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Francisco Beltrão
terça-feira, 17 de junho de 2025

Edição 8.227

17/06/2025

Recordando os 50 anos do Banco do Brasil em Francisco Beltrão

Nos primeiros anos, o BB era ainda um banco social, não descontava contas de luz, água, telefone, nem recebia depósitos para poupança. Os registros eram feitos a lápis ou caneta; para saber o saldo, o cliente precisava ir no caixa e olhar as anotações de sua ficha. E uma das dificuldades maiores dos primeiros funcionários (além de aprender a fazer memorandos) era saber quanto se planta e quanto se colhe de feijão, milho, trigo, num alqueire de terra.

 

Neste fim de semana, funcionários e ex-funcionários do Banco do Brasil estão comemorando 50 anos da agência em Francisco Beltrão. Jussara Polanski, Nereu de Costa e Nestor Schelp, integrantes das primeiras turmas de funcionários e hoje aposentados, contam um pouco dessa história, com boas doses de humor. Eles são daqueles que vestiam a camisa do banco. 

 

Nestor Schelp.

Funcionários e ex-funcionários do Banco do Brasil estão comemorando neste fim de semana, na AABB, os 50 anos da instituição financeira em Francisco Beltrão. Um texto fornecido pelo ex-funcionário Nereu de Costa informa o seguinte:
Até o ano de 1964 existiam apenas duas agências bancárias em Francisco Beltrão: o Banestado, que funcionava junto à Panificadora Florima, hoje Calcebel, e o Bamerindus, no prédio do sr. Balduíno Daros (na mesma Avenida Júlio Assis Cavalheiro).
A agricultura estava em franco desenvolvimento, mas esses bancos pouco financiavam o setor. Em razão disso, foi solicitada a instalação do Banco do Brasil na cidade, pois a agência mais próxima era Clevelândia.
Em 19 de abril de 1965 foi inaugurada a agência local do Banco do Brasil, em prédio alugado, localizado em frente à praça da Liberdade, na Rua Antonina (onde hoje está instalada a Dispeçal – bem em frente ao Terminal Urbano).

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Nereu de Costa.

O primeiro gerente (ou o gerente instalador) foi Fernando Silva Pinto, e o primeiro sub-gerente o sr. Samir.
Os primeiros funcionários eram adidos (emprestados de outras agências): Hélio Barroso, de Fortaleza (CE); Rubens Carlos Barroso, de União da Vitória (PR), e alguns outros do Rio de Janeiro.
Dentre os primeiros funcionários efetivos, que trabalharam em Francisco Beltrão, relacionamos Luís Gonçalves, Albari Venâncio de Oliveira, José Rolf Bönte, Antônio Gavron, Ary Halinski, João Carlos Ferreira, Estanislau Javorski, Remi Nadir Roy, João Valentim Follmann, Agentil Martiniano da Rocha, Gentil Gilberto Brasil de Bastos e Nestor Paulo Schelp.

Ana Jussara Moraes Polanski.

As primeiras funcionárias mulheres que trabalharam em Francisco Beltrão (imensa minoria na época): Ana Jussara Moraes Polanski, Wanilde Ghedin, Valdete Henrique Busetti, Warlene Ghedin Halinski e Lóide Carmem Behne.
O Jornal de Beltrão ouviu histórias dos primeiros anos do BB, com Nestor Schelp, Ana Jussara Moraes Polanski e Nereu Antônio de Costa (primeiro estagiário). Nestor é gaúcho de Porto Alegre, mudou para Francisco Beltrão em 1967 e trabalhou no BB de 18.9.69 a 31.7.95. Jussara é gaúcha de Lagoa Vermelha, veio para Beltrão em dezembro de 1952 e trabalhou no BB de 28.3.71 a 23.4.92. Nereu é beltronense, trabalhou no BB de fevereiro de 1972 a junho de 2007, sendo estagiário nos dois primeiros anos.

 

JdeB – Como foi o seu ingresso no Banco do Brasil?

