O presidente eleito já declarou que, independentemente de qualquer situação, pretende manter sua linha pessoal de comunicação também nas plataformas oficiais do governo, com menos mídia tradicional.
Ano novo chegando, governo novo também. Nesta semana o Brasil acompanhou a diplomação do presidente eleito Jair Bolsonaro, fato que por si só já começa a nos trazer um clima de novidade nos ares brasileiros. Dentro desse ambiente de atualização da política, e da presidência, é sempre interessante observar alguns detalhes mais específicos no perfil de um novo governante e da equipe formada, olhando para pontos que nem sempre têm ampla divulgação, e muito menos a devida análise. Por conta disso, estive analisando e projetando a comunicação da figura máxima de nosso país e de seu governo. Inicialmente, uma questão (palavra essa muito usada pelo presidente, diga-se de passagem) que ninguém pode negar é que Bolsonaro se comunica com a população de uma forma pouco comum estando na posição que está e que, até então, era muito vista através das mãos de Donald Trump, o mandatário norte-americano. Inclusive, muito se fala das semelhanças entre o perfil dos dois. A primeira e mais palpável das que observo é justamente o uso das redes sociais – especificamente o Twitter e a vantagem (ou não) de sua limitação de caracteres – para realizar anúncios, notas oficiais e opiniões acerca de assuntos importantes para seus países e, em alguns casos, para todo o mundo. Porém, mais do que a plataforma propriamente dita, a marca comunicacional se dá pela forma de se expressar e pela linguagem que se utiliza. Bolsonaro materializa em suas entrevistas e pronunciamentos, tanto escritos quanto falados, um estilo que mistura um tom de simplicidade de vocabulário com trejeitos tradicionais da cultura militar, incluindo formalidades e formas de tratamento facilmente identificáveis, o que de certo modo substitui o discurso puramente político por algo diferente. Acredito que há muito tempo não tínhamos alguém com esse estilo na cadeira presidencial. Aí já está uma curiosidade interessante que, de uma forma ou outra, deve se tornar algum tipo de diferencial. Já do ponto de vista institucional, o governo federal, mesmo mantendo o contrato vigente com a maioria das agências de publicidade e de marketing digital que já prestavam serviços, deve também ter um estilo bastante peculiar de conversar com a população. O presidente eleito já declarou que, independentemente de qualquer situação, pretende manter sua linha pessoal de comunicação também nas plataformas oficiais do governo, com menos mídia tradicional e prioridade total ao diálogo direto pelas redes sociais. Tudo isso, é claro, gera ações e reações. Aliás, quantas imitações presidenciais já estão surgindo por aí? Depois do sucesso do “pão à Bolsonaro”[ pão francês com leite condensado] nas panificadoras brasileiras, está vindo por aí a “linguagem à Bolsonaro”. No fim, o que importa mesmo é que “tem que mudar isso daí, tá ok?!”.
Otávio Sedor é publicitário, pós-graduado em Comunicação Pública e especialista em Marketing Político