributária e política. “E, para completar, precisamos de investimentos urgentes na infraestrutura, pois não temos nem estradas para escoamento da produção, o que encarece ainda mais o produto final. E não estou nem tocando em energia, comunicação, ensino técnico com excelência, etc. De nada adianta ter financiamento pra máquinas e equipamentos se não conseguimos ser competitivos no mercado internacional.”
Edgar Behne, diretor da Indústria de Móveis Marel, entende que, num primeiro momento, o pacote anunciado pode dar um pequeno impulso para a competitividade da indústria, “porém, a médio e longo prazos são pouco signiticativas”. Na avaliação dele, o país precisa de mudanças estruturais na economia como um todo e uma política industrial bem definida e duradoura para que se possa planejar e crescer a longo prazo, “sem ficar à mercê de decretos e medidas provisórias conforme a vontade dos nossos governantes”.
Repetição
O empresário Roberto Flávio Pécoits, coordenador regional da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), observa que todas as medidas anunciadas são uma repetição de ações já tentadas em outras ocasiões, ou seja, nenhuma novidade.
“Para reanimar a economia brasileira, nós precisamos de muito mais do que medidas pontuais e passageiras, como as anunciadas. Precisamos de reformas efetivas e amplas nas legislações tributária, fiscal e trabalhista. O que é fácil constatar é que o modelo atual esgotou sua capacidade de sustentar investimento e crescimento. Portanto, precisamos de reais e profundas reformas que tragam de volta a confiança para investir.” (*Com informações da Agência Estado)
Medidas anunciadas pelo governo
Reintegra
O programa devolve às empresas resíduos de tributos sobre os produtos industrializados exportados. O governo tornará permanente o ressarcimento do imposto sobre valor exportado de produtos manufaturados com alíquotas que variam de 0,1% a 3% – o percentual será fixado a cada ano.
Refis
O governo anunciou novos limites para adesão ao programa de refinanciamento das dívidas das empresas com o Fisco. A medida prevê o pagamento inicial de 5% do valor da dívida para débitos de até R$ 1 milhão, de 10% para dívidas de R$ 1 milhão a R$ 10 milhões, de 15% para valores entre R$ 10 milhões e R$ 20 milhões, e de 20% acima de R$ 20 milhões. Atualmente, o pagamento inicial é de 10% do total da dívida para débitos de até R$ 1 milhão e de 20% para débitos acima desse valor.
Preferência para o produto nacional
O governo fixou em 25% o percentual de preferência aplicado nos processos de licitação para produtos manufaturados e de serviços nacionais até 2020. A medida, que vale para todos os setores, é vista pela indústria como muito importante para dar aos fabricantes brasileiros condições de competir com os concorrentes internacionais.
Programa de sustentação do investimento (PSI)
O governo prorrogou o programa de financiamento subsidiado para o fim de 2015. A renovação é positiva, mas a CNI defende que o programa se torne uma linha regular e permanente do BNDES, com orçamento e direcionamento bem definidos.