Nestor – Bom, eu tava em Porto Alegre e me alistei. Logo em seguida, eu fui dispensado pelo quartel e aí o meu pai foi designado para o ministério da igreja luterana, morava aqui em Beltrão já. Eu liguei pra ele e ele disse então vem pra cá. Chegando aqui, logo abriu a inscrição para o Banco do Brasil, comprei umas apostilas, me dediquei no estudo e tal, e prestei o concurso, e na época todos sabem que prestando o concurso a gente está designado pra qualquer parte do mundo, você assume este compromisso que você pode ser lotado em qualquer agência do Brasil. Nós estudávamos no colégio comercial e o saudoso Osvaldo Florentino da Silva, o subgerente, nos chamou e perguntou se nós queríamos trabalhar. Eu disse que gostaria. Ele disse então você se apresenta amanhã. Eu tava trabalhando na Marel, fazendo tubos pra Prefeitura. Digo vou ver bem com o Nelson (Behne) porque, afinal de contas, tenho compromisso com ele. Ele disse tudo bem, vai lá. Eu não entendia nada de Banco, aquela loucura de negócio, aquela pilha de papel, e aí que eu conheci um grande professor meu de banco que me ensinou muito, o Rubens Carlos Barbosa.

Jussara – Bom, desde que inauguraram o banco aqui, o (Sessuaf, seu marido) Polanski, como ele era telegrafista, tinha muita amizade com o pessoal do banco e, pra você ter uma ideia, naquela época não tinha comunicação, até as ordens de pagamento do banco vinham pelo rádio. Nós tínhamos muita ligação com o banco. Um dia ele chegou em casa e disse você vai fazer concurso pro Banco do Brasil. Eu disse mas mulher não pode entrar no Banco do Brasil. E ele eu já falei com o Florentino, falei com o pessoal e o Rubinho diz que é pra você ir lá. Rubinho é o Rubens Barroso. Aí eu fiz inscrição e não passei no primeiro concurso, que foi esse que o Nestor passou. Mas eu fiz outro em 70, a nossa aprovação veio em janeiro ou fevereiro de 71, e o Florentino chamou. Nós passamos em seis, três mulheres e três homens, eu, a Vanilde Guedin e a Valdete Gongora, hoje ela é Buzetti, e o João Valentin Foma e o Vilmar Mazetto. O pitoresco é que o Florentino mandou nós fazer todos os exames, mas não fazia muito tempo que ele tinha admitido a turma do Nestor, pegou aqueles exames, colocou debaixo do braço e foi pra Brasília e disse olha, eu tô sem funcionário, não posso esperar vocês chamarem esse pessoal, estão aqui os exames. Sei que ele levou uma xingada boa. E no dia 29, uma quarta-­feira, ele deu a posse pros seis. E depois, na carteira agrícola, rapaz, eu não sabia o que era um alqueire de terra. Eu era professora do Estado, tive que deixar, porque naquela época havia uma lei que eu não podia ter dois empregos, e eu era professora concursada.

Nereu – Eu recém tinha saído do seminário, estudava no Colégio Mário de Andrade e fui chamado pra fazer um teste no banco. Trabalhei como menor aprendiz praticamente três anos, fiz o concurso em seguida e passei. Nunca tinha trabalhado antes, tinha quatorze anos, e trabalhei a vida inteira no banco.

 

Como era o menor aprendiz daquele tempo?

Nereu – A gente trabalhava um pouco mais, hoje já é uma coisa um pouco mais light, na época a gente tinha que fazer tudo, fazer talão de cheque, arquivo. Os arquivos eram a única coisa que tinha no banco, não tinha memória de computador, nada, então tinha uma importância muito grande.

 

Era expediente todo dia?

Nereu – Todo dia, seis horas por dia.

Quando você chegou, fazia dois anos e pouco que o banco tinha aqui?

Nereu – O banco foi em 65.

 

É, você foi em 69, tinha quatro anos, como estava o banco, tinha muita gente?

Nereu – Muita gente, o banco naquela época era na unha o cliente. Nós atendíamos, por exemplo, aqui do município de Renascença até Capanema, era muita gente, abria o banco aquilo era uma loucura, e naquela época não tinha cartão, mal e mal tinha o cheque, era dinheiro vivo mesmo. Passava horas e horas pra colocar o dinheiro em ordem, era uma loucura.

 

Geralmente, quando a gente pega um trabalho novo, dá um certo desequilíbrio, pra você aconteceu também nos primeiros dias?

