16.3 C
Francisco Beltrão
terça-feira, 17 de junho de 2025

Edição 8.227

17/06/2025

Há cem anos, acordo encerrava disputas entre dois estados e criava o Sudoeste do Paraná e o Oeste de Santa Catarina

Os acertos e desacertos ocorridos na fronteira, neste século de grandes transformações.

O Acordo de Limites, oficializado em 20 de outubro de 1916, encerrava uma disputa de divisas entre Paraná e Santa Catarina que se arrastava por quase 63 anos e criava o Sudoeste do Paraná e o Oeste de Santa Catarina. Foi assinado no Rio de Janeiro entre os dois governadores, o paranaense Afonso Camargo e o catarinense Filipe Schmidt, tendo como árbitro o presidente da República Wenceslau Braz.
O ato provocou protestos e a tentativa de criar, na antiga área contestada, o Estado de Missões. O Paraná e municípios como Palmas e Clevelândia perderam terras e teve propriedades que foram divididas ao meio; também teve paranaense que mudou de lugar, para não ficar em Santa Catarina, e uma consequência desse sentimento foi a criação da Colônia Bom Retiro, futura Pato Branco. 
Passado um século, a maioria da população da fronteira nem sabe que essa definição de limites ocorreu há exatos cem anos. O objetivo desta reportagem é mostrar como está agora a fronteira entre os dois estados, quem é que a habita, o que faz e o que diz sobre vantagens e desvantagens de residir nessa região.
Naquele tempo, o Sudoeste do Paraná e o Oeste de Santa Catarina pertenciam a apenas dois municípios: Palmas e Clevelândia. Hoje tem 42 no Paraná e 98 em Santa Catarina, sendo 18 somente na fronteira – 8 do Paraná e 10 de Santa Catarina.
A fronteira era tomada por campos e florestas nativas. Hoje, florestas restam poucas, o que mais se encontra é lavoura e pastagem. Há moradias, vilas e cidades. 
A área contestada recebeu novo traçado de divisas desde a fronteira com a Argentina até Mafra e Rio Negro, já próximo a Curitiba, mas esta reportagem, que se limita ao Sudoeste, vai até Palmas. Nesse trecho de limites, encontram-se as cidades de São Lourenço do Oeste (SC), Campo Erê (SC), Flor da Serra do Sul (PR) e as gêmeas Dionísio Cerqueira (SC) e Barracão (PR).

Casal bem humorado
Próximo a Flor da Serra do Sul, bem ao lado do asfalto, desde 1984 reside o casal de idosos Guido e Alcina Ronke Grings, procedentes de Três Passos (RS). A propriedade tem uma parte (20,6 hectares) no Paraná e uma parte (0,3 hectare) em Santa Catarina. Bem-humorado, Guido conta: “Quando eu cheguei, me disseram que se uma mulher mija aqui, corre pros dois lados”. E Alcina emenda: “Se dá bronca num Estado, a gente vai pro outro sem sair da nossa terra”.
A propriedade era maior, media 24 hectares. Uma parte ficou com o asfalto que passa no meio. Guido não esquece que, lá por 1986, ele foi um dos primeiros a negociar a desapropriação e, segundo ele, negociou mal: “Eu peguei 64 pilas e os outros (vizinhos) que pegaram menos ganharam 90. Só que dinheiro e bordoada não volta mais”.
O que mudou, após a construção do asfalto, foi a ocorrência de acidentes. Guido e Alcina contam que já viram muitos. Num dia de neblina, até vacas foram atropeladas. E o motorista se machucou? “Não, ele tava bêbado e dizem que bêbado não se machuca.”
Guido responde às perguntas sentado numa cadeira de rodas. Não pode caminhar devido a uma cirurgia no quadril. A esposa Alcina, que o atende, brinca: “Agora, se ele quer me pegar pra me dar uns tapas, eu corro e ele não me pega”.

Guido e Alcina: “Dinheiro e bordoada não volta mais”.

