
O prefeito de Manfrinópolis, Claudio Gubert (PP), decretou estado de calamidade pública depois do alagamento registrado na noite de quarta-feira, 9, que provocou prejuízos em toda a cidade. Segundo a Defesa Civil, cerca de 300 residências foram atingidas e 1.500 pessoas afetadas. Os rios Encantilado, Aparecida e Bufon não venceram escoar a enxurrada.
Em alguns pontos o nível da água subiu entre 8 e 10 metros, invadindo moradias, empresas e prédio públicos. As aulas foram suspensas para o restante da semana na rede municipal e estadual de ensino. O cenário ontem pela manhã era de catástrofe. Pelas ruas muita gente com botas de borracha e rodos nas mãos para limpar a sujeira.
Casas e carros foram levados pela correnteza, lama por todos os lados e lágrimas nos rostos das pessoas, que só paravam o trabalho de remoção do lodo para refletir sobre o desastre. O fornecimento de água, luz e telefone foi interrompido e retomado no decorrer do dia. Marta Regina de Araújo, 42 anos, foi arrastada pela enchente e morreu. Até ontem à tarde (18h30) continuava desaparecida uma idosa, Josephina Paris, 78 anos, que ficou dentro de uma casa levada rio abaixo.

O marido dela, Valentin Ramos, estava no telhado e conseguiu se agarrar em uma árvore. Ficou pendurado cerca de três horas até ser resgatado pelos policiais militares. A casa dele virou uma pilha de tábuas. Prédios públicos da saúde, educação, ginásio de esportes, biblioteca, destacamento da Polícia Militar e delegacia da Polícia Civil ficaram destruídos. No interior, a comunidade de São Sebastião da Bela Vista, popular Barra Grande, teve registro de danos em três casas, um aviário, estradas e cabeceiras de pontes. O vereador Augustinho Gandin, que mora na localidade, disse que o prejuízo estimado é de R$ 1 milhão. As equipes de interior ainda estão fazendo levantamento nas comunidades.
De acordo com o prefeito, “foi um dilúvio, a água descia dos morros de todos os lados, foi devastando tudo.” Na avaliação dele, cerca de 80% das famílias do perímetro urbano foram afetadas. Claudio disse que sempre teve esse medo, de uma forte enxurrada alagar a cidade, pois a sede do município está em um fundo de vale. “Obras importantes como o Colégio e o centro de idoso, que eram um sonho da nossa comunidade, ficaram arrasados. Nossa sorte que deu tempo de salvar três carros novos da Prefeitura.”

Ajuda humanitária
O município já iniciou uma campanha para arrecadar donativos e ajudar as famílias atingidas. “Vamos precisar de tudo, roupas, água potável, alimentos, móveis, material de construção, o que puderem doar.” As pessoas interessadas em colaborar podem ligar no (46) 3562-1001. O subtenente Marcos Gross, do Corpo de Bombeiros e da Coordenadoria Regional de Defesa Civil, relatou que deve chegar hoje, remessa de ajuda humanitária da Defesa Civil Estadual, com kits dormitórios, material de higiene, cestas básicas e colchões. Além disso, as pessoas que quiserem colaborar podem levar os donativos para a sede do quartel dos Bombeiros em Beltrão.

O coordenador municipal da Defesa Civil, Beto Guzzi, calcula que a enxurrada deixou um rastro de destruição com prejuízo de R$ 1 milhão no interior, entre estradas, pontes e demais benfeitorias; R$ 800 mil, com danos em prédios públicos e aproximadamente R$ 1,5 milhão no comércio. “É uma situação lastimável, mais de 80% da cidade está destruída, nem em 1984 na cheia que tivemos ocorreu tanto estrago”, frisa. O levantamento inicial indica 11 órgãos públicos afetados.

Cresol perdeu tudo
A água com lama que entrou no Posto de Atendimento (PAC) da Cresol de Manfrinópolis destruiu toda a mobília e os documentos. O gerente da unidade, Edivar Anater, afirmou que os agricultores deverão procurar novamente o estabelecimento, pois os contratos para liberação de recursos se perderam. “Temos os registros no sistema e aos poucos vamos entrando em contato.” Ele acredita que serão necessários cerca de 60 dias para colocar as coisas em ordem.