Nereu – Com certeza. Eu ficava apavorado, e o Barroso dizia calma, vamos devagar, vamos aprendendo. Depois comecei gostar, o ambiente também era gostoso, nós éramos pouca gente e aquilo era uma confraternização, um ajudava o outro.

 

E a Jussara, como foi o começo?

Jussara – No começo eu chegava em casa e chorava. Por que eu não podia chorar no banco. A primeira coisa que eu pus na minha cabeça, se eu vou entrar num grupo que só tem homem, eu não vou poder ter chilique, eu tenho que ser firme. Eu tive uma sorte que o meu gerente até hoje é um amigão, quero muito bem, é o Francisco Ruis Talhares, hoje ele mora em Goiânia, e o ajudante de serviço dele, que era o meu chefe direto, o Gentil Bastos, era calmo. A maior preocupação que eu tinha, eu dizia olha a responsabilidade, como é que eu vou calcular o juro desse financiamento, como é que eu vou calcular se eu não tenho noção o que pode produzir um alqueire de feijão? E o Orozimbo dizia assim pra nós vocês vão lidar nessa safra, onde é que se viu, onde é que com esse pouco de terra o cara vai colher todo esse feijão, vai fazer os jardins suspensos da Babilônia? Ele dava as médias pra gente. Eu nunca me esqueço que naquela época tinha a ACSP, todo o feijão na região ia pra Cibrazem e o governo adquiria direto do produtor ou então ficava em depósito, adiantava o dinheiro pro produtor, e o inspetor que cuidava disso chamava-se Rato, todo mundo morria de medo por que ele era um grandão e falava grosso. Ele vinha e orientava a gente. Eu uma vez tinha que mandar uma correspondência pro inspetor Rato, falando sobre uma secagem de feijão que tinha que fazer, daí a primeira vez que deu uma bobeira assim, eu disse seu Florentino, como é que eu vou fazer memorando? Eu não sei fazer memorando! Ele disse eu não vou ficar a vida inteira aqui no banco, vai lá, ache um modelo, copie e faça. Nunca mais na minha vida eu esqueci essa também (risos). Porque era assim, a gente perguntava, eles ajudavam, mas, às vezes, eles tinham que pôr a gente na linha.

 

E o Nereu, como foi o início?

Nereu – Como eu fui o primeiro menor da agência, a gente não tinha referência nenhuma e também o pessoal não tinha referência de como cobrar. Às vezes tinha uma expectativa e às vezes apanhava dum lado e ficava brabo do outro, sempre com medo de fazer as coisas malfeitas e depois ficar o fulano fez besteira. Tinha um medo muito grande e sempre atento pra aprender rápido pra poder tocar o serviço. Lembro que a agência era lá embaixo, na Praça da Liberdade, eu morava do outro lado, onde é a Unimed agora. Depois mudou aqui pra cima, logo em seguida eu fiz o concurso e passei, e assumi na agência aqui em cima.

 

Sofreu algum tipo de bullying?

Nereu – Não tinha disso não, a gente apanhava mesmo (risos), não tinha essa história de bullying. Tem até uma história engraçada: eu nunca tinha feito café na minha vida e um dia o gerente da agência, o Orozimbo, faltou os dois da portaria, chegou pra mim e disse piá, vai fazer café. Eu disse eu não sei fazer. Ele: eu não perguntei nada, vá fazer café e suma daqui. Fui lá pra cozinha e agora? Perguntar pra quem? Todo mundo trabalhando. Conversei com uma moça, a Josi, ela: você coloca umas colheradas de café, mais ou menos, quando coloca a água fervendo, tal e tal, me ensinou e eu fui lá e fiz o café. Coloquei açúcar, experimentei, tava mais ou menos, coloquei mais um pouquinho, levei faceiro a garrafa térmica, o gerente pegou, colocou um pouco numa xícara e experimentou. Jogou no chão: tá uma porcaria, tá economizando açúcar? Eu subi, coloquei mais açúcar, voltei lá, fiquei esperando meio longe dele, ele experimentou e disse coloque mais açúcar nisso aí. Eu fui lá em cima coloquei um monte de açúcar, fui lá coloquei na mesa dele e caí fora. Dali a pouco sobe ele, abriu a garrafa térmica, lá embaixo tinha uma escada que subia, e foi derramando café até lá em cima. Ele disse isso aqui virou um mel só, só tem açúcar nesse troço aqui, e nunca mais me faça café (risos). Era assim, sabe.

