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Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Família Antonelo constrói nova balsa para travessia do Rio Chopim

Seu Selestino Antonelo é balseiro desde 1990 e contou com a ajuda do filho, Diego, para pôr o grande projeto em prática. A construção levou mais de
um ano para ser finalizada.

Seu Selestino, o netinho Anthony, a esposa Marinês, a filha Joslei e o neto José Lucas, na balsa antiga, com a nova embarcação ao fundo.

A família comprou o sítio em 1990 e esta será a terceira balsa a entrar em operação.

Na visita da reportagem do Jornal de Beltrão à família Antonelo, dia 31 de janeiro, seu Selestino Antonelo, o soldador Lourenço Fabrício, o Belinho, e o funcionário Valmir Rodrigues, o Alemão, andavam às voltas com os últimos detalhes da construção da Balsa Nossa Senhora da Salete — o nome é uma homenagem à comunidade. Quem chegava para cruzar o Rio Chopim de São Jorge D’Oeste para Verê, na altura do Termas Águas do Verê, ainda era transportado pela antiga embarcação, que leva o sobrenome da família.

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A construção da balsa durou um ano e três meses, num espaço plano cedido pelo vizinho na barranca do rio. Mas a ideia veio de muito antes. Há pelo menos cinco anos seu Selestino começou a planejar e, depois, comprar os materiais para a obra. A empreitada só foi possível porque o filho Diego, que trabalha com máquinas pesadas na São Jorge Manutenção, aceitou o desafio de trabalhar com o pai.

A partir do projeto de um engenheiro e seguindo as normas legais, foi dada a largada. “A gente queria carregar mais peso e, pensando em melhorias, tivemos a ideia de fazer uns orçamentos, cortar a balsa no meio e fazer ela mais grande. Daí fomos analisando e meu filho disse que seria melhor ir comprando o material, nem que demorasse três anos, pra poder fazer uma nova e vender essa. A partir disso aí eu fui comprando cada ano um pouco dos materiais. Claro que não é uma coisa tão simples de fazer, mas o Belinho já tinha experiência de muitos anos, já trabalhou em barragem e é soldador”, conta seu Selestino.

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A primeira balsa usada pela família era de madeira e, segundo seu Selestino, datava dos anos 50. “Comecei na balsa em 1990, dia 13 de março. Essa balsa já vinha de tempos, as informações que tenho é de meados de 51, por aí. Nos anos 90 deu muita enchente. Tem outro balseiro da época que me disse: ‘Tu pegou só nove, eu peguei onze enchentes’. Eu tava dentro do barro uma semana sim, outra não, falei pra mulher pra gente ir embora daqui. E ela sempre me incentivando. Era uma balsinha velha e compramos a prazo, mas deu tudo certo, consegui pagar dentro de um ano, depois comprei madeira e fiz uma nova.”

A segunda — e atual — embarcação, também de madeira e com capacidade para 30 toneladas, foi comprada do empresário Valdir Pagnoncelli, de Dois Vizinhos. “Ele que tinha essa balsa e me vendeu. Daí reformei, levei uns dois ou três anos pra pagar. Durou praticamente dez anos, mas sempre tive o sonho de comprar uma balsa de ferro”, relata o balseiro.

 

Valmir Rodrigues, o Alemão; Lourenço Fabrício, o Belinho; e seu Selestino Antonelo, trabalhando no motor da Balsa Nossa Senhora da Salete.

Fotos:Aline Leonardo/JdeB

Um sonho para 45 toneladas
Pra quem tinha medo de rio, enfrentar diariamente as águas do Rio Chopim, que chegam a sete metros de profundidade no meio do canal, tornou-se a principal fonte de renda. E agora, com a realização do sonho de seu Selestino e ampliação da capacidade para 45 toneladas, a expectativa é que o movimento também aumente. “Eu calculo que ela vá suportar até umas 60 toneladas, mas quem vai decidir vai ser o engenheiro e o pessoal da Marinha. Meu sonho era fazer essa mais grande pra poder passar caminhão e ônibus, que daí ela tem mais estabilidade pra sair do barranco.”

A regulamentação e a fiscalização são feitas pela Capitania dos Portos do Paraná. A embarcação precisa de licenças e o balseiro deve ter carteira e cursos de acordo com a função que desempenha. Seu Selestino também tem um termo de responsabilidade assinado na Marinha e qualquer problema precisa ser comunicado. “Eles dão as dicas do que precisa ter, que é obrigatório, como extintor, colete salva-vidas, boia, um barquinho, e documentação tudo em dia.”