 

- Publicidade -

Propriedade destaque
Também no município de Flor da Serra reside o casal Nelson e Italina Ortolan com os filhos Tarso e Sandra. Sua terra está toda no Paraná, fazendo divisa com Santa Catarina. A família se especializou na criação de gado de leite e recebeu o Prêmio Destaque de Propriedade Sustentabilidade (promoção da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná – Seab). Ele diz que a organização é o primeiro passo para tudo. Também é preciso dedicar-se e ser um profissional no que faz.
Sobre a vida na fronteira, eles não lembram de ter tido problemas, inclusive usufruem dos dois lados. A propriedade pertence à Linha Alvorada, no Paraná, mas, desde que vieram de Sarandi (RS), Nelson e Italina frequentam a Sede Marina, de Santa Catarina, uma comunidade mais antiga, já era formada quando chegaram.

Italina e Nelson Ortolan têm propriedade destaque na divisa do Paraná com Santa Catarina.

 

Família unida, votos divididos
Jair Vicente Tomazi reside na Linha São Roque, distrito de Idamar, município de Dionísio Cerqueira, mas tem as terras, as lavouras e o gado parte em Santa Catarina e parte no Paraná. Um trecho da divisa é marcado por uma cerca, outra parte nem isso, é tudo pastagem. Ele aponta para a pequena coxilha verde de aveia e fala “a divisa passa ali na caixa d`água que está no meio do pasto”.
A família é normal, vive unida, mas os votos são divididos. Jair e a esposa, Rosane, votam em Dionísio Cerqueira (SC) e os filhos, Douglas, de 24 anos, e Andriele, de 18, votam em Barracão (PR).
Também as águas que nascem na propriedade são divididas. De um lado correm para o Rio Capanema e o Iguaçu, no Paraná, de outro correm para Rio do índio, o Peperiguaçu e o Uruguai, em Santa Catarina.

Jair Tomazi e o marco que divide o Paraná de Santa Catarina e separa o gado entre as pastagens,
mas não separa sua propriedade, que se estende pelos três lados.

 

O que pode e o que não pode, de cada lado da fronteira
Alceu Bampi, 62 anos, gaúcho de Erechim, é um pequeno proprietário da fronteira. Possui quatro alqueires e não pode vender porque é de um assentamento. “Não passaram os títulos pra nós porque senão vêm os fazendeiros e arrematam tudo dos pequenos aqui.” Do lado catarinense, são grandes propriedades; do lado paranaense, região da capela de Nossa Senhora dos Navegantes, são pequenas. Dos dois lados, as terras são planas e, segundo Alceu, valem R$ 100 mil o hectare.
O sítio fica a uns 1.500 metros da cidade de Campo Erê, mas pertence a Marmeleiro, cuja sede fica a 36 quilômetros. É lá que o agricultor paga impostos, tira nota e recebe atendimento de saúde. Mas faz compras e vendas em Campo Erê, que é mais perto. A divisa de sua propriedade com a Fazenda Santa Clara, da família Viganó, é a estrada, a mesma divisa dos dois municípios e dos dois estados. Alceu cita duas diferenças entre um e outro lado da estrada: “Eu não posso plantar soja safrinha, eles podem. Eu tenho que vacinar meu gado, eles não, porque Santa Catarina é livre de aftosa sem vacinação. Agora, se eu precisar atravessar a estrada com uma vaca, tem que tirar licença e tudo mais”.

Alceu Bampi em sua propriedade de Marmeleiro, tendo ao fundo o gado da Fazenda Santa Clara, da família Viganó.
A estrada é a divisa. Aqui tem que vacinar o gado, lá não.