Jussara – E eu falei que ele falou do jardim suspenso da Babilônia pra nós (risos), mas ele falava brigando, vocês estão pensando o que, o cara não tem nem terra e vocês estão financiando?

 

Esse gerente veio de fora?

Jussara – Veio. Era Orozimbo de Assis Goularte Filho.

Nestor – Só para complementar o que o Nereu falou ali do café, quem fazia o café na época era o Sete. O Sete era o nosso faxineiro, hoje é diferente, tem uma cantina que é terceirizada.

 

Teve mais algum caso desse gerente que ficou muito tempo aí?

Nereu – Bom, ele já era gerente quando eu assumi, ele ficou coisa de mais um ano, no máximo.

Nestor – O Orozimbo foi o maior incentivador da AABB, ele disse vocês comprem um lote ali. O Pedron que tinha aqueles lotões.

Jussara – Tanto é que o banco era assim: a gente recebia por mês e a cada seis meses nós tínhamos uma gratificação, era como se fosse um salário e pouco. Pra você ter uma ideia, aquela vez, como a família era tão unida, vivia tanto o banco, nós juntamos a nossa gratificação pra comprar o terreno onde hoje é a AABB. Nós demos o dinheiro, os primeiros sócios da AABB.

Nestor – Eu me lembro que o Orozimbo dizia se vocês comprarem o lote, eu me responsabilizo pela construção, pela sede, e aí que começou a AABB.

 

Teve mais algum gerente que gostava de meter a boca?

Nereu – Nunca tive nenhum problema depois, porque quando mudou a agência pra cima já era o Fontoura.

Jussara – O Fontoura era muito delicado. Depois teve o Marteli, que era mais assim.

Nereu – O Marteli era subgerente. Em 75 eu passei no vestibular pra primeira turma da faculdade de Administração de Pato Branco. Fomos pra lá e no primeiro dia, no trote, rasparam minha cabeça. Aí eu peguei um boné da faculdade e colocava na cabeça, ficava muito envergonhado andar careca. Fui trabalhar numa segunda-feira de boné na cabeça. O Marteli disse se você entrar aqui dentro do banco de boné de novo, eu vou te pôr pra rua (risos). Depois a gente tinha uma amizade muito grande.

 

Jussara – Tinha o Reni que era o voador da turma ali. O Reni tirava sarro de todo mundo e a gente discutia, mas acabava ali, não ficava de mal, entende, por isso que tinha esse gosto da turma de se encontrar.

Nestor – O seu Osvaldo Florentino era do regime militarista mesmo, mas também ele dizia pessoal, acabou o expediente, vamos ali no Bug Lanche, tomava uma cervejinha e tava tudo certo.

 

E a tecnologia, quando vocês entraram lá, já dominavam telefone, máquina de escrever?

Nestor – Você conheceu o telex? A nossa comunicação mais sigilosa que tinha era o telex.

 

Vocês liam a fitinha amarela do telex?

Jussara – Nestor, as ordens de pagamento não vinham pelo quartel, o Polanski recebia primeiro lá, quando era uma ordem grande, e o Nestor trabalhou, eram umas fichas amarelas que lançavam, eu me lembro do Luizão escrevendo a lápis.

Nereu – A conta corrente, pra fazer um depósito, o escriturário escrevia depósito de tantos mil e assinava, aquilo era o valor que o cara tinha.

Nestor – E ainda passava por um conferente.

Nereu – Isso era antes de 72, depois já inventaram uma maquininha que você datilografava. Depois veio uma outra que era automática, dava os dados e ela lançava. Mas o cara vinha no caixa pra fazer o depósito, pegava uma ficha que era desse tamanho, o caixa puxava a ficha do cara, ia fazer um depósito, anotava lá mais tanto, e daí guardava, daí vinha um cheque e pagava, colocava menos tanto, e no final do dia a gente lançava.

 

E quando uma pessoa ia no banco pra saber o saldo, como é que fazia?