Mercado destruído
O empresário e vereador Caetano Alievi tem dois prédios na Avenida São Cristóvão, a principal da cidade, em um deles funciona o supermercado da família. A água molhou quase todos os produtos alimentícios do estoque. “Não tenho seguro, não tenho nem como mensurar o prejuízo.” Os carros que estavam na garagem nos fundos, duas Kombis e três automóveis, também ficaram danificados. Só um estava segurado. “Faz 18 anos que moro aqui e nunca vi isso.”

Muro do colégio desabou
A nova sede do Colégio Estadual São Cristóvão teve paredes danificadas e o muro que contornava a obra desabou. A construção estava prevista para inaugurar em janeiro, mas agora dependerá de uma nova avaliação do departamento de engenharia do Núcleo Regional de Educação. O professor Cleudes Jung contou que as aulas foram suspensas esta semana, porque a sede atual ficou sem água e luz. Segundo ele, a água nunca tinha chegado naquele terreno, por isso foi escolhido para que a obra fosse erguida. As paredes do centro de convivência dos idosos, que estava sendo construído ao lado do colégio, também caíram.

Ele esperava tranquilidade, mas veio o tormento
O aposentado Pedro Pessoa informou que em 10 minutos a água destruiu o que levou a vida toda para construir. Ele mora no local com a esposa há menos de um ano. Trabalhou como agregado em um sítio por 22 anos e no começo de 2015 resolveu se aposentar. Comprou uma casa na cidade para passar o resto de seus dias em tranquilidade. O casal se socorreu em cima da casa de vizinhos. “Subimos no telhado e ficamos pedindo ajuda, porque a água continuava subindo.” Os idosos ficaram muito assustados e pretendem se mudar. “Mas quem que vai querer comprar aqui depois disso? Eu só sei que aqui nós não ficamos mais, vamos financiar nem que seja uma casinha de 4m por 5 metros.”

Chegando em Carazinho teve que voltar
Sidnei da Costa estava chegando em Carazinho (RS), distante 420 quilômetros, quando recebeu o telefonema do desastre. Não esperou nem um minuto e fez o caminho de volta. A casa dele é de alvenaria e fica localizada na margem do Rio Encantilado. A água subiu cerca de 1,5 metro, destruindo todo o interior da moradia. Ontem ainda havia uma camada de uns 10 centímetros de lama dentro da residência. “Sorte que a minha esposa e a filha saíram e os meus pais, que moram ao lado, também.”

Família desolada
A família de Josephina Paris, 78, estava desolada com a falta de notícias da idosa que continuava desaparecida até por volta das 17 horas de ontem. Ela estava dentro da casa que foi arrastada cerca de 300 metros pela chuva. Quando enroscou em algumas árvores, a estrutura se desmanchou. Era uma casa mista e apenas a parte de alvenaria ficou no lugar. Salete Paris veio de Curitiba para acompanhar as buscas. Da casa, a única coisa que a família recuperou foi o quadro da família. “Ela era uma pessoa ativa, saudável, não sabemos nada do que aconteceu, porque o esposo dela está hospitalizado e não falou com ninguém ainda. Se soubéssemos até onde ele viu ela, poderia ajudar nas buscas”, disse Salete.

Carro levado pela água
Um dos carros do ex-prefeito Silomar de Oliveira, um Uno Mile, foi levado pela enxurrada e ficou prensado entre árvores a cerca de 300 metros de distância. No final da manhã, Silomar e alguns amigos foram com um trator para retirar o veículo do local. “Desviramos ele, mas estragou tudo”, lamentou. A esposa, Marli Pegoraro, contou que a família estava se preparando para as Missões, promovidas pela Igreja Católica, quando o rio começou a subir.

Ela lembra que só deu tempo do Silomar retirar um carro, quando voltou para buscar o outro a água já tinha levado. “Todo ano faço seguro, esse ano resolvi não fazer.” A preocupação se voltou para ajudar os vizinhos a deixarem suas moradias. Conforme relato de Marli, o casal de idosos, cuja casa foi arrancada, resistiu e não quis deixar a residência.

A loja se foi
Cleonor Flores trabalha de pedreiro e tem uma pequena loja de confecção. Todos os produtos do estabelecimento se perderam. Contabiliza ainda na conta do prejuízo dois carros que estavam na garagem. Só tirei a mulher e a filha, nem deu tempo de pegar os documentos. “Minhas ferramentas e a betoneira foram embora, ainda não sei onde parou.”
