Ser pai é estar presente dia a dia na vida dos filhos, ensinando as regras do bem viver e prestando assistência material dentro do possível.
O tema a ser desenvolvido hoje é diferente de minha área de atuação como advogado e professor. Mas acredito que serve como reflexão porque é extremamente polêmico aos “olhos” de quem não consegue perceber que o que importa na vida é o amor, o carinho e a assistência, seja ela moral, intelectual e material que um ser humano, independentemente de sua identidade de gênero, possa transmitir para seu filho. Aliás, ser pai é estar presente dia a dia na vida dos filhos, ensinando as regras do bem viver e, inclusive, prestando assistência material aos filhos dentro do que for possível, enquanto ser genitor é meramente transmitir seu material genético para o surgimento e nascimento de outro ser humano. Pois bem, após a introdução acima, para que os leitores entendam do que estou falando, cito as enormes críticas que a empresa de perfumes e cosméticos Natura vem sofrendo através dos mais variados meios de comunicação por que escolheu, numa campanha publicitária para o dia dos pais, como um dos garotos propaganda, o Thammy. Para algumas pessoas, a escolha da empresa Natura parece ser ofensiva, pois, pelo fato do Thammy não ter órgãos reprodutores masculinos não poderia servir como figura de pai na referida campanha publicitária. Ledo e absurdo engano.
Veja-se, inicialmente, que a construção moderna da filiação não está relacionada apenas a liames biológicos. Eis que a filiação passou a ser reconhecida pela presença de um vínculo afetivo paterno-filial que prevalece muitas vezes sobre a verdade biológica, tanto é que o ponto fulcral de uma relação pai e filho não depende mais da relação de sangue, essencialmente; eis que, a relação paterno-filial pode ocorrer pela relação socioafetiva simplesmente, sendo a filiação socioafetiva nada mais do que um gênero do qual existem espécies de filiação biológica e não biológica. Portanto, a filiação socioafetiva é a que melhor se revela na atualidade e, principalmente, no que preceitua a Constituição Federal, pois o papel biológico, ou consanguíneo, não tem mais a mesma importância que outrora, uma vez que o que importa efetivamente na convivência entre pais e filhos é a ocorrência de uma convivência afetiva, voltada aos interesses do desenvolvimento sadio do filho, acrescida de zelo, carinho e respeito. A identidade de gênero do Thammy, portanto, é de pai e não de mero genitor, pois na atualidade do dia a dia o direito de família acaba por mostrar o quanto é difícil contar com um pai presente, que educa, assiste e acompanha o desenvolvimento dos filhos, inclusive os que, em caso de divórcio com a esposa, seja capaz de pagar a pensão em dia e num valor que realmente auxilie o filho e que não se afaste dele. Assim, talvez a polêmica sobre a propaganda da empresa de cosméticos e perfumes Natura esteja justamente porque alguns genitores, os quais não criam, não educam e não se fazem presentes na vida de seus filhos se sintam incomodados com a presença do Thammy, pessoa a que tudo indica é um verdadeiro pai aos moldes do que acima fora preconizado. Aliás, deveríamos valorizá-lo porque não foge do seu compromisso de pai, ao que tudo indica, bem como deveríamos valorizar a empresa Natura pela coragem de reconhecer a figura do pai diferentemente do genitor, uma vez que como diz o velho ditado, pai é quem cria e não quem apenas gera.