
A Rua dos Pinhais, no bairro Sadia, em Francisco Beltrão, estava vazia na tarde de quinta-feira, 21, e extremamente silenciosa, como se ainda se ressentisse da tragédia da segunda-feira anterior, quando dezenas de pessoas se aglomeravam em frente da casa de alvenaria, número 173, para ver os bombeiros lutando para conter as chamas de um incêndio. Izac da Rocha Feil, 3 anos, estava deitado em sua cama, repousando, quando o fogo começou. Ele não conseguiu sair a tempo e morreu carbonizado.
O menino passava as tardes em casa junto com um irmão mais velho, de 15 anos, e um irmãozinho gêmeo. A suspeita é que o incêndio começou na parte dos fundos da casa, próximo ao quarto da criança. O adolescente conseguiu entrar e retirar um dos irmãos, mas não teve uma segunda chance para resgatar o outro em virtude das labaredas e da fumaça.
Toda a família está muito abalada e procurando uma explicação para a tragédia. O pais do garotinho Izac, Gilmar Feil e Rute Eleandra Borges da Rocha, não conseguem encontrar uma justificativa. Eles e os dois filhos estão morando na casa de um vizinho até conseguirem reconstruir o lar.
“Por mais difícil que seja, a gente se conforma com o fato que perdemos um filho. Sabemos que ele está num lugar muito melhor do que nós nesse momento. Mas o que mais dói é a forma como aconteceu. Ter que velar um filho com o caixão lacrado, nem os familiares puderam ver ele, é muito difícil”, lamenta Gilmar.
O incêndio
Quando os vizinhos se deram conta que a casa estava em chamas, mobilizaram-se rapidamente para ajudar. Mas o fogo já tinha tomado boa parte dos cômodos que ficam nos fundos. Um vizinho, que foi o segundo a chegar ao local, disse que as chamas começaram pela cobertura e não pelo fogão, que estava ligado para esquentar uma chaleira com água. Como o acesso pelo interior da moradia estava obstruído, pensou-se em entrar pela janela, porém, a abertura estilo basculante não permitiu a passagem de uma pessoa para socorrer o menino. “No chão, a válvula do botijão tava intacta. Não queimou nada”, observa Gilmar.
Toda ajuda é bem-vinda
Agora, mais do que nunca, a família vai necessitar da ajuda afetiva e material da comunidade, pois perdeu tudo com o incêndio. “Estamos conseguindo alguns móveis, mas o que mais estamos precisando de momento é de um cantinho, uma casinha, pra gente se estabilizar.” Além da traumatizante morte do pequeno Izac, uma dor que a família não consegue superar, as chamas consumiram todos os pertences – móveis, roupas, alimentos e calçados.
A casa onde eles moravam era alugada. O fogo abalou a estrutura e ela está condenada. No próximo dia 5, fará dois meses que a família está morando em Francisco Beltrão. Eles vieram de Santo Antônio do Sudoeste em busca de um futuro melhor e da proximidade dos familiares da mulher.
O casal está tentando locar uma casa, mas está encontrando dificuldade em função dos valores dos aluguéis e das exigências dos locatários. “Por enquanto, estão mandando algumas doações pra gente, estamos morando aqui na casa do nosso amigo. Roupas, calçados, alguns móveis estão sendo colocados aqui.”
Para piorar a situação, o carro da família, um GM Ômega, estourou o motor. “Na verdade, eu nem sei como ele não pegou fogo junto com a casa, estava nos fundos e ficou coberto de estilhaços”, relata Gilmar.
Rute agradece o apoio que todas as pessoas estão dando à família. “A gente acha que não tem ninguém solidário, mas em um momento como este é que vemos como existem pessoas dispostas a ajudar.” Gilmar é metalúrgico e Rute, auxiliar de produção de um frigorífico. Os dois estavam trabalhando na hora do incêndio e perderam o chão quando se depararam com a cena trágica. Quem quiser colaborar pode entrar em contato pelos telefones (46) 9124-3714 (Gilmar) e 8811-4813 (Dilso).
A rotina no dia do incêndio
No dia do incêndio, a família teve uma rotina normal. As crianças estavam em casa brincando, o pai saiu para o trabalho no início da tarde e a mãe ficou em casa até próximo às 15 horas, quando começava seu turno no frigorífico e seguia até a noite. “Eu começava no meu trabalho às 13h30 e naquele dia brinquei bastante com ele (Izac) antes de ir para o trabalho. É realmente uma situação muito difícil tentar entender tudo isso”, diz Gilmar.
A segurança da creche
O casal conta que quando chegou em Francisco Beltrão, procurou muito por vagas nas creches para colocar os dois meninos, mas não conseguiu. “Isso que eu acho um absurdo. Nós corremos atrás antes e não tinha vaga. Como que agora apareceu uma vaga? Foi preciso acontecer essa tragédia para aparecer uma vaga”, desabafa o pai. “Tem mãe aqui do bairro que não trabalha e está com os filhos na creche e nós, que trabalhamos fora os dois, não conseguimos. A gente que precisa trabalhar e é pobre, corre pra cima e pra baixo, daí não consegue vaga. Agora pediram para levar o menino das 14h às 17 horas”, completa Gilmar.