Jussara – Ué, fazia mais e menos. Era essa minha preocupação, de como é que eu ia calcular juro. A gente lançava na mão, você veio acertar tua conta, tinha um custeio, então tinha que fazer aquela conta por aqui e dizer pra você.

Nereu – Capital e mais juro, essa história de conta corrente deu muitos problemas no banco, porque cada caixa tinha sua fila pra atender, aí o caixa tinha oito na fila, chegava um cara e dizia o meu saldo tá errado, aí ele falava vai conferir com o fulano de tal lá, daí ele tinha que levar a ficha lá pro cara. Só que tinha uns engraçadinhos que dizia me dá aqui essa ficha e pegava e levava lá, e isso rendeu muitos problemas porque o cara pegava a ficha, colocava debaixo do braço e ia embora.

 

Nossa, e aí?

Nereu – Aí procura, ia atrás, tinha casos que a gente só descobria no final do mês, quando ia fazer o levantamento e faltava uma ficha.

Jussara – Pra você ter uma ideia, a cobrança de título era um joguinho de fichas, um era arquivado no caixa e uma lá no setor, daí tinha que somar aquelas fichinhas no caixa e tinha que bater.

 

E a conta corrente não rendia?

Nereu – Não, a conta corrente não rendia juros.

 

E se ficasse negativo?

Nereu – Não tinha como ficar negativo, o caixa não podia pagar, não tinha cheque na época.

 

E quando ia um cheque que estourava a conta?

Nestor – Se o cheque chegava lá, vamos supor que você era o caixa, moço, você me conhece, eu banco esse cheque. Aí a responsabilidade é tua. Agora, se vier um cheque maior, se você colocar a mão no bolso e não aguentar, aí tem que ver com o teu chefe se ele autoriza.

Jussara – Havia muita confiança nos negócios antigamente. Não era só entre as pessoas, mesmo com estabelecimento oficial, o cliente ligava pra gente, lembro do Reinaldo Baldissera, lá do Verê, ele dizia eu tô indo, pode fazer que eu tô levando o contrato, porque a mulher dele vinha uma vez e assinava, e outra vez ele levava pra ela assinar, e depois a gente conferia, então você já somava na liberação daquele dia o valor, havia uma confiança com clientes, entende. No caixa também, chegava ali e dizia Nestor, tenho um cheque de dez mil, mas eu venho depositar de tarde. A gente vivia nesse tempo de confiança, era diferente.

 

E vocês chegaram a receber algum calote?

Nestor – Eu trabalhei muitos anos no caixa e depois na tesouraria e nunca aconteceu nada.

Jussara – Eu nunca liberei um contrato que o cliente não tivesse assinado, ou qualquer coisa, eu fui a primeira na carteira agrícola a assumir essa responsabilidade, nunca aconteceu.

Nereu – Uma vez aconteceu um caso bem pitoresco, eu era fiscal do banco e teve uma liberação de financiamento, e o banco fazia questão que liberasse o dinheiro, tinha que ir no caixa, pegar o dinheiro e levar pra casa, ou colocar na Caixa Econômica, mas não podia deixar lá. E teve um caixa que liberou, pagou tipo dez mil reais, e o caixa anotou doze mil reais e pagou doze mil pro cara, ou pagou doze e achou que tinha pagado dez, e daí descobriu no final do dia que faltou dinheiro, e me falou tem que ir atrás do fulano de tal, porque nós atendíamos Campo Erê, Palma Sola, Dois Vizinhos, era tudo de Beltrão, até lá no Rio Iguaçu. Aí fui eu atrás do cara, tudo estrada de chão, lá num cafundó, cheguei lá, o cara me olhou e disse você é o fiscal do Banco do Brasil, eu não peguei dinheiro a mais, não, e eu disse pera aí, me dá o dinheiro de volta (risos).

 

Naquele tempo tinha a pessoa que deixava a conta do telefone ou da água pra descontar lá?

Jussara – Não, o banco não fazia isso.

 

E poupança?

Nereu – O Banco do Brasil não podia fazer poupança, acho que ele foi autorizado, se não me engano, perto de 1990. Que foi feita a grande virada e o banco virou um banco comercial. Na época, a Jussara sabe disso, o cara, por exemplo, passava num concurso pro Banco Central do Brasil e ele falava não, eu não quero trabalhar no Banco Central, quero trabalhar no Banco do Brasil, ele era nomeado no Banco do Brasil, que era o banco oficial do governo.

