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Francisco Beltrão
quinta-feira, 19 de junho de 2025

Edição 8.229

20/06/2025

Verê: Moradores denunciam destruição de túmulos no cemitério da Barra do Santana

Várias sepulturas no cemitério da comunidade foram tiradas. Alegação de responsável é de que muitas eram antigas e não tinham nem identificação. As pessoas falam mas não querem se identificar.

 

Trecho de terra de onde foram retirados os túmulos.
Foto: Rubens Anater/ JdeB

Há cerca de um mês, um morador da Linha Barra do Santana, em Verê, levou um trator para dentro do cemitério da comunidade. O homem é Clevalmir Tiossi, presidente da Capela Nossa Senhora de Lourdes. Seu intuito – ou, ao menos, sua justificativa – era de abrir uma estrada lá dentro e controlar a erosão, que vem sendo um problema do campo santo. 

No entanto, desde essa ação a comunidade está revoltada, porque Tiossi fez mais do que abrir uma estrada. “Ele simplesmente meteu o trator lá dentro e foi arrancando o que tinha de túmulos mais velhos. Passou o trator no lugar onde as pessoas iam para rezar pelos seus falecidos”, afirma um morador da comunidade, que não quis se identificar.
O Jornal de Beltrão conversou com diversos moradores do local, e a história de repete. Ninguém quis se identificar, mas eles contam que desde o ano passado Clevalmir se habilitou a cuidar da reforma do cemitério, com a intenção de evitar a erosão e deixar o campo santo mais agradável para quem já vai para o local cheio de pesar, para relembrar seus mortos.
“Ele tava fazendo um trabalho bem bacana ali, construindo muros, colocando pedras britas, então tava conseguindo parar a erosão. Era um trabalho bom pra organização do cemitério”, conta um dos moradores, que vinha aprovando o trabalho de Tiossi. No entanto, pelo menos para ele, o mérito do presidente da comunidade acabou quando ele resolveu arrancar túmulos, supostamente em nome da organização do espaço, naquele pequeno cemitério que já estava ficando apertado.
De acordo com alguns relatos, o trabalho feito pareceu uma “destoca”, pelo tanto que mexeu e limpou o espaço, sem cuidado com os locais de oração. E, de fato, quem visitar o cemitério hoje pode ver um grande trecho de terra mexida e vazia, sem qualquer túmulo ou outra coisa em cima, além de um resto insignificante de entulho. Depois da limpeza, foi construído um ossário comunitário, para o repouso das ossadas deslocadas de seus túmulos originais.
“Eu entendo que precisa mexer, que alguns túmulos mais antigos tinham que ser tirados mesmo, porque tem uns que ninguém mais vai visitar. Só que ele fez isso meio do nada, não falou com todas as famílias, não analisou que tem umas que ainda iam até o lugar para rezar para seus mortos”, diz um morador, ponderando que, antes dessa limpeza, o presidente da comunidade precisaria ter feito um trabalho de pesquisar cada túmulo, buscar o familiar do defunto, ou, ao menos, avisar na igreja, no rádio e dar um prazo de uns 60 dias para a pessoa aparecer, reivindicar o túmulo e dar (ou não) permissão para a relocação do morto, porque muitas das pessoas que enterraram entes queridos ali já não moram na comunidade.
Ele pondera: “As pessoas consideram o lugar onde seu ente querido foi enterrado como o local para lembrar da pessoa. É importante para eles. Então antes de limpar o lugar teria que trabalhar direito com a cabeça dessas pessoas, para que elas não sofressem tanto, porque muitas são idosos e idosas, que ajudaram na fundação da comunidade”. Hoje nenhum dos moradores sabe quantos túmulos foram perdidos nesse ocorrido, porque alguns já estavam desmarcados ou meio apagados pelo tempo.
A comoção foi tanta na Barra do Santana que não teve nem festa de Dias das Mães. A festa, promovida pela diretoria da capela era tradicional e reunia muitas pessoas. Mas dessa vez, a diretoria disse que não havia clima para o evento, já que mesmo entre seus membros muitos discordaram da ação.

