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Francisco Beltrão
segunda-feira, 16 de junho de 2025

Edição 8.227

17/06/2025

Sem acordo, agricultores paralisam obras da Usina Baixo Iguaçu

Manifestantes pedem uma indenização justa pelas terras que vão ser alagadas pelo reservatório da usina.

 

Agricultores que terão suas terras alagadas pelo reservatório da futura Usina Hidrelétrica Baixo Iguaçu estão acampados desde segunda-feira em frente ao canteiro de obras, na comunidade de Marechal Lott, em Capanema.  
Foto: Marcos Kuchinski/JdeB

 

Desde a madrugada de segunda-feira, dia 5, centenas de agricultores estão reunidos no entorno do canteiro de obras da Usina Hidrelétrica Baixo Iguaçu – entre Capanema e Capitão Leônidas Marques – impedindo o trabalho da construção e controlando a entrada e saída de pessoas no local.
Esse grupo de manifestantes é composto em sua grande maioria pelos moradores dos arredores da obra, pequenos agricultores que possuem suas terras e tiram seu sustento da área que será inundada pela formação do lago que servirá como reservatório da nova usina. 
Há três anos, quando a obra da Usina Baixo Iguaçu começou, os agricultores souberam que perderiam suas terras e, desde então, têm tentado se acostumar com a ideia, aguardando, no meio tempo, que o Consórcio Empreendedor Baixo Iguaçu (Cebi) apresentasse um reassentamento ou a indenização pelas perdas.
E foi aí que surgiu o problema. Desde o início da obra os agricultores não conseguem um consenso com a empresa no sentido de receber uma indenização que considerem justa, ou um reassentamento para onde possam se mudar mantendo – pelo menos – a qualidade de vida que possuem hoje.
Os atingidos afirmam que os valores e áreas propostos pela empresa estão muito aquém do valor de suas terras e, para justificar a contestação, apresentam estudos da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, com uma comprovação do próprio Governo do Estado de que os valores propostos estão defasados.
Eles dizem ainda que os representantes do Consórcio se mostram “desinteressados das negociações”, não comparecem às reuniões e, quando comparecem, mostram descaso e não chegam próximo de um ponto consensual. 
Por isso, os agricultores consideraram necessária mais essa paralisação, que começou na segunda-feira, às 4h30 da manhã, e seguia até o fechamento desta edição. Quando o Jornal de Beltrão entrou em contato com os manifestantes, a informação foi de que a polícia estava no local e os agricultores afirmaram que não se retirariam. 
Ao fim da tarde, a polícia já tinha ordem judicial para retirar os manifestantes. “Se eles resolverem levar a gente preso, vão ter que prender todo mundo”, afirmou Sidney Martini, um dos agricultores que terá suas terras inundadas.
Sidney reforçou ainda que os agricultores querem evitar violência: “Estamos fazendo aqui uma reivindicação justa, porque é uma injustiça o que está acontecendo com a gente”. Hoje a obra já está 65% pronta e não há nenhuma previsão de consenso entre as partes. Mais de mil famílias devem ser afetadas pela formação do lago.
“O que a gente tá vendo é que falta um pouco de sentimento e consideração. Que ninguém aqui pediu barragem. Ninguém é contra o crescimento econômico, a modernidade, mas só nas costas dos atingidos? A gente vai ter que sair do lugar onde a gente passou a vida inteira, nasceu, cresceu, criou os filhos da gente, pra ter que ir pra outro lugar. E como vai ser lá? Aqui a gente sabe como tá. A gente tava feliz. E daqui pra frente, o que vai fazer da vida?”, questionou Izabel Gonçalves, que vive com seu marido, Élio Foss, em uma propriedade que vai ficar 70% debaixo d’água.

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Tropa de choque e policiais militares foram até o canteiro de obras no fim da tarde de ontem,
com ordem judicial para retirar os manifestantes.

 

 

 

 

Nota de Esclarecimento

O Consórcio Empreendedor Baixo Iguaçu (CEBI), formado pelas empresas Neoenergia e Copel, repudia a ação do MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens na manhã desta segunda-feira (5), que culminou no bloqueio das estradas de acesso ao canteiro de obras da UHE Baixo Iguaçu. O consórcio sempre manteve canal aberto de diálogo e participou das reuniões agendadas pelo Governo do Estado do Paraná, através do Exmo. Senhor Chefe da Casa Civil, Waldir Rossoni, com a presença do Ministério Público e demais autoridades. Em função dessas negociações com todos os envolvidos, o CEBI reajustou o caderno de Preços 2013 em 20,06%, após pesquisa de mercado nos municípios envolvidos na área de implantação da Usina Baixo Iguaçu, e apresentou 11 áreas para reassentamento, sendo que duas destas áreas foram visitadas com representantes da Comissão dos Atingidos e do Governo do Paraná, conforme especificações que atendem às necessidades dos reassentados. O CEBI reafirma seu compromisso com o diálogo, mas rejeita qualquer ação de força que venha a interferir no processo de negociação entre as partes, que até aqui se deu num ambiente de respeito e paz. O consórcio retornará prontamente às negociações tão logo cesse o bloqueio da estrada de acesso e informa que já providenciou todas as medidas legais para garantir a entrada e saída de máquinas e colaboradores do canteiro de obras. Providenciará, ainda, todas as medidas a fim de responsabilizar os culpados por eventuais danos.

 

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