O Centro Cívico de Curitiba se tornou um verdadeiro palco de guerra na tarde de ontem, 29, em um confronto que durou mais de duas horas entre tropa de choque e professores. Até o início da noite tinham sido contabilizados mais de 150 pessoas feridas entre manifestantes e policiais militares, sendo oito deles em estado grave. Apesar de toda a pressão, no final da tarde os deputados aprovaram o projeto que propõe alterações no Paranaprevidência.
O prefeito Gustavo Fruet (PDT) chegou a fazer um apelo através das redes sociais para que a polícia parasse de despejar bombas nos professores. “Estamos fazendo o possível para atender os feridos na Prefeitura, mas nossa capacidade é limitada. Faço um apelo ao governador, Secretaria de Estado da Segurança Pública e Assembleia. Por favor. Momento é de pacificar”, divulgou. Muitas pessoas foram atingidas por balas de borracha e mordidas pelos cachorros da PM. Da região, cinco ônibus, uma Van e um micro-ônibus, com cerca de 250 pessoas, estiveram em Curitiba.
João Paulo da Rocha, representante do Sinteoeste, disse que as bombas começaram a ser atiradas por volta das 14 horas. “As pessoas estavam agitadas e empurraram a cerca, que fazia o isolamento, e foi aí que os disparos começaram. Vários professores ficaram machucados, nunca vi nada igual.” Vídeos e imagens divulgadas pela imprensa mostraram que os policiais usaram bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha e jatos de água contra os manifestantes.
A professora Clecilda Parabocz, uma das diretoras do Núcleo da APP Sindicato de Francisco Beltrão, estava bastante abalada quando conversou com a reportagem do JdeB, no final da tarde de ontem. “A categoria está arrasada, ainda não sabemos ao certo quantas pessoas ficaram feridas, estamos reunindo nosso pessoal.”
Clecilda contou que as bombas caíam de todos os lados e as pessoas tinham que correr e se esconder atrás de árvores. “Foi um campo de guerra.” Segundo ela, os professores se dispersavam com as bombas e corriam novamente tentando se agrupar. A professora disse que a Assembleia tinha decisão judicial que impedia a entrada dos professores para acompanhar a votação do projeto. “Eles queriam permitir apenas a entrada dos diretores dos núcleos da APP e da diretoria estadual, embora não concordássemos não vi ninguém ter forçado para invadir.”
O professor Genésio João Pinheiro, vereador em Capanema, foi atingido na perna e no abdômen por balas de borracha. Ele promete registrar um boletim de ocorrência quando voltar para casa. Genésio também participou da manifestação de 30 de agosto de 1988, quando policiais militares avançaram com cavalos, cães e bombas de efeito moral contra uma multidão de docentes que protestava por melhores salários e condições de trabalho na Praça Nossa Senhora de Salette, em Curitiba. “O que aconteceu naquela época não representou nem 1% do que aconteceu hoje (ontem). As bombas vinham de todos os lados e não tínhamos como nos defender. Não acredito que o deputado Traiano (presidente da Assembleia) fez isso, não teve nem capacidade para dialogar. Eu nunca vi tantos policiais reunidos em um único ato no Paraná.”