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Francisco Beltrão
sábado, 21 de junho de 2025

Edição 8.230

21/06/2025

50 anos da Paróquia de Verê

 

Ivo Pegoraro

Minha família residia no Verê em 1967, quando foi criada a Paróquia São Joaquim, que neste domingo faz festa para comemorar seu cinquentenário. Nestas últimas quatro semanas em que ajudei a produzir uma revista especial sobre o evento, fiquei lembrando das contribuições que demos e recebemos da Igreja. Eu devo muito de meu desenvolvimento intelectual e como cidadão. Pelos conhecimentos recebidos e a oportunidade de dar os primeiros passos na comunicação com a comunidade. Meus pais, Luiz e Idolinda, eram professores e catequistas, depois foram ministros da Eucaristia. O pai faleceu em 2009, mas a mãe, hoje com 86 anos, continua sempre atarefada com a Igreja. O pai, que foi seminarista, comandava também os cantos e a liturgia. Me ensinou a ler para o público. “Procure memorizar algumas palavras do texto para dar tempo de, vez ou outra, levantar a cabeça e se comunicar também com os olhos.” Depois fui catequista e coordenador de grupos de jovens. Quando começou o Ginásio de Verê (corresponde ao atual Ensino Fudamental do 6º ao 9º ano), tínhamos aula de religião com o padre Paulo de Broeck. Seu jeito sonolento de se expressar e o sotaque belga chamavam a atenção – “não é” para ele era “no né” -, mas também os temas que ele abordava. Ao falar do Antigo Testamento, citava o “Pentateuco”. Nós, colegas, nos olhávamos: “de onde ele tirou isso?” Ginasianos iniciantes, não conhecíamos nem a Bíblia. Em 1970 o padre Paulo mudou para Francisco Beltrão e em seu lugar assumiu o padre Sérgio Tassi. Um dia ele me ofereceu livros para ler. Literatura brasileira. Machado de Assis, José de Alencar, Graciliano Ramos. Fiquei deslumbrado. Depois de ler O Guarani, passei a gostar também de livros de muitas páginas. Entre os volumosos, devorei até a Bíblia, de ponta a ponta. E passei a pensar em escrever livros, para contar a história de nossa gente. Até então eu bronqueava com meu pai porque não queria que ele tivesse vendido nosso sítio de Realeza; eu planejava minha vida na agricultura. A partir daí, passei a pensar entre cursar Letras ou Jornalismo. Fiz Jornalismo e, através dele, hoje tenho a oportunidade de participar da narração dessa rica história dos 50 anos da Paróquia de Verê. O que aconteceu comigo deve ter acontecido com muitas outras pessoas, cada uma seguindo seu rumo, mas todas sob influência da Igreja. Vários vereenses, inclusive, tornaram-se religiosos, quer dizer: tiveram influência bem mais profunda. Eu também fui sondado para ir ao seminário, no tempo do padre Hermogênio Borin, mas não deu liga: “Tudo bem, padre, mas ter que esquecer minha namoradinha que entrou na minha vida quando eu tinha 9 anos?”
Fala-se em crise da Igreja. Não vejo crise, apenas necessidade de encarar com realismo os novos desafios. É o que acontece com a maioria das entidades e a maioria das empresas. O mundo vive em constantes mutações e nós precisamos nos adaptar a elas. Hoje tem menos crianças e jovens nas igrejas do que no meu tempo? E o que a Igreja está oferecendo de atrativo para essa gente? De que maneira a Igreja está influenciando no futuro dessa gente que tem tantas opções de obter informações e entretenimento? Falar do Pentateuco, hoje, impressiona?

Ivo Antônio Pegoraro 
Jornalista em Francisco Beltrão 

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