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Francisco Beltrão
sexta-feira, 06 de junho de 2025

Edição 8.220

06/06/2025

Cresce número de incêndios em residências

O número de incêndios em edificações (moradias e empresas) dobra nos períodos de extremos de temperaturas. Ou seja, os casos aumentam consideravelmente no verão e no inverno, quando sobe o consumo de energia elétrica. No frio o problema se agrava, com o uso constante de aquecedores, chuveiros elétricos e fogões a lenha. É nestas épocas que as pessoas devem redobrar a atenção. De janeiro a julho deste ano, foram registradas 25 ocorrências em Francisco Beltrão. 

Só no mês de junho, na área de abrangência do 3º Subgrupamento Independente de Bombeiros (SGBI), que compreende 27 municípios, foram atendidos 19 chamados, um aumento substancial se considerar que a média mensal fica entre quatro e cinco casos. Segundo especialistas, o problema está diretamente ligado à má qualidade das instalações elétricas, negligência com o armazenamento de material combustível e descuido com o uso do fogão a lenha. Um mapeamento realizado pelo Jornal de Beltrão demonstra que foi no bairro Padre Ulrico, localidade mais carente do município, onde ocorreu a maior quantidade neste ano (confira infográfico ao lado). 

A tenente Débora Kolossoskei, do Corpo de Bombeiros, diz que há suspeita de que em pelo menos duas moradias da região o fogo tenha começado por causa do fogão a lenha. Um dos casos, em Marmeleiro, foi trágico e causou a morte de duas crianças. Conforme relato de familiares, um pedaço de lenha teria caído do fogão e provocado o fogo, que se alastrou rapidamente.”Perto do fogão a lenha é bom evitar de se deixar material que queima com mais facilidade como cortinas e tapetes. Cuidar para o cano do fogão não ficar obstruído, prevenindo o retorno da fumaça, que pode provocar sufocamento”, orienta.

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Difícil constatar a origem
O Instituto de Criminalística de Francisco Beltrão periciou no ano passado 45 casos de incêndios em todo o Sudoeste. O primeiro semestre de 2014 já soma 17 sinistros, sendo três deles com vítimas fatais e cinco em veículos. A perícia técnica só é realizada com solicitação oficial da autoridade policial, Ministério Público ou poder Judiciário. 

Um perito consultado pela reportagem do JdeB informa que é muito difícil determinar as causas de um incêndio. Isso porque o fenômeno termoelétrico (curto circuito) pode ser causa ou consequência do sinistro, ou seja, mesmo constatando que houve curto circuito, é difícil afirmar se o incêndio teve início por causa da eletricidade ou se o curto se deu por causa do incêndio. Como geralmente o incêndio atinge altas temperaturas, também acaba consumindo qualquer tipo de vestígio (combustível, fósforo, vela) que possa indicar sua origem. 

Gambiarras elétricas
O empresário do setor elétrico Edson Flessak reforça a necessidade de se priorizar a qualidade da rede elétrica na hora de construir. Improvisos e gambiarras podem custar caro. Instalações malfeitas, cheias de emendas e engates inadequados colocam em risco a vida das pessoas.

De acordo com ele, uma emenda é o pior lugar para circular a corrente elétrica, “pois ela estrangula a passagem e gera aquecimento, é como um rio que, onde estrangula, gera enchente. Se a área de contato da emenda for menor que a área do condutor, vai aquecer. Como no inverno normalmente se muda a chave do chuveiro para aquecer mais, consequentemente haverá mais calor na emenda e pode ocorrer incêndio”.

Os chuveiros, inclusive, podem ser grandes vilões, em virtude da potência que exercem quando estão ligados na temperatura máxima. No mercado é possível encontrar modelos de até 8 mil quilowatts (kw). Flessak explica que um cavalo de potência é o equivalente a 736 kw, isto é, um chuveiro sozinho é capaz de exercer 10 cavalos de potência. O empresário diz que 90% da queima de chuveiro acontece na emenda do fio dele com o da rede, em função do aquecimento.

É possível prevenir
A Tenente Kolossoskei salienta que nas edificações podem ser usados fusíveis e disjuntores, que são instrumentos que previnem acidentes com a rede elétrica. Ambos têm como função principal a proteção do circuito contra as sobrecargas da corrente elétrica, evitando a queima do circuito, explosões e eletrocutamento.

Os moradores também podem assumir uma postura preventiva tomando alguns cuidados básicos. “Quando a pessoa for sair de casa, é bom que desligue todos os aparelhos das tomadas”, recomenda.

Como curto circuito em fios elétricos é a causa mais frequente de incêndios, a tenente observa que é sempre bom evitar a sobrecarga de aparelhos eletrônicos nas tomadas. “Muita gente usa aqueles adaptadores T para tomadas com vários itens ligados ao mesmo tempo, mas eles não suportam tanta corrente elétrica.”

O que fazer em um princípio de incêndio?
Só existe uma situação em que a pessoa pode agir antes de chamar socorro. É no princípio de incêndio, quando o fogo ainda não se alastrou e pode ser contido através de abafamento ou com água. “Um exemplo típico é quando está pegando fogo em uma panela no fogão. Se a pessoa não tomar uma atitude, pode se alastrar e virar um incêndio”, frisa Débora. 

Conforme disse, o incêndio é caracterizado pelo fogo atingindo áreas que fogem do controle do homem, necessitando, portanto, de instrumentos e profissionais qualificados para a sua extinção. Nesta situação, a pessoa deve se preocupar apenas com a vida, ignorando a tentativa de salvar bens materiais. 
As chamas avançam com muita rapidez, principalmente em casas de madeira, e na maioria das vezes a corporação atua apenas pra evitar que o fogo alcance edificações mais próximas. 

O sargento Delmar Strello, do Corpo de Bombeiros, explica que nestes casos é muito difícil salvar alguma coisa da casa que está queimando. “O botijão de gás de cozinha, quando atinge uma temperatura de 75 graus, libera a válvula automaticamente, expelindo todo o gás, favorecendo a disseminação das chamas.”

Depois do susto, o recomeço
A família da empregada doméstica Daniele Camargo da Silva, 23 anos, foi uma das vítimas dos incêndios no mês de junho. O fogo começou por volta das 11h40 em um dos cômodos da residência e se espalhou rapidamente. Como o quartel do Corpo de Bombeiros fica localizado a poucas quadras do imóvel, o socorro levou apenas um minuto para chegar depois que foi acionado. 

Isso foi fundamental para que a corporação evitasse que as chamas se espalhassem para mais duas casas de madeira que ficam ao lado. “Eu lembro que o meu sobrinho, de 5 anos, me chamou para ver o que estava acontecendo, porque nem ele entendia direito, quando fui olhar o quarto já estava tomado pelo fogo. Só tive tempo de retirar os pequenos para fora.” Na casa estavam três crianças. 

A casa deles está praticamente reconstruída. Fiéis de uma igreja evangélica se reuniram e ajudaram a família. Muitas outras pessoas colaboraram com a doação de móveis, alimentos e roupas. “A ajuda foi muito bem-vinda, ainda mais num momento como este. Não teríamos condições de erguer a casa novamente”, afirma Daniele.

Como combater um incêndio
Abafamento: o abafamento ocorre com a retirada do oxigênio, é o mais difícil, a não ser em pequenos incêndios. Resfriamento: o resfriamento é o método de extinção mais usado, consiste em retirar o calor do material incendiado. Interrupção da reação química em cadeia: é caracterizada pela ação do pó químico seco que interrompe a reação da combustão.

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