 

Comprando e vendendo terras na fronteira
Dário Valdeni Griebeler, 63 anos, é um dos grandes proprietários localizados na divisa do Paraná com Santa Catarina, entre os municípios de Flor da Serra do Sul e Dionísio Cerqueira. Ele comprou várias propriedades, nos dois estados, e hoje possui 180 alqueires, de várias escrituras – 44 alqueires no Paraná e 136 em Santa Catarina. Ele conta que ganhou dinheiro fazendo negócios de terra, vendia num lugar, comprava no outro, vendia de novo. 
Já teve aviário e gado de leite, agora só gado de corte (120 cabeças) e produz soja, milho e feijão, tudo com maquinário próprio. Também cria peixes, seu açude é um dos maiores da região, com cerca de sete hectares.
Griebeler conta que não enfrenta maiores problemas por possuir terras nos dois Estados. O que precisa fazer é se deslocar seguidamente entre as duas cidades. Paga impostos em Flor da Serra, onde reside, e também em Dionísio Cerqueira, a 35 quilômetros. Tira nota de produtos para os dois estados, conforme a propriedade. 
Natural de Monte Negro (RS), casado com Nelci, tem três filhos. No dia desta reportagem, ele lamentava a morte recente de um de seus seis netos, em acidente.

Dário Griebeler ao lado de um dos marcos que restaram na divisa do Paraná com Santa Catarina, muitos outros
foram arrancados junto com o destocamento das áreas de lavouras.

 

 Como chegar ao alto dos 1.093 metros do Morro do Divisor
O Morro do Divisor, na divisa de Vitorino (PR) e Jupiá (SC) é o ponto culminante da divisa entre os dois estados na microrregião de Francisco Beltrão (nos campos de Palmas tem locais com mais de 1.300 metros de altitude). De diferente deste mosso com a paisagem da região, só a altura, pois a vegetação é a mesma das partes mais baixas. Os proprietários, casal Paulo e Matilde Chiochetta Rech, residentes no local há 54 anos, contam que em toda a subida e lá no alto havia mato de canelas, cedros, angicos, só não havia pinheiros. Eles derrubaram pra plantar milho e abóbora e criar porco solto. Hoje todo o morro, do lado paranaense, tem pastagem. E é devido à pastagem que foi cortado o acesso. Seu Paulo fala que os visitantes deixavam as porteias abertas, “e o gado se misturava”. Acesso de carro, hoje, somente do lado de Santa Catarina, chega-se embarcado até 200 passos do ponto mais alto, onde tem uma antena que mede os ventos.
O Morro é bem frequentado por amantes da altitude, como o Clube de Voo Livre Divisor dos Ventos.
A Prefeitura de Vitorino já iniciou a pavimentação da estrada que dá acesso ao Morro, mas está ainda na sede da comunidade de Alto Caçador, faltam dois quilômetros para chegar ao pé do Morro.

A paisagem mudou
O pouco que resta dos campos nativos de Palmas (PR) e Água Doce (SC) é igual a cem anos atrás. Num solo raso e ligeiramente ondulado, tem grama, carqueja, rabo-de-burro e animais pastando, com poucas pontas de mato. Grande parte desses campos foram transformados em lavouras de milho, soja e trigo. Porém a mudança maior, na paisagem, veio com a instalação das usinas eólicas, desde o final dos anos 90. O que favorece não é a falta de árvores, e sim a altitude: média de 1.300 metros do nível do mar.
A Copel instalou as primeiras cinco unidades no lado paranaense. Depois outras empresas foram enriquecendo o cenário do lado catarinense, com torres que variam de 40 a 120 metros. 
Em 2002, a EDP Renováveis Energias, de Portugal, iniciou a instalação de 23 aerogeradores, 15 no Parque de Água Doce e 8 no Parque Horizonte, iniciando a produção de energia em 2004.
Em 2011, a Impsa Indústria Metalúrgica Pescarmona S/A, que tem sede na Argentina, junto com a Caixa Fundo de Previdência e o BNDES, iniciou a instalação de mais 86 usinas, todas em Água Doce. Assim, o centenário será marcado pela presença de 114 gigantes cata-ventos, que não existiam nem na imaginação humana cem anos atrás. E há projetos para dobrar, ou mais, o número de usinas.
O vento, que nesta região prejudica a agricultura e a fruticultura, gera riquezas através da energia eólica. E muita coisa mudou a partir da instalação das usinas. O palmense João Manoel de Souza, por exemplo, tem nova atividade. Ele cuidava de uma fazenda e há 13 anos é o chefe de parque da EDP.

