Família de agricultores sofre há anos com contaminação das águas e do solo.
No final de 2012, o agricultor Ervino Antunes Maciel descobriu petróleo em sua propriedade, na Linha Luiz Costa Gramadinho, em Itapejara D’Oeste. Essa que poderia ser a notícia de uma grande riqueza, até então parece mais uma desgraça para o agricultor e sua família. Desde antes da descoberta do petróleo, a contaminação de água e solo pelo vazamento do óleo subterrâneo dificulta – e quase inviabiliza – a produção rural e já causou problemas de saúde em seu Ervino, que sofre inclusive com feridas, que são indícios de câncer de pele.
Quando foi confirmada a presença de petróleo no subsolo, a propriedade passou por diversas avaliações e, inclusive, por um leilão para sua exploração. No entanto, os anos passaram sem novos indícios de que alguém vai retirar o óleo das terras de seu Ervino.
Especialistas consultados na época destacaram que o processo para começar a extração é, de fato, lento. Mas a família clama por algum tipo de resolução, já que a contaminação é de grande prejuízo para as pessoas no local e para o meio ambiente. Além disso, laudos recentes dão indícios de que a contaminação pode estar afetando o Rio Vitorino, que abastece a cidade.
Lei do Fracking traz a discussão à tona
Nos últimos meses, membros da Coalizão Não Fracking Brasil tem passado pela região pedindo que os municípios proíbam a extração do gás de xisto pelo método de fraturamento hidráulico, também conhecido pelo nome em inglês – fracking. A técnica é considerada de grande risco para o meio ambiente. Com essa conscientização, vários municípios estão aprovando a Lei do Fracking, um projeto de legislação que proíbe a exploração do solo através desse processo.
Itapejara D’Oeste é um desses municípios. Na última segunda-feira, a Câmara de Vereadores aprovou o projeto de lei em primeiro turno (proposta pelo vereador Vilson Dalsente – PMDB). Na próxima segunda-feira, ela será levada a plenário novamente, para a segunda votação, mas a previsão é de que ela seja novamente aprovada.
Como o xisto é um gás presente no subsolo, cuja exploração é administrada e licitada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), o problema de seu Ervino Maciel voltou à tona. A família afirmou que apoia a aprovação do projeto, mas pondera que é preciso também dar atenção à propriedade contaminada. Para eles, não é possível continuar suportando esse problema por mais anos, considerando os danos que pode causar à saúde, ao meio ambiente e também às reservas de água do município.
O vereador Vilson Dalsente conta que a Câmara se mobilizou com o posicionamento da família. Finalmente, depois de mais de quatro anos, desde que seu Ervino descobriu o “ouro negro” em sua propriedade, os vereadores vão se manifestar. “Estamos elaborando ofícios que vamos encaminhar à empresa ganhadora da licitação para que eles apresentem sua posição quanto ao problema. Queremos que essa contaminação seja resolvida”, afirma Dalsente.
Ele ainda argumenta que a Lei do Fracking não vai afetar a situação da propriedade de seu Ervino. Ele diz que é apenas contra o fracking, para evitar a contaminação que o processo de extração de gás xisto pode causar.
Enquanto isso, seu Ervino ainda sonha com as possibilidades. Ele diz que não é um homem “dinheirista”, e que o que mais quer é se ver livre da contaminação para poder trabalhar. Mas também diz que cresceu em uma família pobre e que, se o petróleo se converter em riqueza, vai ser um dinheiro que fará bem para ele, para a família e para toda a comunidade. “Era algo que ia deixar todos nós bem.”