
A família do pequeno Kenzo Fraron Silveira, de 2 anos e 8 meses, está promovendo uma campanha nas redes sociais incentivando as pessoas a se tornarem doadoras de medula óssea. O garotinho foi diagnosticado, ainda no ano passado, com leucemia e está passando por um complexo tratamento de saúde. Os pais, Ricardo Suzin Silveira e Francieli Morgan Fraron, são moradores de Santa Izabel do Oeste e estão acompanhando o filho em internamento no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba. Ontem, 21, Ricardo conversou com a reportagem do JdeB e contou sobre a descoberta da doença e como o filho está reagindo à terapia médica.
Como tudo começou
Dia 18 de julho do ano passado, Kenzo começou a apresentar pequenas manchas roxas nas pernas, semelhantes às provocadas por batidas em móveis. A princípio, a família não suspeitou de nada, porque é comum crianças com essa idade terem pequenos hematomas, resultado das brincadeiras. Mas as manchas vieram seguidas de dores no abdômen e nas pernas.
No dia seguinte à noite, eles procuraram o plantão de pediatria da Policlínica São Vicente de Paula, em Francisco Beltrão, e consultaram com a médica pediatra Silvania Acco. “Na triagem, já passaram nós na frente. Ela avaliou todos os sintomas e na hora que ela examinou o Kenzo, mudou o semblante. Ele estava com o fígado e o baço inchados. Pediu mais exames de sangue e um ultrassom do abdômen. Ela nunca tinha visto nós na frente e pediu esses exames aí. Na terça-feira, coletamos o exame do Kenzo às 7h30 e marcamos o ultrassom para a parte da tarde. Quando foi 8h30, ela me ligou preocupada, pedindo para encaminhar ele para o hematologista em Cascavel”, relata Ricardo.
Ainda na segunda-feira à noite, o pai começou a pesquisar o que poderia estar associado aos exames alterados de fígado e baço, e todos os sintomas que seu filho tinha levavam à leucemia. “Quando ela me falou que tinha que levar para a Uopeccan (Hospital do Câncer de Cascavel), me caiu o chão.” A família foi para Cascavel numa quarta-feira à noite e na quinta-feira, às 6h30, chegou ao hospital para coletar mais exames. “A dra. Aline Rosa, que é oncopediatra, encaminhou o Kenzo direto pra UTI (Unidade de Terapia Intensiva), não quis nem avaliar na maca.”
O menino ficou 15 dias na UTI, teve problemas renais, recebeu um cateter para hemodiálise (de caráter preventivo), mas não foi preciso fazer, e mais um cateter para quimioterapia. Além da dra. Aline, Kenzo foi acompanhado pela média Carmem Fiori, que também é oncopediatra. Ricardo conta que o filho respondeu bem desde a primeira quimioterapia. “A gente achava que ele estava curado, mas fazendo o tratamento periódico como tinha que fazer. Tava tão bem, tão saudável que parecia que tava curado.”

A recidiva
Kenzo já estava em casa, brincando e levando uma vida normal quando, em 29 de dezembro, teve uma recidiva da doença. “Ele estava quase entrando em manutenção, ia entrar agora em fevereiro, significa que ele ia só uma vez por mês fazer um procedimento em Cascavel. Trocar heparina do cateter ou fazer aplicação de quimioterapia. Ele poderia voltar às atividades normais, brincar em piscina, ter contato com animais de estimação, com outras crianças, podia até ir pra escola”, lembra Reicardo.
Mas Kenzo apresentou um edema no olho direito e, por indicação médica, a família pensou que poderia ser uma reação alérgica da quimioterapia e iniciou um tratamento com antialérgico. Dia 3 de janeiro, o garotinho foi internado novamente e fez exames, houve suspeita de problema no dente, de uma sinusite e até de uma celulite (doença infecciosa no olho), até repetir o exame da medula e constatar que a doença tinha voltado. “O olho dele hoje está normal perto do que estava, era terrível. Essa doença voltou na órbita ocular direita e no testículo esquerdo.”
Mais quatro dias de UTI em Cascavel com quimioterapia. No quarto dia começou a diminuir o edema do olho. “Saímos do hospital e em menos de 10 dias tivemos que retornar porque o edema estava começando a crescer de novo. Voltamos pro hospital e a médica falou que não gostou do que estava vendo.”
Ricardo recorda que este foi um momento de muita angústia da família. No hospital, praticamente tinham desenganado o casal. “Foi mais terrível que o diagnóstico.” Porém, a família procurou uma hematologista, também em Cascavel, dra. Cristina Carvalho, e ela devolveu esperanças ao pai e à mãe. “Ela falou que, como o Kenzo tava reagindo, iria encaminhar para médicos de Porto Alegre (RS) que eram (seus) conhecidos. Conversamos com ela numa quinta-feira e no domingo à tarde saímos de Santa Izabel do Oeste e fomos para Porto Alegre. Chegamos na segunda-feira cedo, no Hospital Moinhos de Vento, falamos com o dr. Adriano Taniguchi, o hematologista que deu sequência no tratamento do Kenzo.”
Quadro melhora a cada dia; família espera pela radioterapia
JdeB – No Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, além de mais exames e quimioterapia em alta dosagem, o médico Adriano Taniguchi recomendou aplicação de radioterapia no olho e no testículo do garoto. Kenzo ficou mais uma semana na UTI e no segundo dia o inchaço no olho começou a diminuir. “Chegamos no dia 30 de janeiro e no mesmo dia ele foi pra UTI”, conta Ricardo Suzin Silveira, pai do menino.
Enquanto o dr. Adriano aguardava os exames, entrou em contato com o médico Lisandro Ribeiro, de Curitiba, porque a ideia era preparar Kenzo em Porto Alegre e mandá-lo para a capital do Paraná apenas para fazer o transplante. “Pensamos em ficar em Porto Alegre uns quatro, cinco meses, até colocar a doença em remissão, pra receber o transplante. Porém, numa quinta-feira, dia 9, o Kenzo amanheceu com o olho mais inchado. Dr. Adriano achou que não era um bom sinal, entrou em contato com o dr. Lisandro e promoveram nossa transferência para Curitiba. Só que quando a gente chegou, lembramos que ele teve uma crise de choro por uma dor no peito e esse choro foi o causador do edema no olho”, completa Ricardo.
A família foi transferida para o Hospital Nossa Senhora das Graças no dia 11 de fevereiro. Desde então, o tratamento está auxiliando e o quadro do pequeno Kenzo é estável. O olho está quase normal. “Eles esperavam o Kenzo mal, mas ele chegou bem. Agora, a partir de um exame de tomografia, ficará definido o local e a quantidade de sessões de radioterapia, específica no olho e testículo”, informa o pai.
Uma campanha para ganhar tempo
Ricardo diz que muitos amigos e conhecidos estão incentivando as pessoas para que façam o cadastro no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome) para ganhar tempo e para que, quando Kenzo estiver preparado para o transplante, o número de doadores seja o maior possível para encontrar alguém com compatibilidade de início. “Eles estão preparando o Kenzo, o hemograma dele está melhorando muito, a medula começou a responder também. Quando tiver o resultado do HLA – exame que indica a compatibilidade -, já joga no banco para fazer a busca que pode ser no mundo inteiro.”
Quem quiser ser doador, pode procurar um Hemonúcleo. Mas a orientação é para que seja feito um agendamento de horários. Quando há compatibilidade, normalmente, doador e receptor não conhecem um ao outro e nem ficam sabendo quem doou e quem recebeu a doação.
Kenzo quer ser bombeiro
Até o surgimento da doença, Kenzo levava uma vida absolutamente feliz em Santa Izabel do Oeste. Adorava brincar, tocar violão com o pai, cantar, tomar banho de mangueira nos dias mais quentes. No hospital, quando está com mais disposição, brinca, pinta desenhos e come “cueca-virada”.
Uma das paixões dele é pela profissão de bombeiro. Tem viaturas, capacete e gosta de tudo que é ligado aos bombeiros. Já visitou a corporação para ver um caminhão de verdade e no hospital posou ao lado de um extintor brincando de bombeiro.
O pai diz que não sabe como surgiu essa paixão, “mas, se perguntar pra ele o que que ele é, ele diz que é um bombeiro chefe”. No Facebook do Kenzo, tem várias fotos e vídeos dele brincando.

Mas neste momento da vida ele precisa de um doador de medula óssea.
Fotos: Arquivo Pessoal