As usinas eólicas mudaram o cenário dos campos de Palmas.

João Manoel admite que a geração de empregos ocorreu no tempo da construção das usinas, eram dezenas de funcionários. Na manutenção, empregos diretos são pouco mais de uma dúzia, incluindo as três empresas, mas há os indiretos, regularmente a região recebe profissionais de empresas terceirizadas. 

Outra mudança observada por João Manoel é o fluxo turístico. “Todo mundo que passa na BR para pra ver.” E tem ainda o rendimento proporcionado pelas usinas aos proprietários das terras. Conforme a quantidade de aerogeradores, o proprietário pode faturar mais com a energia eólica do que com o gado. Cada usina pode render até R$ 3.000 por mês.

João Manoel de Souza, chefe de parque: o turismo aumentou.

 

 Convivência pacífica
Nos primeiros tempos após a assinatura do Acordo de Limites, houve contestações e manifestações. Segundo o historiador Ruy Wachovicz (Paraná, Sudoeste, Ocupação e Colonização), o deputado José Cleto da Silva, “conspirou contra o acordo. A sua meta passou a ser a criação do Estado das Missões”. Faltou-lhe apoio popular e o movimento iniciado por ele não prosperou.
Outro acontecimento citado por Wachovicz foi a criação da Colônia Bom Retiro (futura Pato Branco), em 7 de maio de 1928. “Inúmeros eram os paranaenses descontentes que, por diversos motivos, não queriam permanecer sob a jurisdição catarinense”.
Broncas maiores, como estas, devem ter ficado para aqueles primeiros tempos. Duas pessoas ouvidas pela reportagem mostram que nas últimas cinco décadas a convivência tem sido pacífica. O atual presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, Ademar Traiano, foi prefeito de Santo Antônio do Sudoeste de 1986 a 1988, depois se elegeu deputado e continuou sempre na vida pública. Nesses 30 anos, ele não lembra de alguma bronca provocada pela divisa entre os dois estados, nem no seu tempo de prefeito, nem em seus já 26 anos de deputado.
Também o advogado João David Folador, que reside em São Lourenço do Oeste desde 1972, nunca pegou uma causa provocada por problema de divisas entre os dois estados.
O que se vê, muito, é comentário sobre futebol. Como a maioria veio do Rio Grande do Sul, o clube preferido é Internacional ou Grêmio.

João Manoel de Souza, chefe de parque: o turismo aumentou.

 

Bairros de Vitorino em São Lourenço
Correspondências não chegam ao destinatário, viagens são perdidas porque dois bairros de Vitorino estão localizados ao lado da cidade de São Lourenço do Oeste, a 13 quilômetros de distância. É que a cidade catarinense cresceu e invadiu terras do Paraná, no município de Vitorino.
O primeiro bairro, São João, é mais antigo e foi sendo formado como uma extensão da cidade. O segundo, Araucária Park, é mais recente e surgiu de loteamentos formais, na última década.
Alceu de Oliveira, 70 anos, afirma ser o primeiro morador do Araucária Park. Ele diz que comprou no novo loteamento devido ao preço. Vendeu o terreno onde morava, de 180m², por R$ 35 mil e comprou um de 360m² por R$ 16 mil, ou seja: o dobro de terreno por menos da metade do preço. Deixou sua metalurgia para abrir loja, junto com a esposa Maria Luíza e a filha Serli.
Assim como a família de Alceu, há centenas de outras que mudaram de São Lourenço para o novo bairro de Vitorino, levados pelas facilidades do loteamento, que, além de melhor preço, também é mais próximo do centro da cidade. 
Vários problemas surgiram. Os impostos devem ser recolhidos em Vitorino e os benefícios sociais também devem vir de lá. E o voto? Se reside em Vitorino, deve votar em Vitorino, mas trabalha em São Lourenço, cujas empresas dão preferências a eleitores de seu município. Qual a saída?

