Um policial militar, com quatro anos de corporação, está preso na sede do batalhão da PM em Cascavel.
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Major Gerson Zocchi, na entrevista à imprensa.
Foto: Niomar Pereira/JdeB
O comando do 21º Batalhão da Polícia Militar concedeu entrevista coletiva na tarde de ontem para repassar informações sobre a investigação que apura as circunstâncias da morte dos irmãos Orestilhano Maria da Rosa Junior, de 21 anos, e Adrian Beppler da Rosa, de 26 anos. Os dois foram mortos durante uma abordagem policial no começo da noite de segunda-feira, 23, na cidade de Salto do Lontra. Um dos dois policiais que atenderam a ocorrência está preso desde sexta-feira, 27, na sede do 6º Batalhão da PM em Cascavel. A prisão é temporária (30 dias) para que as autoridades concluam as investigações.
Os dois irmãos estavam em um veículo com placas de São Francisco do Sul quando foram abordados pela PM. A versão apresentada no dia dos fatos é de que os dois teriam feito movimentos aparentando estarem armados. Os dois foram baleados e socorridos, mas morreram em casa hospitalar.
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O major Gerson Maurício Zocchi disse que quando o 21º BPM recebeu a notícia do fato imediatamente designou um oficial para que fosse ao local e fizesse os levantamentos preliminares, verificasse testemunhas, apreensão das armas, objetos e tudo o mais que fizesse contexto da ocorrência. Um dos jovens morreu quase que imediatamente, e, o outro, horas mais tarde no Hospital Regional de Francisco Beltrão.
Possíveis incongruências
“De todas essas diligências fizemos um relatório preliminar e detectamos algumas possíveis incongruências entre o que esteva descrito no boletim de ocorrência lavrado pela equipe policial, com a realidade encontrada no local, principalmente por não haver vida pregressa de crimes das vítimas”, afirmou o major.
De acordo com ele, a abordagem iniciou através de uma solicitação de populares, que perceberam o veículo transitando na cidade de Salto do Lontra, uma Ford Courier, com placas de Santa Catarina, de São Francisco do Sul. “Como é sabido aquela região (de Salto do Lontra) é um corredor hoje para contrabando de drogas e armas que circulam vindo da fronteira do Paraguai para os Estados do Sul. Vez ou outra, algumas abordagens têm culminado com situações de risco para as equipes policiais. Neste caso, durante o transcurso da abordagem, infelizmente, a equipe policial acabou utilizando arma de fogo contra esses dois jovens”, relatou.
Policial delatou os fatos
Um dos policiais que estava na ocorrência acabou delatando o outro. “Na quinta-feira à tarde tivemos a notícia de que um dos policiais que participou da ocorrência teria procurado o comandante da 2ª Cia lá em Dois Vizinhos, Tenente Marcelo, relatando uma situação que até então nós tínhamos uma certa desconfiança ele acabou confirmando”, disse o major.
O oficial disse que os disparos teriam sido efetuados por um dos policiais, Andrei Castelli, e que foram feitos no momento da abordagem, num primeiro momento por conta de um movimento brusco, que um dos abordados teria feito, levando as mãos na altura da cintura. “E depois, consequentemente, o outro, de forma quase que gratuita. Esse policial foi ouvido perante o Ministério Público da Comarca, perante o promotor do Gaeco de Francisco Beltrão, os quais desde o início das diligências estão acompanhando todas as investigações. Relatando, então, que aquelas armas, que apareceram na ocorrência, em tese, não seriam dos suspeitos. Teriam sido colocadas no local da ocorrência de forma fraudulenta, ou seja, indicando uma conduta criminosa do ponto de vista de fraude processual”, informou o Major Zocchi.
De onde, afinal, eram as armas?
De acordo com o Major Zochi, os indícios levam a crer que as armas (um revólver 38 e uma garrucha) teriam sido colocadas no veículo pelo Soldado Castelli, que supostamente saiu do local em determinado momento, foi até a sede do Destacamento da Polícia Militar, e retornou com as duas armas, colocando-as na cena do crime. Castelli tem quatro anos de serviço na corporação, até então com indicativo de bons serviços.
“Não temos interesse algum de ter uma conduta corporativa, de esconder a verdade, a realidade do que ocorreu. Infelizmente é um fato trágico para os familiares, para as próprias vítimas, que acabaram perdendo a vida de uma forma totalmente descabida. O que temos para dizer para a sociedade é que a corporação é muito maior do que esses erros, temos o maior interesse em esclarecer todos os fatos e, em sendo possível, o poder judiciário fará suas vezes, julgando um deles ou os dois policiais”, enfatizou o major.