De olho no rio
Para os pequenos Anthony, 6 anos, filho da Joslei com Cleiton Hugen, e Júlia Maria, 4 anos, filha de Diego (casado com Vanessa e pais também do João Vitor), viver próximo ao rio e às balsas do avô é uma aventura. Enquanto os garotos criam histórias de esconderijos e “trabalham” na embarcação, seu Selestino revela que o rio é uma preocupação constante. “Quando começa a chuvarada, você fica bem preocupado, porque o rio enche muito rápido. Mas eu tenho uma marcação de até onde eu posso navegar e dali pra frente a gente não vai, traz a balsa pra barranca.”
Ao contrário das crianças, algumas pessoas não querem saber de chegar perto do rio. “Tem gente que chega aqui, faz a volta e não vai. Claro que a gente respeita o medo das pessoas. Mas aqui é seguro, muitos escutam que afundou uma balsa em algum lugar e têm medo por isso, mas hoje, como a balsa é ferro, pra ela afundar tem que ser um buraco muito grande, ou ultrapassar o peso, vamos supor, mas eu sempre respeitei.”

Fase de testes
No último domingo, a Balsa Nossa Senhora da Salete fez a primeira travessia, pois precisa estar navegando para serem conferidos os últimos detalhes, como a estabilidade, e aguardar a fiscalização. “Eu tenho um motor Tobata com hélice e agora a gente tá inovando e tá indo muito bem o motor elétrico, o pessoal até fala que agora não faz mais barulho. Tem um motor submerso e um em cima, a gente tá vendo qual vai usar, mas provavelmente vai ser o que tá em cima da balsa, o de dentro da água vamos esperar mais um pouco, porque tem mais custo. Quando estiver tudo legal, a gente vai marcar um dia pra fazer a inauguração”, projeta o balseiro.

O valor para atravessar o Rio Chopim de balsa entre São Jorge e Verê, encurtando a viagem em cerca de 30 km, é de R$ 7 para moto, R$ 15 para carro e de R$ 20 a R$ 30 para caminhão, de acordo com o peso. Segundo seu Selestino, com a balsa nova, o preço pode até baixar se o fluxo melhorar.

 

 

 

Mais um atrativo turístico para a região

Muito mais que um meio de transporte — hoje, por exemplo, poderia ser substituída por uma ponte —, a balsa da família Antonelo é um atrativo turístico para a região das Águas do Verê. Muitas pessoas que frequentam as termas incluem uma visita à balsa no roteiro. “Quem vem da região de Cascavel, Toledo, Guarapuava, Curitiba, Guaíra, que sabe da balsa, sempre vai passar na balsa, porque é mais perto e é uma atração. Tem pessoal que vai no hotel e vem trazer as crianças pra ver a balsa, alguns que vêm pra tirar foto na balsa, no rio, então é algo que chama a atenção”.
No sítio de 25 mil m² às margens do Rio Chopim, a família já plantou pêssegos e verduras no sistema orgânico, pois uma intoxicação fez seu Selestino mudar os hábitos: “Desde 99 eu não uso química no meu pedaço de terra”. Entretanto, devido a dificuldades com as plantações, há cerca de dois anos só se planta para o consumo, mas um pouco de tudo. Dona Marinês, esposa de seu Selestino, mantém uma panificadora, com a produção de pães e bolachas que comercializa na feira, em São Jorge D’Oeste.

A antiga balsa de madeira será desativada e pode virar mais um ponto turístico.

Foto: Aline Leonardo/JdeB

Por isso, a família também está investindo no turismo rural. Joslei e o filho mais velho, José Lucas, de 18 anos, participam de cursos do Senar, de Verê. A casa do turista, com artesanato de vários municípios vizinhos, já está instalada na propriedade e existe até uma ideia de tornar a balsa que será desativada em um espaço de contemplação do rio e do pôr do sol, com serviço de lanchonete. “Foi conversado com o pessoal das Águas do Verê, eles passam na balsa e a gente não cobra a passagem deles, e quando eles fazem a caminhada, trazem o pessoal pra visitar o outro lado e trazem na lojinha também”. Se a ideia não emplacar, seu Selestino já recebeu proposta de compra da antiga balsa.

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