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Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.213

28/05/2025

Moradia digna

Só não podemos ignorar esta realidade: a disciplina do trabalho é o maior valor que uma pessoa possui. Se não vier de berço, da família, é difícil con

Seu Nilson, que está construindo um muro lá em casa, me diz que o trabalho poderia ir mais rápido se ele tivesse ajudante. Tem um, mas raramente pode contar com ele. Na semana passada, tudo ia bem até sair o pagamento. No dia seguinte o rapaz não apareceu. Nesta semana, segunda-feira não veio, terça era feriado, quarta prometeu e não veio, quinta igualmente. Eu encontro o Rios, que também trabalha como ajudante para serviços gerais. Pergunto a ele como funciona. Ele pensa um pouco e me diz “olha, seu Ivo, quando um desses que pedem serviço começam a me fazer muita pergunta, onde é o trabalho, quantos dias, horário, eu digo que vou ver, que me deixe o telefone e endereço que depois procuro ele, porque sei como é. Se eu acerto com ele, já me pede 30 ou 40 real adiantado. E quantos que trabalham de manhã e de tarde já não aparecem”. E se uma pessoa como esta ganha uma casa, o que acontece? “Ah, vende!” Fico pensando sobre o problema habitacional, que existe em todos os cantos do Brasil e é bem mais grave do que se imagina, como se viu esta semana com a tragédia do prédio de 24 andares que ruiu em São Paulo. Moradia digna, claro, para todos? Como fazer? “Ah, seu Ivo, tem uns que não merecem. Eu sempre trabalhei, desde piá, e quando vejo um desses ganhar casa melhor que a minha, e depois vendem, tá errado.” A maioria que tem casa própria é porque ficou muitos anos construindo, em etapas, ou fez tudo de uma vez, mas ficou anos, décadas, pagando. Constrói ou compra casa própria quem trabalha o dia inteiro, a semana inteira, o mês inteiro, o ano inteiro. Se folgar quando bem entender, não paga a casa. Essa é a realidade. Uma realidade que todos conhecem, mas muitos não admitem que se diga. Como acontece com muitos brasileiros, eu fico indignado quando vejo quanto dinheiro sai pelo ralo da corrupção, da falta de planejamento que deixa obras caras inacabadas, com super salários e super penduricalhos, com aposentadorias precoces e tantas outras formas que beneficiam alguns sob o sacrifício de muitos. Esse dinheiro todo talvez ainda fosse pouco para atender a demanda, mas ajudaria para dar moradia digna a muita gente que, como diz o seu Rios, “merece”. Só não podemos ignorar esta realidade: a disciplina do trabalho é o maior valor que uma pessoa possui. Se não vier de berço, da família, é difícil conquistar. Uma segunda tentativa pode vir na escola. Falar correto, fazer contas, saber das pirâmides do Egito e outras histórias do mundo afora é importante, mas mostrar às crianças que vida com dignidade só se consegue com disciplina, com trabalho, isso deveria vir em primeiro lugar. Aí aparece alguém, de dedo em riste, ameaçando que criança não pode trabalhar e nem se deve falar a elas de trabalho. Bom, aí a bagunça continua. Não sejamos cretinos. 

Ivo Pegoraro é jornalista em Francisco Beltrão.

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