Jussara – Eu vi isso aqui hoje quando eu fui pegar dentro dos meus apontamentos, tem lá um papelzinho daqueles lá dizendo assim, a equiparação ao Banco Central. Então, quando eu entrei aqui, se eu quisesse ir pra Brasília, eu podia ter entrado no Banco Central.

Nereu – O Banco Central é posterior ao Banco do Brasil, que era autoridade monetária na época. Então é aquela história da Caixa Econômica hoje, mas que é controlada com os balanços e tal. Na época o Banco do Brasil não tinha balanço, não tinha nada, entrava dinheiro e saía dinheiro, e o governo bancava, foi nessa época que o governo cortou a autoridade monetária do Banco do Brasil, aí manteve ele por um bom tempo, depois falou agora acabou, o governo só é acionista do Banco do Brasil, que daí que o Banco do Brasil teve que sair pra poupança, pra empréstimo.

 

E os outros bancos já faziam e o Banco do Brasil não fazia?

Jussara – Não, o Banco do Brasil não fazia. Uma época, que nós começamos a vender coisas, e a primeira venda foram ações do Banco do Brasil, que eu saía à tarde e eu me lembro de ter ido lá no consultório do dr. Walter vender ações pra ele. Daí ele disse assim mas você me poupou um serviço, que do Banco do Brasil eu compro, e o dr. Walter comprou ações de mim. Eu nunca tinha saído fazer isso.

 

O que vocês lembram de quando foi construída essa agência que está aí, vocês três começaram lá embaixo?

Nestor – Logo em seguida foi implantado um sistema, aquelas máquinas de autoatendimento.

Nereu – A agência foi inaugurada em 73. Eu assumi em outubro de 74, e quando vim, em fevereiro, já era aqui em cima, me chamaram aqui pra me comunicar que eu tinha passado.

Jussara – A parte de cima era toda de carteira agrícola e embaixo era o banco, público. O Nestor sempre ficou mais na retaguarda, sempre mais no caixa, e eu fiquei sempre mais no rural, empréstimo sempre. Nós fizemos naquele mês cinco mil e quinhentos contratos ativos no banco. Mas era tudo feito na unha, uma coisa interessante foi que, quando entrou computador, o Ari Haliski era fiscal e ele estava na carteira agrícola, daí nós compramos em três um computador pra fazer a safra daquele ano. Em 75, a gente já mandava imprimir a cédula só faltando o juro e faltando pouca coisa. O industrial eu me lembro da Loide, ela fazia aqueles contratos com cinco vias brancas e batia aquilo inteirinho. Quando eu assumi de ajudante de serviço ali, nós ficávamos até tarde da noite conferindo, eu, a Loide e o Nereu. Foi na época que eu assumi porque eu criei caso, quando o Gentil ia sair de férias, iam pôr o Delgado para substituir o Gentil. E eu fui lá e perguntei pro Marteli por que era o Delgado se ele tinha bem menos tempo de banco que eu, menos de rural e se eu estava fazendo alguma coisa que não era certo, se era porque eu era mulher… Aí deu um zum, zum, zum dentro da agência bem grande, o Gentil saiu de férias e eu assumi. Imagine com que espírito que eu assumi, mas eu tinha funcionários muito bons comigo e seguraram a barra ali, e isso foi em junho e em julho a gente fazia um outro concurso dentro do banco para entrar, e depois tinha um outro concurso de escriturário. Aí eu fiz o concurso em 19 de agosto de 75, em Pato Branco, fiz o concurso. Fui a primeira mulher comissionada na agência.

Nereu – Eu acredito que em 70, 71 o banco comprou esse terreno onde é hoje e tem até uma foto na internet, com uma placa “Aqui futuras instalações do Banco do Brasil”, com três, quatro funcionários do lado bem na esquina, e daí demorou um ano e pouco pra construir esse prédio. Demorou mais um tempo pra inaugurar e na época era só um pedaço, tem aquela parte que tem quatro andares, aquela parte não tinha, era só dois pisos a agência. Mas isso foi inaugurado em 73, isso eu tenho certeza, porque eu ajudei fazer a mudança e eu era menor aprendiz. Daí em 74, quando eu fiz o concurso, já trabalhava aqui em cima.

