15.7 C
Francisco Beltrão
terça-feira, 17 de junho de 2025

Edição 8.227

17/06/2025

Dia das Mães: Como lidar com a perda de um filho?

“Busquei seguir um dia de cada vez”, diz Keli Folquini, mãe de Maurício Folquini Bellin.

 

Como lidar com a perda de um filho? Na foto, Keli Folquini e o filho, numa apresentação do Colégio Glória,
onde ela trabalha e ele estudava. 

 

Seguir em frente após a morte de um filho parece uma tarefa impossível, mas Keli Folquini mostra que a superação é diária, com o apoio de Deus, da família, de amigos e de seu marido Evandro Bellin. Ela é mãe de Maurício Folquini Bellin, que faleceu em 12 de março de 2015, 20 dias antes de completar 4 anos, em decorrência de um tumor tronco-cerebral. Logo que a doença foi identificada, Maurício iniciou a batalha pela vida. Diante de um tumor invasivo e que crescia rapidamente, o diagnóstico clínico previa apenas 20 dias, mas se passaram sete meses até seu falecimento. 
Keli acredita que esses meses a mais são decorrentes do fato de Maurício estar o tempo todo junto com os pais e familiares, recebendo cuidados e amor, bem como das orações e dos vários tratamentos buscados em diversos lugares do Brasil. “Foi uma verdadeira ação de Deus através das pessoas”, afirma Keli, que procura amenizar a saudade com as boas lembranças. “Eu sempre falava: ‘que nada aconteça com Maurício, minha mãe e meu pai, porque eu não aguento’. Então, quando me pedem como agora eu consigo, eu respondo ‘não sei’, porque sempre pensei que fosse incapaz de passar por isso.” Ela acredita na força vinda de Deus e de seu anjo Maurício.
Para amigos e familiares, a saudade é grande, mas para os pais, Keli e Evandro, ela é imensa. “Busquei seguir um dia de cada vez, não criando muitas expectativas com datas, como o Dia das Mães. Tenho suporte das pessoas que amo e vou procurar passar esses dias com elas, como minha mãe, por exemplo, e lembro que não tenho a presença física dele aqui, mas ele vive. Ainda sinto o seu cheiro”, comenta Keli. “Eu não tenho por que me lamentar, se ele não está aqui é por um bem maior, por uma escolha que não cabe a nós, mas é difícil pensar que domingo (dia 8) vai ser mais um dia sem ele.”
Ela rezou e ainda reza muito. Foi muitas vezes ao cemitério, por ser um local de paz, onde passava tardes conversando com o filho, e agora já não tem esta necessidade, sinal que a ferida está um pouquinho mais cicatrizada. Todas as manhãs, em suas orações, Keli diz ao filho o quanto o ama e, no caminho para o trabalho, olha para o céu e agradece o período que ele passou aqui, independentemente se estiver um dia lindo de sol ou cinza de chuva, afinal de contas, “quem faz um dia bonito ou não somos nós”, declara com sabedoria.
Cada minuto com intensidade
Ela viveu intensamente cada minuto ao lado de Maurício e registrou seus melhores momentos, dos mais divertidos até aqueles de birra, e ainda a tristeza de lutar contra o câncer. A dor maior é o ambiente escolar, pois Keli continua trabalhando no Colégio Nossa Senhora da Glória, onde Maurício estudava. Ele era seu “companheirinho”, estavam sempre juntos, desde o seu nascimento. O fim da tarde é o pior horário, porque até então nunca havia ido ou voltado do trabalho sozinha. “É muito dolorido sair da escola todos os dias, porque desde bebê ele ia comigo. Sair do ambiente que estávamos o dia todo sem ele é muito difícil.” 
A mochila da escola continua arrumada, inclusive com uma roupinha extra e com a agenda, desde agosto de 2014, quando tiveram o diagnóstico do tumor. Em um ano e dois meses sem a presença física, Keli conta que ela e Evandro já precisaram passar por alguns desprendimentos. O primeiro foi dos remédios e suplementos para sonda, entregues ainda na primeira semana para quem precisava; seguidos das roupas, calçados e brinquedos, mas a mochilinha continua fechada, bem como seu perfume e as escovas de dente e de cabelo, que permanecem lá. “Precisamos passar por momentos de desapego de coisas simples, como do último Danoninho na geladeira, que ficou lá por meses e ninguém quis pegar, mas isso precisou ser aos poucos e de uma forma que conseguimos suportar.”

