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quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.213

28/05/2025

Suinocultura continua forte

Em 2014, a suinocultura teve preços elevados que propiciaram aos produtores uma remuneração acima dos anos anteriores.

 

Jacir Dariva, suinocultor e presidente
da Associação Paranaense
de Suinocultores: “É possível ter bons resultados
no setor se houver planejamento”. 

A suinocultura é uma das atividades econômicas mais importantes da região Sudoeste do Paraná. É responsável pela geração de empregos e renda e pela manutenção de inúmeras famílias no meio rural. Mas o que ocorreu nos últimos anos foi uma grande transformação no sistema de produção que acabou excluindo centenas de produtores. A entrada das grandes indústrias no setor de carnes foi aos poucos eliminando os pequenos comerciantes. A modernização da suinocultura impôs uma concorrência acirrada no mercado global, forçando os produtores a investirem em melhoria genética dos animais, ampliação das instalações, alimentação específica e balanceada. O sistema rústico e sem preocupação com o meio ambiente não tem mais espaço comercial. 
O produtor Jacir Dariva, presidente da Associação Paranaense de Suinocultores (APS), lembra que, quando sua família veio do Rio Grande do Sul e fixou-se em Itapejara D’Oeste, em 1965, foram trazidas quatro fêmeas e um macho, dando início a uma das maiores granjas produtoras do Estado com 2 mil matrizes. “Uns anos depois, nós começamos algumas construções, e a Emater antigamente recomendava que se construísse perto dos riachos e sangas, para que os dejetos alimentassem os peixes”, recorda-se. Um modelo como este não se admite mais nos dias atuais. 
No Estado, estima-se que haja 135 mil produtores de suínos, todavia, somente 30 mil são consideradas propriedades comerciais e representam a maior parte da produção de suínos. A suinocultura paranaense gera em torno de 200 mil empregos diretos e 300 mil indiretos. O rebanho paranaense é composto por 5,32 milhões de cabeças e está distribuído pelo Estado. O maior rebanho, que representa 8,25% do total, encontra-se na região de Toledo. O Paraná possui o terceiro maior rebanho brasileiro com 15% de um total de 36,75 milhões de cabeças, Santa Catarina é o primeiro com 20% e o Rio Grande do Sul é o segundo com 17%. 
A produção está concentrada no núcleo regional de Toledo, que representa 42,7% do Valor Bruto da Produção (VBP). O núcleo regional de Cascavel corresponde a 16,5%, Ponta Grossa 15% e Francisco Beltrão 7,6%. Os demais núcleos (18) representam 18,3% do total. A suinocultura representa 5,1% do Valor Bruto da Produção paranaense, correspondendo a R$ 3,52 bilhões. Comparativamente a 2012, a suinocultura diminuiu sua representatividade no Valor Bruto da Produção em 0,01 pontos percentuais, entretanto, o VBP teve um incremento de 27,41%.

TRANSFORMAÇÃO
Jacir conta que a suinocultura começou a mudar bastante nos anos 90. “Em Itapejara tinha oito caminhões truck que puxavam suínos daqui para outras regiões do país, com cento e poucos animais, prontos para o abate. Os compradores eram três empresas fortes que compravam da região e esses intermediários, graças a eles, o pequeno produtor se manteve. Existe esse sistema até hoje, foi herdado daquela época e dá certo ainda.”
O produtor observa que a produção de leite cresceu na região no vazio deixado pela suinocultura. Segundo ele, infelizmente, a suinocultura ficou na mão de poucos, “mas temos ainda pequenos produtores que estão lutando e fazendo com que rode os pequenos frigoríficos”. Na avaliação de Jacir, são esses “heróis”, que sobreviveram na pequena propriedade, que estão auxiliando o consumidor a não gastar tanto com alimentação. “É claro que nós perdemos muitos produtores, mas uma parte também estava nessa atividade somente para ganhar dinheiro e, quando a coisa apertou, eles saíram fora para não investir mais.” 

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UM SUÍNO GORDO POR UM ALQUEIRE
O presidente da APS diz que no passado, quando se vendia um suíno gordo, era possível comprar um alqueire de terra em Guarapuava, por exemplo. “Mas ninguém queria ir pra lá por uma simples razão, que era a visão do passado, a terra lá não valia nada pro pessoal daqui, porque tinha medo que aquela terra virasse deserto. Foi a melhor época pra suinocultura, porque existiam poucos animais.”
Com vendas boas, os produtores de suínos começaram a comprar terras, carros novos e esqueceram de se modernizar. Em 2005, uma nova crise trouxe muito prejuízo para o setor. “Começou a gangorra, hoje é seis meses bom e seis meses ruim, deu uma estabilizada pela simples razão de que o que se produz, se consome.” Dariva salienta que as normas ambientais estão cada vez mais severas. “Isso faz com que as pessoas migrem para outras atividades e esqueçam da suinocultura.”