 

Naquele tempo era calçamento?

Nereu – Acho que já era asfalto. Tenho lembrança de piazada que era chão, depois era calçamento.

 

A Jussara falou que em três vocês compraram um computador pra trabalhar no banco?

Jussara – Por causa do editor de texto nós compramos esse computador, e naquela safra a gente trabalhou, porque a maquininha que a gente usava, de somar com fitinha e coisa, a gente comprava a nossa, o banco não dava.

Nestor – Porque, na verdade, eles compram o Banco do Brasil como um elefante, grande, pesado e lento, enquanto os outros bancos comerciais estavam com sistemas com computadores, o banco tinha que investir muito, os outros que tinha aí eram agências menores, eles tinham mais condições de ir comprando as coisas, e nós ficamos pra trás.

 

O Banco do Brasil não era o mais equipado então?

Nestor – Não, as máquinas eram importadas e muito caríssimas.

Nereu – O banco só tinha uma vantagem falavam que era o melhor porque o pessoal era mais preparado, era concursado. Os equipamentos, em 88, quando o Itaú inventou o Itautec, e o Itaú, Bamerindus e mais um outro banco se equiparam e eram ponta de linha, e nós não tínhamos um computador. Em 90 eu estava numa agência, eu era gerente de Nova Cantú, e veio um ofício dizendo que eles estavam destinando uma unidade de um computador zero cinquenta, e era designado um funcionário pra ir pro Rio de Janeiro fazer um curso de trinta dias pra aprender mexer, imagine como que era então.

Jussara – Quando foi pra implantar cobrança, eu e a Eriete fomos pra São Paulo, ficamos quinze dias lá pra implantar a cobrança.

 

Mas desde que vocês entraram o salário era melhor que dos outros bancos?

Nereu – Sim.

Jussara – Para você ter uma ideia, eu ganhava cento e quarenta e dois como professora e entrei aqui ganhando quinhentos e quarenta e seis cruzeiros.

Nestor – O que aconteceu também é que nós vestimos a camisa do banco, sem dúvidas, eu tenho orgulho disso aí também. Acho que depois que implantaram o sistema das máquinas fez com que o funcionário tivesse um atendimento frio, sabe.

 

Vocês pegaram aquele tempo que enxugou o banco?

Nestor – Peguei, e foi ali que eu comecei a me desanimar um pouco, daí o banco lançou aquele programa de demissão voluntária.

Nereu – Em 73, 74, o banco tinha vinte, vinte e cinco funcionários, e quando mudou aqui pra cima acho que foi nomeado trinta de uma vez só, chegou a ter cento e vinte funcionários na agência aqui em cima, e quando implantaram a máquina baixou pra dezenove, ali foi a grande ruptura.

Jussara – Me lembro quando foi pra comemorar os vinte cinco anos do banco estavam em oitenta e seis, já estava diminuindo.

Nestor – Vamos justificar o inchaço de funcionários, porque nós recebemos o tal do Pavan, era um custo avançado pra agência, era miniagência.

 

Quando aumenta funcionário é bom, mas quando diminui não é bom.

Nereu – Na realidade, foi uma informatização. O Bradesco já tinha feito, então contrataram um cara de tecnologia do Banco do Brasil, e isso eu participei porque eu tava trabalhando no Mato Grosso e eu participava de reuniões com o pessoal de Brasília, isso foi nos anos oitenta e alguma coisa. Quando eles contrataram esse cara, eles fizeram uma base, contrataram a MBM, que era a maior indústria de computadores do Brasil, depois da Itautec, que era própria do Brasil, até começar a recuperar a MBM, que estava quebrada, demorou alguns anos, mas daí eles começaram a informatizar cobrança, informatiza tal coisa, então teve que mandar um monte de gente embora.

Nereu – Foi informatizada a agência em 82. No nosso talão de cheques, tu pode ver lá que foi em 82. Cliente a partir de 82.

Nestor – Funcionários é 71 e clientes é 1982.

 

 

 

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