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Francisco Beltrão
segunda-feira, 30 de junho de 2025

Edição 8.235

28/06/2025

Desmistificando a eletrólise: é possível usar água como combustível?

Na verdade é, mas o processo é mais complexo e bem diferente do mostrado em um vídeo que circula pelo Whatsapp.

 Vídeo com reportagem do suposto carro movido à água viralizou na internet, mas gera dúvidas quanto à eficácia do método.

Um analista de sistemas de Vitória (ES) diz ter inventado um mecanismo que é capaz de fazer um carro rodar usando apenas água. A reportagem veiculada pela TV Tribuna caiu na internet e somente em uma das páginas que está publicada tem mais de 11 milhões de visualizações.

No vídeo viral, que também circula no Whatsapp, Roberto de Souza explica ter feito uma adaptação num gerador de hidrogênio para que o aparelho não aqueça. O mecanismo separa o gás da água para gerar energia no motor e consequentemente mover o veículo a partir da eletrólise. Ele alega ter rodado 2 mil km com um litro de água. O caso, no entanto, levanta aquele velho dilema: algo tão simples e óbvio realmente funciona?

O instrutor de mecânica automotiva do Senai de Francisco Beltrão, Marcelo Dacorregio, foi consultado pelo JdeB para explicar como todo processo realmente funciona. “A eletrólise é um conteúdo básico de ciências e nada mais é que a decomposição da água usando uma corrente contínua; isso vai gerar hidrogênio, um gás que gera combustão e alimenta o motor”, conta.
Mas no caso do analista capixaba, o sistema é questionável para o especialista do Senai: “primeiro que o volume de geração de energia seria muito baixo para rodar um motor, outra questão é a baixíssima eficiência que esse motor teria perante combustíveis convencionais, como a gasolina, e há ainda o problema da armazenagem, pois seriam necessários centenas de litros de água para gerar alguma energia capaz de mover o carro”.

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Para se ter uma ideia, o hidrogênio gerado através da ionização da água possui uma eficiência de 0,000.000.045% enquanto a gasolina tem 25%. Uma das preocupações de Dacorregio é com a segurança da armazenagem do gás, já que o hidrogênio é inflamável, mas não tem cor e nem cheiro. O aparelho que faz a conversão da água em gás e promete mover um carro é facilmente encontrado no Mercado Livre, mas não possui regulamentação e nem garantia de funcionar conforme a propaganda.

Marcelo Dacorregio, instrutor do Senai: geração de hidrogênio é estudada, mas caso do vídeo é questionável.

 

Células são o futuro
Apesar das falhas de aparelhos mais simples, a geração de energia através da eletrólise tem avançado em todo o mundo. A tecnologia, por exemplo, é comumente usada pela Nasa para alimentar missões tripuladas no espaço e toma cerca de U$$ 500 milhões anuais da Toyota em estudos. “No futuro haverá células de geração de energia por meio da eletrólise, tanto em casa e em nossos equipamentos quanto nos carros, mas será algo bem diferente destes modelos simplificados que prometem milagres”, analisa Marcelo.

 

Álcool de cozinha pode, sim, ser usado para abastecer o carro

JdeB – A falta de combustíveis provocado pela paralisação de caminhoneiros provocou uma corrida aos postos por todo o Brasil. A dependência do carro como meio transporte fez muita gente apelar para métodos inusitados, como também colocar álcool de cozinha no tanque de carros movidos à etanol ou bicombustível.
A medida faz sentido, segundo o instrutor Marcelo Dacorregio. Ele explica que o álcool etílico hidratado com diluição de 96% pode servir como substituto do etanol em uma medida extrema. “O etanol dos postos tem uma diluição de cerca de 93%, ou seja, o álcool de cozinha 96% pode ser ainda mais eficiente, só que é mais volátil e pode também evaporar rapidamente”, diz.
Álcool com outras diluições não podem ser usados para abastecer os carros. O percentual de INPM divulgado nas embalagens diz a quantidade de água adicionada ao álcool puro para reduzir sua volatilidade. Os que possuem INPM de 92, 70 e 46 não devem ser utilizados em carros, já que a presença de mais água poderia provocar o chamado cálcio hidráulico no motor ou mesmo escorrer e se misturar ao óleo lubrificante.

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