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Polícia não foi acionada
Dois dos moradores entrevistados disseram que alguém da comunidade ia acionar a Justiça, para entrar com processo contra o presidente. No entanto, o Jornal de Beltrão contatou a Polícia Militar da cidade. Os policiais afirmaram que não há boletim do ocorrência ou qualquer outro tipo de registro sobre o acontecido.
Cemitério é da Prefeitura, mas poder público se isenta da responsabilidade
Oficialmente, o cemitério é da Prefeitura de Verê. A escritura do terreno onde está construído o campo santo da comunidade Barra do Santana está no nome do poder público municipal, assim como acontece com a maioria dos cemitérios de comunidade nos municípios da região.
No entanto, a Administração afirma que a responsabilidade de cuidar do espaço não é dela, e sim da comunidade. O vice-prefeito, Luiz Miola (PDT), afirmou ao Jornal de Beltrão que, de fato, a escritura está no nome da Prefeitura, “mas tradicionalmente quem cuida dos cemitérios é a própria comunidade. A Prefeitura comprou o terreno há muito tempo e cedeu para a capela, que tradicionalmente sempre foi responsável pelo domínio do espaço”.
Dessa forma, ele diz que a Administração não tem poder de ação no cemitério da Barra do Santana, “ainda mais agora, depois do acontecido. Não temos o que fazer”. Luiz Miola ainda completa, afirmando que nenhum dos atos do presidente da comunidade passou pelo crivo ou pela aprovação da Prefeitura, porque as comunidades raramente pedem algum tipo de aprovação para mexerem em seus cemitérios.

 

 

Presidente da comunidade explica ação no cemitério da Barra do Santana

Responsável pelo ocorrido diz que quem se sentir afetado pela ação no cemitério deve procurá-lo.

O Jornal de Beltrão visitou também Clevalmir Tiossi, o presidente da comunidade da Barra do Santana, responsável pela reforma do cemitério que gerou tanta polêmica. Ele afirma que a reforma era necessária, principalmente por causa da erosão. “Já tinha até túmulo caindo.”
Isso o motivou a começar os trabalhos, com construção de muros e colocação de pedras britas no início, e utilização do trator, mais recentemente. “Mas eu não coloquei o trator para tirar túmulo como tão falando, foi para fazer estrada e colocar pedra brita só”, afirma Tiossi. E reforça ainda: “Tinha túmulos sumindo do chão, uns abandonados há muito tempo, então teve uns que foram tirados”.
Segundo ele, três mortos foram retirados e levados para o ossário comunitário, com a aprovação das respectivas famílias. Eram casos em que foi possível identificar os familiares do falecido. Ele ainda conta que, além desses, teve um caso que a família foi reclamar da retirada do túmulo, então Tiossi se responsabilizou em fazer um jazigo novo – e já o fez. “Ele não tinha identificação, mas como vieram reclamar, já fizemos um novo.”
O presidente da comunidade ainda afirma: “Quem quiser reclamar, achar que foi feito errado, pode vir falar comigo. Quem quiser um túmulo novo para o familiar a gente vai fazer, e quem não quiser, a gente pode colocar no ossário comunitário, com placa de identificação. Vamos fazer tudo direito para não dar confusão”, afirma. Ele ainda diz que vai buscar os afetados pela situação e fazer documentos oficiais para cada caso, com assinaturas dos familiares, para evitar mais problemas.

A reforma do cemitério
Tiossi ainda fala da reforma do cemitério e da importância que isso vai ter para a comunidade. Segundo ele, todo o espaço ficará melhor, com menos risco de erosão. Foi até colocado luz e construído o ossário comunitário.
Esta reportagem é de ontem de manhã. No período da tarde, Tiossi ligou para o Jornal de Beltrão para dar mais informações, disse que todo o dinheiro que será usado pela obra é de R$ 9.285. Desses, R$ 3.600 são de colaboração da igreja, R$ 600 são do caixa do cemitério, que já tinha de outras ações, outros R$ 2 mil são de doação da prefeitura e, para completar, R$ 3.085 em colaboração da comunidade. De um total de 82 famílias, apenas cinco não contribuíram.

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