Na loja, a filha Serli, os pais Alceu e Maria Luiza de Oliveira, o vizinho Evandro Biavatti e Valter dos Santos (do Departamento do Meio Ambiente da Prefeitura de Vitorino).

 

Um muro não é a solução
O prefeito eleito de São Lourenço, Rafael Caleffi (PMDB), tem propostas para este caso. Ele começa dizendo que “não podemos construir um muro para separar os bairros de Vitorino, temos que manter a parceria, primeiro porque a grande maioria são lourencianos”.
Na visão do novo prefeito, a criação desses bairros em Vitorino ocorreu porque São Lourenço esteve “engessado” nos últimos anos. Sua proposta é para, “já no primeiro mês de governo, rever o plano diretor e desengessar a expansão da cidade com a aprovação de novos loteamentos”.

Só se mudar o acordo de limites
O advogado João David Folador concorda que o surgimento dos novos bairros em terras de Vitorino aconteceu devido ao preço dos terrenos de São Lourenço. Segundo ele, um ponto de destaque da cidade, as ruas largas, também onera os loteamentos. Além disso, a cidade é cercada de grandes “buracos” ou canhadas, onde se formam os rios. Folador, que já trabalhou para a Prefeitura de Vitorino, não acredita que os bairros sejam incorporados pela cidade de Vitorino, até porque distam 13 quilômetros, assim como não vê possibilidade jurídica de serem incorporados por São Lourenço: “Só se mudar o acordo de limites, mas aí teria que mudar também em União da Vitória-Porto União, Rio Negro-Mafra…”

A nascente do Rio Chopim
O mais importante rio totalmente sudoestino é o Chopim, que deságua no Iguaçu. Nasce em Palmas, na Fazenda Santa Rita, propriedade de Josué Guimarães, popular Zuzu. Para quem passa na rodovia é fácil localizar as nascentes, ficam uns 200 metros abaixo da placa que indica a divisa entre os municípios de Palmas e General Carneiro.
Não há indicação sobre a maior entre as três nascentes que se juntam para iniciar o Chopim, rio de 482 km de extensão (pela estrada, da nascente até a foz, em Chopim Dois, dá cerca de 250 km, pouco mais da metade; aí se pode imaginar quantas voltas o rio dá).
Seu Zuzu reside em Curitiba. Edson Farias de Lima, 33 anos, reside na fazenda desde que nasceu, há 33 anos. Ele diz que gosta do local. O mais difícil é passar o inverno, porque venta muito, “tem que usar umas duas ou três blusas”.

Edson Farias de Lima e a cachorra Fufa ao lado de uma das várias nascentes que iniciam o Rio Chopim.
Naquele campão nasce o Rio Chopim, na primeira fazenda do município de Palmas.

