
A salgadense Bianca Pansera sempre quis cursar Farmácia. Sua mãe, Janice, trabalha no Posto de Saúde de Salgado Filho desde que Bianca era uma criança e a convivência fez crescer dentro da jovem o sonho de se formar farmacêutica. No final de 2014, ela decidiu seguir o sonho. Prestou o vestibular na Unipar e cursa a faculdade desde o começo de 2015. Mas parece que não vai durar.
Isso porque Bianca, como muitos outros estudantes Brasil afora, entrou na faculdade contando com o Fundo de Financiamento Estudantil do Governo Federal, o Fies. Até ano passado qualquer um que protocolasse, conseguia financiar seu estudo.
O diretor da unidade de Francisco Beltrão da Unipar, Claudemir José de Souza, conta que a acessibilidade inchou a procura e “as inscrições dispararam. Como era perto de ano eleitoral, o governo fechou os olhos e liberou todas. Agora a conta não fecha. Não tem arrecadação para suprir a demanda”.
Para compensar o rombo, o Governo criou novas normas para limitar as inscrições. Principalmente com a decisão de que o aluno precisa ter obtido média mínima de 450 pontos e nota diferente de zero na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
O diretor Claudemir afirma que essas normas foram mudadas com prazo muito pequeno. “Mudaram tudo muito de repente, sem publicidade, sem avisar direito, e muita gente perdeu o financiamento porque não sabia disso.”
E não é só isso. Desde o começo das inscrições, o sistema do Fies dá problemas até em matrículas de alunos que atendem todas as normas. As inscrições encerram no dia 30 de abril e muita gente está travada nisso.
“O sistema está lento e não dá para passar da terceira etapa. Diz que a nota está indisponível, ou o sistema cai, ou ocorre erro… Aí tem que voltar tudo pro início o processo”, relata Bianca.
O diretor-geral dos campi de Beltrão e Dois Vizinhos da Unisep, Sérgio Fabiane, conta que os alunos estão reclamando. “Temos um estudante que tentou 52 vezes vir e protocolar, mas não funciona. Eu não consigo entender, nunca deu problema desse jeito”, declara.
O diretor da Unipar reforça: “O governo joga a responsabilidade em cima das universidades, passa uma mensagem de erro que nós não temos vagas, mas isso não é real. Ninguém nos informa de nada e os alunos pensam que é nossa culpa.”
Mas alguns alunos conseguem. Patrícia Padoin, de Mariópolis, foi para Cascavel cursar Odontologia e, depois de muito tentar, conseguiu seu financiamento. “Fiquei um mês insistindo, tentando todos os dias, até que deu certo. Mas 50% da classe ainda não conseguiu.”
Patrícia ressalta que não teria condições de continuar sem o Fies. “O curso é integral e eu não conseguiria trabalhar pra me manter aqui, se não conseguisse o financiamento, teria que desistir da faculdade.”
E é essa a situação de Bianca. A universitária trabalha o dia inteiro, estuda à noite e tem apoio dos pais para pagar a faculdade, mas a renda não é suficiente. “A gente não tem condição para pagar os R$ 1.413 da mensalidade. Temos que nos alimentar, pagar água, luz, tudo… Quase não sobra nada para o estudo.”
Se o Fies não liberar, Bianca e muitos outros brasileiros que não possuem a renda para bancar uma faculdade vão ter de desistir do sonho de um curso superior.