PM abre IPM para apurar circunstância do fato que envolveu policiais e os jovens.
Na noite de segunda-feira, 23, policiais militares de Salto do Lontra balearam dois rapazes que estavam armados e teriam ameaçado atirar contra os PMs. Os homens estavam em atitude suspeita em um veículo com placas de São Francisco do Sul (SC). No momento da abordagem mostraram resistência em descer do carro e acatar a ordem policial. Eles foram identificados como Orestilhano da Rosa Junior, 21 anos, e Adrian Beppler da Rosa, 26 anos. Os dois eram irmãos.
A informação chegou à PM após três pessoas que estavam em um bar relatarem que dois homens em uma picape Ford Courier passaram algumas vezes em frente ao estabelecimento em atitude suspeita. Teriam parado e perguntado onde ficava a comunidade de Rio Cotegipe.
Pouco depois foram abordados pela PM. Saíram do veículo, mas o caroneiro teria levado as mãos à cintura para sacar uma arma, momento em que foi baleado por um dos policiais. Na sequência o outro também teria tentado apanhar a arma e foi atingido por disparos. Eles portavam um revólver, calibre 38, carregado, e uma garrucha, calibre 22, desmuniciada. Os dois foram socorridos e conduzidos ao Hospital Regional. Um deles morreu na noite de segunda-feira e o outro faleceu na manhã de ontem após passar por cirurgia.
No relatório diário, a PM informou que o veículo parou às margens da rodovia, porém, os ocupantes não desligavam e não desembarcavam do veículo, sendo necessário verbalização da equipe policial. O motorista teria descido primeiro e imediatamente mostrado as mãos, contudo o caroneiro demorou mais a descer do veículo e se recusava a acatar as ordens de mostrar e levantar as mãos.
Investigação
O subcomandante do 21º BPM, major Zocchi, disse que um Inquérito Policial Militar (IPM) já foi instaurado para apurar as circunstâncias em que os fatos ocorreram. “A princípio os dois suspeitos teriam resistido à abordagem. Então os policiais acabaram abrindo fogo e localizado duas armas de fogo, uma na cintura de um dos suspeitos e outra no veículo.”
De acordo com ele, a Polícia Militar recebeu informações de populares de que esse carro estava circulando na região central da cidade. “Pessoas não conhecidas na cidade, placas de fora, e como tivemos alguns eventos de crimes graves ocorrendo nessa região ali, os policiais acabaram fazendo essa abordagem e, infelizmente, ocorreu esse cenário trágico pra todo mundo, para as vítimas, familiares, policiais, não é uma tarefa fácil entrar em confronto armado e tirar a vida de alguém”, falou em entrevista à Rádio Educadora. Zochi afirmou que um oficial foi designado para conduzir o inquérito e o prazo para conclusão é de 60 dias.
O subcomandante confirmou que a Polícia Científica esteve no local fazendo a perícia, além disso, Polícia Civil, IML, e os demais órgãos foram devidamente comunicados. O Ministério Público, através do Gaeco, e a corregedoria central em Curitiba. “Todos os procedimentos em que havia necessidade de serem tomados de forma imediata como diz a lei foram tomados. Agora vamos aguardar o inquérito policial para verificar se existe um fato novo que não esteja na versão inicial da equipe.”
Família estava se transferindo para Ampere
A família dos dois jovens mortos pela Polícia Militar em Salto do Lontra, no começo da noite de segunda-feira, 23, estava se transferindo de São Francisco do Sul (SC) para Ampére. Os filhos estavam atendendo um sonho da mãe, dona Sandra Beppler da Rosa, que queria vir morar na região Sudoeste do PR – iriam residir em Ampére.
Os irmãos Adrian Beppler da Rosa, de 26 anos, e Orestilhano da Rosa Júnior, 21 anos – fez aniversário domingo, 22 – vieram de São Francisco do Sul segunda-feira, 23, e pediram para o primo Valdemar de Ramos, que mora na comunidade de São João do Cotegipe, em Salto do Lontra, se poderiam pernoitar na casa dele até o dia seguinte.
Ontem, os dois irmãos iriam pegar as irmãs Thaís da Rosa e Tatiane da Rosa, na Rodoviária de Salto do Lontra, e seguiriam para Ampére, onde a família passaria a residir. Thaís e Tatiane pegaram o ônibus da Viação Sudoeste em Joinville (SC), segunda-feira, e desembarcaram na manhã de ontem em Salto do Lontra. O primo Valdemar é quem foi buscá-las da rodoviária. Valdemar contou que recebeu mensagem de Adrian e Orestilhano por volta de 18h16 de segunda-feira. Na mensagem, eles diziam que já estavam em Salto do Lontra. Depois não houve mais contato deles com Valdemar. O fato envolvendo os dois irmãos e a PM aconteceu no começo da noite, na cidade de Salto do Lontra.
A prima Marli Aparecida Mensor de Ramos, que mora em Beltrão, foi ao IML para conversar com os familiares dos rapazes. Ela disse que os parentes são originários da região e há anos residem em Santa Catarina. “O sonho da mãe do piás era morar na região. Os piás estavam realizando o sonho da mãe”, informou.
Diante da morte dos dois irmãos, Valdemar de Ramos e Taís da Rosa vieram ao IML de Francisco Beltrão para fazer o reconhecimento dos corpos, apresentar os documentos dos rapazes e liberá-los para o velório e sepultamento em Santa Catarina.
Pedreiro e chapeador
Os pais Sandra R. Beppler da Rosa e Orestilhano da Rosa tiveram seis filhos e todos moram em São Francisco do Sul, Litoral Norte de Santa Catarina. Adrian é casado e tem uma filha de um ano e oito meses e trabalhava de chapeador. Recentemente fez cirurgia de um olho.
Orestilhano da Rosa Júnior trabalhava de pedreiro, juntamente com o pai Orestilhano da Rosa. À tarde o IML liberou os corpos que foram levados para preparação em uma funerária de Salto do Lontra. Hoje, os irmãos devem ser sepultados em cemitério de São Francisco do Sul.
Nunca pegaram em arma
A irmã Thais, chorando, deu rápida entrevista ao Jornal de Beltrão. Ela negou que os irmãos tivessem armas. “Eles nunca tinham pegado em arma nenhuma, a não ser de paint bol, de brinquedo. Eles nunca fariam mal nem a uma criança. Eles cuidavam de criança. Eles trabalhavam com crianças carentes”, relatou.
A irmã insistiu que Adrian e Orestilhano não tinham armas. “É mentira! Eles não tinham nem dinheiro pra almoçar, mal e mal tinham dinheiro pra gasolina que o meu pai deu.” Thaís confirmou a informação de que a mãe queria vir morar na região, “porque ela gosta bastante daqui”.
A jovem clamou por Justiça neste caso. “Queremos que a Justiça seja feita, porque eles não são capazes de fazer isso”, afirmou. A prima Marli também defendeu seus parentes. “Os piás só sabiam trabalhar. Não é porque morreram que ficam bons”, argumentou.