Palmas quer maior integração com Santa Catarina

Há cem anos, Palmas era o maior município da região contestada. Criado em 1879, dominava toda a região. Em 1916, ao norte fazia divisa com Guarapuava, a leste com União da Vitória (criado em 1890), Curitibanos (criado em 1864) e Campos Novos (criado em 1881), ao sul com o Rio Grande do Sul (Rio Uruguai) e a oeste com Clevelândia (criado em 1892). Hoje, com seus cerca de 47 mil habitantes, Palmas perde, em população, para dois do Sudoeste Paraná – Francisco Beltrão com 88 mil e Pato Branco (80 mil) – e cinco do Oeste de Santa Catarina – Chapecó (210 mil), Caçador (77 mil), Concórdia (74 mil), Videira (52 mil) e Xanxerê (50 mil).
O prefeito Hilário Andraschko, que em dezembro encerra sua terceira gestão (2001-2004, 2009-2012 e 2013-2016), não vê problema com os municípios catarinenses. “A cidade de Palmas está a praticamente 10 quilômetros da divisa com Santa Catarina, e eles cuidam das estradas assim como nós cuidamos até a divisa, há um consenso entre os prefeitos que cada um respeite seu limite”, afirma. O que ele sente, para ambos os lados, é a falta de uma rodovia que promova integração regional.
“Nós entendemos que deveria haver uma integração melhor através de uma rodovia que ligasse Palmas a Passos Maia e Ponte Serrada, integrando o sul, aliás, seria uma nova fronteira”, diz o prefeito. Ele questiona a estratégia que visou integrar as regiões do Paraná e Santa Catarina com o litoral, deixando de lado a integração mais próxima, como ele cita o caso de Pato Branco e São Lourenço do Oeste, onde há integração. “Esta região ficou muito tempo sem desenvolvimento e a falta desse desenvolvimento também prejudicou o município de Palmas”, avalia o prefeito Hilário.

Propriedades continuam divididas
O pecuarista e historiador Joaquim Osório Ribas, de 81 anos, diz que hoje não há conflitos por causa das divisas, mas ainda existem propriedades divididas, uma parte em cada Estado. Ele opina que o árbitro do acordo de limites, presidente Wenceslau Braz, poderia ter pensado mais no ser humano: “Aqui tudo era Paraná. Essas terras todas aqui foram registradas no Paraná. E essas famílias que possuem campos em Água Doce, todas elas residem em Palmas. Mendes, Araújo, Ribas, Pimpão… esse pessoal todo tem raízes aqui em Palmas”.
E ele continua: “Em Porto União tem casa que está no Paraná e o quintal é em Santa Catarina. E tem um fato curioso: um marco do Estado de Santa Catarina que dá bem na metade da casa. E aqui aconteceu a mesma coisa. Ficou fazenda com a sede pra lá, as invernadas no outro lado. Outras fazendas com as invernadas do lado de lá e sede pra cá. Aí criou esses problemas fiscais, aqueles conflitos que diziam que o federal tava levando sem pagar imposto, e daqui passando pra lá e essa história toda. E até hoje, ainda, tem alguns conflitos nesse sentido. Foi um acordo onde não houve aprofundamento, preocupação com o ser humano, não houve preocupação social. Dividir lá Rio Negro e Mafra em duas cidades. Por que isso? Deixa a cidade pra um lado e pega o rio como divisória. Dividir União da Vitória e Porto União em duas cidades, por que isso? A família Cleto, por exemplo, morava toda onde era Porto União hoje e se mudaram todos pra União da Vitória e juraram que não iriam atravessar os trilhos. Os mais velhos acho que morreram todos sem atravessar os trilhos pra não passar pra Santa Catarina. Aqui no campo foi a mesma coisa”. 

Na divisa entre Vitorino (PR) e Jupiá (SC) tem o ponto culminante da microrregião de Francisco Beltrão, o Morro do Divisor, mede 1.093 metros. De lá se avistam várias cidades durante o dia, como Pato Branco, São Lourenço do Oeste e Vitorino,
e muitas outras à noite, pela iluminação urbana.

 

 

 

Municípios limítrofes e ano de criação

Paraná    Santa Catarina
Palmas (1879)    Dionísio Cerqueira (1953)
Clevelândia (1892)    Campo Erê (1958)
Barracão (1951)    São Lourenço do Oeste (1958)    
Marmeleiro (1960)    Abelardo Luz (1958)    
Renascença (1960)    Água Doce (1958)    
Vitorino (1960)    Palma Sola (1961)
Mariópolis (1960)    Galvão (1963)
Flor da Serra (1990)    São Domingos (1963)

 Passos Maia (1991)   Jupiá (1995)

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques