“Parece estranho, mas fui presidente da entidade por sete anos, por falta de interessados em presidi-la. Foram anos áureos de Dois Vizinhos e tudo valeu a pena.”
O empresário e comunicador Valdir Pagnoncelli estava sentado em sua sala, na Rádio Educadora, na terça-feira à tarde, folhando o livro-ata das primeiras diretorias da Associação Industrial e Comercial de Dois Vizinhos, atual Acedv, que está completando 40 anos em 2016. Com o ar-condicionado mantido em uma temperatura bastante agradável, frente ao calorão de mais de 30 graus que fazia lá fora, Valdir recebeu a reportagem do Jornal de Beltrão para um bate-papo sobre histórias que levaram à criação da principal entidade empresarial do município na década de 70 – nasceu no feriado de 21 de abril de 1976. De acordo com o empresário, a entidade foi criada pela união de esforços das mais diferentes lideranças da época, partindo a ideia de dentro do Rotary Club de Dois Vizinhos.
Naquele tempo, o Centro Pastoral de Santo Antônio, palco dos primeiros encontros dos empresários, era o ponto dos grandes acontecimentos da comunidade, não existiam na cidade auditórios nem centro de eventos ou convenções. O tradicional Clube Sete de Setembro foi destruído pelo fogo em 30 de dezembro de 1974.
No começo, quem bancava as despesas da entidade eram os próprios membros da diretoria; mais tarde, em 1983, ficou definido que para se associar o empresário tinha que pagar uma joia (taxa) de 10 mil cruzeiros e depois uma mensalidade de 600 cruzeiros.
Valdir foi fundador da associação e o presidente que mais tempo ficou no cargo, completando dois mandatos. “Nós entendíamos que tudo o que fizéssemos em favor do crescimento do comércio e do município, de alguma forma, retornaria para a rádio”, declarou, sobre o trabalho na entidade.
O começo de tudo
Ele se recupera de um problema de saúde, está um pouco afônico, mas fez questão recordar as boas lembranças da Acedv. O primeiro presidente, Ildo Nicaretta, era vereador, industrial e exercia outras funções, por isso teve que se afastar, ficando a Associação Comercial desativada por três anos.
Dia 13 de outubro de 1979, Valdir Pagnoncelli foi eleito presidente. A Rádio Educadora foi a grande incentivadora, apoiadora e patrocinadora da entidade. “Em 22 de outubro de 1979, fizemos reunião da diretoria em pé, na futura sede, na Rua Rio Grande do Sul, 374, numa sala minúscula de propriedade de Sérgio Slongo Giroletti. Formalizamos pedidos ao Bamerindus, Banestado e Banco do Brasil para nos fornecer móveis usados. Compramos do empresário Euclides Pinzon o telefone comercial 36-1235 (hoje 3536-1235), o valor pago foi 25 mil cruzeiros.”
Seproc e CDL
Em 1979 foi criado o Clube de Diretores Lojistas (CDL), com objetivo de proteger o crédito através do Seproc – as duas entidades estavam juntas na época. “Com a criação do CDL, foi contratado serviço da dona Velani Gioretti a partir de 1981 para cuidar do então Seproc (Serviço de Proteção ao Crédito), atual SPC. Nestas épocas foram importantes os serviços prestados pelo profissional Silvio Slongo na montagem do SPC.”
Atravessadores
Vez que outra Valdir recostava em sua cadeira, erguia os pés sobre a mesa, colocava as mãos atrás da cabeça, para viajar no tempo. Ele recorda que havia uma reclamação muito grande por parte dos comerciantes de suíno e feijão, principais atividades econômicas da época, sobre as taxas cobradas pelo Estado e que tinham que ser recolhidas antecipadamente nas coletorias (agências de renda). “A Acedv discutia com o Governo do Estado a famosa ‘pauta do feijão e do porco’. Os comerciantes recebiam a pecha do governo de atravessadores. Ocorre que o governo estabelecia um preço para o comerciante vender, mas às vezes as oscilações do mercado faziam pagar um imposto maior do que efetivamente se vendia o produto.”
O empresário afirmou que a rebelião que começou por Dois Vizinhos foi bem-sucedida, pois o governo atendeu a reivindicação das lideranças locais.
Carta da Realidade
Além disso, a Acedv teve muitas outras ações importantes para a comunidade. Como a Carta da Realidade Empresarial de Dois Vizinhos, que propunha um estudo sobre o momento de dificuldade enfrentado pelo município no passado.
Cheia do rio
Em 1983, uma forte enchente castigou municípios da região, deixando inúmeros prejuízos, e no aspecto econômico e político existiam muitas incertezas, acima de tudo recessão e desestímulo ao investimento. Naquele ano também, a Acedv discutia o credenciamento da Policlínica Santo Antônio, do médico pioneiro Guajará Jesus da Cruz Gazzalle, no antigo Instituto Nacional de Previdência Social (INPS); a necessidade de se criar um plano diretor para planejar a expansão da cidade etc.
Recursos para microempresários
Teve ainda uma importante atuação para viabilizar recursos para financiar a atividade de empresários locais. Em 1980, nove microempresas conseguiram empréstimo no BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul) através da Acedv e o ProMicro (Programa de Apoio à Micro Empresa). “Lembro de uma vez que recepcionamos o presidente do Banestado, Carlos Almeida (em memória), que viabilizou aproximadamente 15 milhões de cruzeiros para beneficiar vários micros e pequenos empresários do nosso município.”
Como a Sadia (BRF) se instalava em Dois Vizinhos em agosto de 1978, em 25 de maio de 1980, Dia da Indústria, foi reunido no Clube Sete de Setembro um grande número de empresários de todos os ramos de atividades para homenagear a indústria. O tema da noite foi “Atividades paralelas à Sadia”, das quais mais se destacaram transportes, metal mecânica e serviços. “Parece estranho, mas fui presidente da entidade por sete anos, por falta de interessados em presidi-la. Assim estive presidente de 1979 a 1981 e de 1982 a 1985. Foram anos áureos de Dois Vizinhos e tudo valeu a pena.”
PRIMEIRA DIRETORIA
Ildo Nicaretta, presidente; vice-presidente, Olindo Pedro Pagnoncelli; 1º secretário, Santino Vitto; 2º secretário, Valdair Luiz Guzzo; 1º tesoureiro, Euclides Pinzon; e 2º tesoureiro, Deonildo Bernardi.