- Publicidade -
Todas as manhãs, em suas orações, Keli Folquini diz ao filho o quanto ela o ama e, no caminho para o trabalho, olha para o céu e agradece o período que ele passou aqui.

 

O luto tem fim?
“Não sei dizer se o luto tem fim. Pra mim, ainda não teve”, pontua Keli. Ela e Evandro viveram o luto de formas bem diferentes no início, conforme cada um considerava mais suportável, ocupando o tempo a sua maneira e isso causou divergências ao casal. Foi um período que, diante da dor, não souberam lidar com a perda e veio o afastamento por quatro meses. “Nesse tempo, cada um tentou fazer o que considerava certo. Mais tarde, buscamos ajuda de outros profissionais, tivemos mais clareza e cada um viu o que realmente queria. Quando a gente separa, dá abertura para outras pessoas e assim deixamos que nos machucassem. Foi importante como crescimento, para ver quais atitudes faziam a gente se afastar e de que forma teríamos que achar o nosso equilíbrio.”

Há outros caminhos
“Tem que seguir. Há outros caminhos para escolher, mas acho que são bem mais difíceis”, enfatiza Keli, que enfrenta sensações contraditórias, diante da saudade que só aumenta. Existe a ansiedade para que o tempo passe e ela possa reencontrar o filho, num sentimento de pressa. Por outro lado, afirma estar consciente do que precisa viver, aguardando a vontade de Deus e o cumprimento de um ciclo. 
A ocupação do tempo também ajuda a amenizar o sofrimento. Keli fez duas pós-graduações e cursos de meditação e terapêuticos, áreas que foram muito utilizadas durante o tratamento de Maurício “e ajudou a acalmar nosso coração”. Esta semana, por exemplo, ela esteve em Porto Alegre (RS), num curso sobre meditação cristã oferecido pela rede das Irmãs Escolares de Nossa Senhora (Iens), juntamente com colegas do Colégio Glória, a quem é muito grata por todo apoio e orações no período em que seu filho esteve em tratamento e ela precisou se afastar da instituição. 
Durante o dia, Keli permanece na escola, mas no final da tarde trabalha como psicopedagoga e faz meditação para crianças e adolescentes no Centro de Especialidades Pequeno Príncipe, que, em conjunto com a equipe de profissionais, inicia um trabalho com gestantes. “Trazer um pouco de conforto para essas mães e pais e estar em contato com as crianças me ajuda também, cuido de cada criança da mesma forma que gostaria que cuidassem de meu filho.”

Keli com o marido Evandro Bellin, Maurício no colo e Gabriel Bellin, seu filho emprestado, como ela mesma diz. 

 

 

Medo de todas as mães

A morte fez com que Keli vivenciasse o maior medo de todas as mães, que é perder um filho. Para abrandar a dor da ausência, ela procura conversar com outras mães que passam pelo mesmo momento e, assim, tranquilizar a alma. 
Em nenhuma ocasião Keli se revoltou com a perda. “Tem dias que a única coisa que a gente tem que acreditar é Deus, então se revoltar contra ele já parte para aquele caminho mais difícil que eu falei. Eu apenas me questionava: por que ele e não eu?”
Sobre ter outro filho, responde: “Já estamos conseguindo conversar sobre o assunto, mas precisamos ir com calma, não queremos transferir emoções para outro ser que venha. Muita coisa tem que estar curada no coração, para que não esteja sangrando tanto. Precisamos estar maduros e prontos para não ficar pensando: meu outro filho vai ter câncer? Vou perdê-lo também? Então, mais uma vez pedimos que seja feita a vontade de Deus e, se assim ele quiser, logo teremos outro bebê para amar e fazer os nossos dias ainda mais felizes”.
Neste Dia das Mães, Keli quer deixar um abraço especial a todas as mães, principalmente para a sua, chamada Ires, que neste mês completa 71 anos. Para as mães de anjo, diz: “Sei muito bem como será seu dia, mas com todo seu amor, faça dele um belo dia, pois seu anjo não gostaria de te ver triste, aproveite estar com pessoas que ama e te façam bem. Eu farei o mesmo, ficando com minha família, com meu marido Evandro e com meu filho emprestado Gabriel, os dois homens da casa, a quem sou muito grata por estarem do meu lado diariamente, mesmo em dias nublados.”

Maurício numa das últimas homenagens que fez à mamãe Keli.

 

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques