Era a esposa e mãe dos 9 filhos de Francisco Gutierrez Beltrão, o homem que deu seu nome ao município de Francisco Beltrão, hoje o 24° maior do Paraná em população, com 87 mil habitantes.

Fotos: Arquivo pessoal
Neste domingo, 19 de março, completa-se um século da morte de Lavínia Trevisani Beltrão. Ao contrário do marido, que ocupou vários cargos públicos e deixou muita informação escrita, pouco se sabe, por documentos, sobre Lavínia. Mas deduz-se que teve uma vida difícil, como a maioria das mulheres de sua época. Para acompanhar o marido, viveu em várias cidades. Teve nove filhos. E morreu aos 36 anos.
Mesmo sendo filha de médico, não conseguiu criar todos os filhos, o que naquele tempo era normal na maioria das famílias. Prematuro, por exemplo, dificilmente se criava. Dos nove que nasceram, dois morreram nos primeiros meses de vida. E ela teve, digamos assim, um aproveitamento melhor que sua sogra, Rosa Gutierrez Beltrão: dos 21 filhos que ela deu à luz, 10 morreram na infância, começando pelo mais velho, Pedro, que nasceu e morreu em Paranaguá, vindo na sequência o Francisco da Lavínia¹.
Francisco Gutierrez Beltrão formou-se engenheiro civil, passando a exercer vários cargos técnicos e políticos, entre eles o de comissário de terras. Devido à sua profissão, também passava por muitas cidades. Em Palmeira, conheceu Lavínia, filha do médico cirurgião Francisco Lucas Trevisani (nascido em Modena, Itália, e formado cirurgião em 1876; a mãe de Lavínia era Ana dos Santos Trevisani).
Em Palmeira, onde casaram (dia 12 de dezembro de 1900, segundo informação do bisneto Marcelo Beltrão Molento) nasceram os três primeiros filhos de Lavínia e Francisco. A primogênita foi registrada como Jacyra. O segundo, Ary Francisco, que morreu ainda pequeno. Quando nasceu o terceiro, recebeu o nome de Francisco Trevisani Beltrão².
Aí a família mudou para Curitiba. O pai, Francisco, tornou-se professor e passou para a história como um dos fundadores da Universidade Federal do Paraná, em 1912. Em Curitiba nasceram Haroldo, Duílio e Lenira. Nova mudança, agora para Prudentópolis, onde nasceu o Alceu. No novo retorno a Curitiba, nasceram Iris, que morreu pequena, e Lineu, o caçula.
Com tantos filhos e vivendo longe dos pais, Lavínia tinha muito por fazer, principalmente porque o marido viajava e, quando estava em casa, vivia ocupado. A morte dela não teria sido por doença ou acidente. Ela teria se envolvido sentimentalmente com o médico de seus filhos e isso teria resultado em suicídio? Quando repassei essa pergunta ao dr. Luiz Fernando Beltrão (1933-2009), que era filho de Haroldo e neto de Lavínia, ele disse que essa versão realmente circulava entre os descendentes.
As poucas fotos de Lavínia mostram uma mulher elegante, bem vestida, acompanhando em seus trajes os indispensáveis chapéus femininos da época. E tinha tudo pra ser assim, afinal era filha de um médico e esposa de um homem que ocupou os mais altos cargos da vida pública no Estado.
Lavínia morreu em 1917 e Francisco em 1939. Foram 22 anos de viuvez. Não encontrei registros, também, de que Francisco tenha casado novamente. Júlio Assis Cavalheiro, pioneiro de Marrecas/Francisco Beltrão, dizia que foi vizinho de Francisco em Clevelândia e nunca falou da mulher do amigo. Ao entrevistar Zenon Arruda, que nasceu em Clevelândia em 1922 e estava com 17 anos quando Francisco morreu, fiz essa pergunta e ele afirmou que nunca soube de uma segunda esposa. Ontem conversei com Paulo André Beltrão, engenheiro mecânico, professor da UTFPR em Curitiba. Ele confirmou que não há informação, entre os descendentes, de que seu bisavô tenha casado com outra mulher depois da morte de Lavínia.

mais velhos: Haroldo, Duílio, Jacyra e Francisco.
Francisco Beltrão bisneto vive em Curitiba
No endereço Beltrão Advogados, de Curitiba, encontrei o Francisco Affonso de Camargo Beltrão, de 51 anos. Ele é filho de Paulo Beltrão, neto de Haroldo Beltrão e bisneto de Francisco Gutierrez Beltrão.
Sobre a bisavó Lavínia, Francisco bisneto confirma: ela morreu nova e deixou pouca informação. E me indica seu irmão mais velho, Paulo André Beltrão, professor da UTFPR. Paulo me diz que os históricos que possui são de seu bisavô. Sobre Lavínia, nenhum documento. Nem sobre a família Trevisani. Não sabe onde foi sepultado seu trisavô Francisco Lucas Trevisani.
O relacionamento de parentesco que eles têm é com a família Beltrão. Paulo André me indicou seu primo Cláudio José Beltrão, filho do dr. Luiz Fernando Beltrão. Ele confirma as mesmas informações dos primos e diz que tem material que poderá ser doado ao museu de Francisco Beltrão.
E a família Trevisani?
Trevizan e Trevisan tem muitos, Brasil afora, inclusive aqui no Sudoeste. Mas esses, além de ter um “i” a menos no nome, são originários do Sul.
Buscas pela internet apontam Trevisani em muitas cidades, como Curitiba, Pinhais, Paranaguá, Jacarezinho, Cianorte, Londrina, Maringá, Ponta Grossa. De Palmeira, nenhum. Liguei para o professor, historiador e escritor Arnoldo Monteiro Bach – autor de livros como Carroções (266 páginas), Porcadeiros (484 páginas), Trens (640 páginas), Tropeiros (672 páginas), Diligências (864 páginas), Colônia Cecília (1.064 páginas), todos pesquisados em sua cidade de Palmeira e muitas outras do Paraná. E ele me diz que não tem conhecimento de que Francisco Trevisani tenha deixado descendência em Palmeira. E não tem mais informações sobre o italiano que imigrou para o Brasil no século 19 e se estabeleceu em sua cidade.
114 anos hoje da morte de Francisco da Cunha Machado Beltrão, o sogro de Lavínia
Natural de Pernambuco, nascido em 17 de outubro de 1845, Francisco da Cunha Machado Beltrão, sogro da Lavínia, era filho do industrial e bacharel Pedro Bezerra de Araújo Beltrão. Após formar-se em ciências jurídicas e sociais, estabeleceu-se em Paranaguá, no Paraná, tornando-se juiz municipal. Foi o tempo que nasceu Francisco Gutierrez Beltrão, o segundo dos 21 filhos de Francisco Cunha e da uruguaia Rosa Gutierrez Beltrão.
Francisco Cunha foi juiz municipal também de Curitiba, juiz de direito de Antonina e Morretes. Depois mudou para Itajaí (SC), onde foi promovido a desembargador do Superior Tribunal de Justiça em Florianópolis.
Ao se aposentar, em 1897, voltou para Curitiba e passou a dedicar-se à advocacia. Em 1899, elegeu-se deputado. Naquele tempo, era por apenas dois anos. Mas ele se reelegeu em 1901 e assumiu a presidência do Congresso (atual Assembleia Legislativa). E morreu dia 18 de março de 1903, conforme narra Francisco Negrão em seu livro Genealogia Paranaense: “Estando na cadeira de presidente, foi acometido de uma síncope, tendo morte instantânea, nos braços do autor desta obra que, pressentindo o seu rápido desfalecimento, acorrera a seu encontro, antes mesmo que os secretários da mesa, que o ladeavam, notassem o fato”.

é bisneto de Francisco Gutierrez Beltrão.
¹ Francisco da Cunha Machado Beltrão e Rosa Gutierrez Beltrão tiveram 21 filhos: Pedro*, Francisco, Maria Rosa*, Laura, Osman, Raul*, Manoel*, Marietta, Gilberto, Sylvio*, Ismar, Maria, Pedro*, Guilhermina*, Leonor, Ana*, Alexandre, Manoela*, Estella, Lina* e Elisa (*falecidos na infância).
² Já teve quem escreveu que Francisco Trevisani Beltrão seria o fundador de Francisco Beltrão. Nem uma, nem outra. Primeiro que o nome do município foi tirado do pai, Francisco Gutierrez Beltrão. Segundo que nenhum dos dois esteve aqui. O pai morreu em 1939, tempo que no futuro perímetro urbano de Francisco Beltrão só havia mato. E quem veio pra cá, dos filhos, foi o Duílio. Atribui-se a ele, inclusive, a sugestão de mudar o nome de Marrecas para Francisco Beltrão.
Os 9 filhos de Lavínia e Francisco
1 – Jacyra Trevisani Beltrão, professora de piano, casada e separada de Armando Barros de Oliveira Lima.
2 – Ary Francisco Trevisani Beltrão, falecido na infância.
3 – Francisco Trevisani Beltrão, bacharel em Direito, juiz e promotor, casado com Ionia Braga Beltrão.
4 – Haroldo Trevisani Beltrão, médico e professor livre docente da Universidade do Paraná, casado com Izabel Bittencourt Beltrão.
5 – Duílio Trevisani Beltrão, engenheiro civil, solteiro.
6 – Lenira Beltrão Pontes, professora, casada com Leozil Pontes.
7 – Alceu Trevisani Beltrão, engenheiro civil e professor catedrático da Universidade do Paraná, casado com Alcyonée Simães Beltrão.
8 – lris Trevisani Beltrão, falecida na infância.
9 – Lineu Trevisani Beltrão, general-médico, casado com Neida Prado Beltrão.