INDUSTRIALIZAÇÃO
O Paraná é o terceiro maior produtor nacional de suínos, tendo 22 frigoríficos inscritos no Serviço de Inspeção Federal (SIF) e 55 frigoríficos inscritos no Serviço de Inspeção Estadual (SIP). O dirigente explica que esse processo de industrialização é primordial, tendo, inclusive, a necessidade da implantação de mais grandes indústrias. “Porque alavancam, dão sustentabilidade e volume a todo o sistema, mas existe essa necessidade também das pequenas indústrias, porque cobrem o que a grande indústria não cobre, e aí não ficam aqueles vazios, então a agroindústria é primordial para o desenvolvimento do agronegócio e do setor”, argumenta. Assim como acontece em qualquer outro ramo, o produtor de suínos precisa reinvestir na atividade para se tornar competitivo. “São poucos e esses já estão certos que têm que fazer isso, senão não vão sobreviver. Se não investirem, logo estarão fadados a abandonar a atividade.”

LEITOAS: MÁQUINAS DE PRODUÇÃO
A genética dos animais evoluiu muito nas duas últimas décadas. Segundo Jacir, hoje as fêmeas suínas são verdadeiras máquinas de produzir leitões. “Antigamente, quando uma fêmea tinha dez tetos que fossem viáveis, o produtor segurava, hoje tem que ter no mínimo quatorze tetos viáveis, que produzam o leite, e já se fala em dezoito”, compara. O macho foi retirado da atividade, é tudo inseminação artificial, não existe mais a monta natural. Conforme disse, a atividade se especializou tanto nos últimos anos que só perde para a avicultura. “Uma fêmea daqui um ano está produzindo leitão, é mãe, e toda a força genética que foi colocada nela hoje, daqui um ano os filhos dela vão ter. Só o frango tem essa rapidez.” 
O produtor ressalta que a suinocultura é uma atividade que está se adaptando e tem uma evolução enorme, por isso está sendo chamada de carne magra. “A bovinocultura tem a gordura entrelaçada na carne e na carne suína é separada, a gordura foi lá pro toucinho e a carne ficou seca. Nos últimos estudos, tanto o pernil como o lombo, nenhuma tem colesterol, gordura, e é sempre macia.”

Suinocultura teve altos e baixos nos últimos anos, mas setor se mantém lucrativo para os produtores que investiram na área.

 

CICLO DE PRODUÇÃO
Muitos produtores ainda são adeptos do ciclo completo, que foi quase abolido da suinocultura. O Paraná é o Estado que mais tem produtores que fazem o ciclo completo, mas em torno de 28% são independentes, porque as integradoras já trabalham com o ciclo vertical de produção. “Está se fazendo isso para maximizar o uso das instalações, principalmente pela falta de mão de obra.” O presidente da APS informa que as pessoas que têm uma granja estão especializados só naquilo, numa etapa de produção, não é necessário se preocupar com cada fase. 
O Sudoeste migrou da questão de ciclo completo pra esse modelo. 

SETOR IMPORTANTE, MAS FALTA MÃO DE OBRA
Grande parte dos leitões do Sudoeste vai para a região Oeste, porque é lá que está a maior parte das agroindústrias, onde é feita a engorda. A região Sudoeste é a segunda em produção no Paraná. “Temos ainda 65 mil fêmeas aqui na região. É um setor econômico importante, pois essas granjas comerciais têm dezenas de famílias envolvidas. Falava-se de um funcionário para 200 suínos, mas hoje o normal é um para 100 fêmeas. É uma das atividades que mais geram empregos.”
Apesar disso, o número de pessoas dispostas a trabalhar na suinocultura é cada vez menor. Dariva acredita que a oferta seja escassa porque exige dedicação. “Aqui não tem dias de folga, temos o problema do odor também, sempre tivemos deficiência de mão de obra especializada. Acho que o maior problema disso é a ajuda que o governo está dando para pessoas que não precisavam, com aquela ajuda social.” O trabalhador já entra em uma granja ganhando dois salários mínimos (R$ 1.576,00) em carteira. 

PERSPECTIVAS
O produtor afirma que a suinocultura tem muito para crescer no Sudoeste do Paraná. Na visão dele, o Estado de Santa Catarina, maior produtor, não tem mais espaço para crescer. “Tanto é que algumas agroindústrias estão vindo de lá pra cá. Aqui no Sudoeste a atividade está centrada em Itapejara, Sulina, Dois Vizinhos, Chopinzinho um pouquinho, Francisco Beltrão, Eneas Marques e Pato Branco. Se for analisar pro futuro, temos um campo enorme. É uma região que tem bastante possibilidade de se expandir, se aparecer uma agroindústria aqui, vai crescer bastante. As pessoas gostam dessa atividade, elas desistiram antes porque não tinha como, mas agora, se elas forem incentivadas, acredito que voltem”, conclui Dariva. 

 

 

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