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Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

“Eu nasci gostando de jogar futebol”

Como muitas meninas, Evelin queria jogar bola e, como muitas meninas,
foi jogar com os meninos. Hoje, ela é atacante do time sub-17 da Chapecoense.

Aos 5 anos, Evelin já demonstrava toda a sua paixão pelo futebol. Aos 16, representou o Brasil, com seu colégio, no Mundial Escolar, na Sérvia, e voltou com a medalha de bronze.

Aos 5 anos, Evelin já demonstrava toda a sua paixão pelo futebol.

Foto: Arquivo Pessoal

Qual é, qual é?!
Futebol não é pra mulher…
Eu vou mostrar pra você, mané,
Joga a bola no meu pé!

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O refrão de “Jogadeira”, música criada por Cacau, do Corinthians, e a ex-jogadora Gabriela Kivitz, desafia e chama pro jogo quem ainda acha que mulher não tem lugar no campo. Quando Evelin Luana Tosetto nasceu, em 2003, em Coronel Vivida, Marta começava a trilhar seu caminho na Europa. Em 2010, quando Marta ganhava seu 5° prêmio de melhor jogadora do mundo, Evelin começava a treinar junto com os meninos na escolinha do Genoma Colorado, em Honório Serpa.

O que aproxima as duas realidades é o gosto pelo futebol, não importa quantas barreiras seja preciso derrubar. “Digamos que eu nasci gostando de jogar futebol, sempre brincava no campinho que tinha perto de casa, ficava batendo bola a tarde inteira sozinha. Sempre tive vontade de ser uma jogadora, deixei claro isso para meus pais. Antigamente, era difícil ver meninas jogando e tinha poucas escolas de futebol feminino, além do bullying que eu sofria por gostar de futebol. O apoio deles foi fundamental”, diz a atacante Evelin, 16 anos.

O pai, Evandro Tosetto, é presidente do Coronel Futsal, que no ano passado foi campeão da Série Bronze do Paranaense e em 2019 disputa a Série Prata. Em casa, incentivo não falta para a jovem jogadora. “Ela queria porque queria treinar na escolinha. Como não tinha feminina, a única opção foi colocar junto com os meninos do Genoma Colorado, que na época eram treinados pelo professor Emerson Pizzi. Segundo o próprio professor, ela se destacava entre os meninos. Como eu e minha esposa, Suzana, sempre jogamos, apoiamos sempre”, afirma Evandro. A torcida também tem o reforço do irmão, Luan.

Em abril deste ano, Evelin cruzou o Atlântico com a equipe da Escola Lourdes Lago, de Chapecó (SC), que foi representar o Brasil no Mundial Escolar de Futebol, disputado em Belgrado, na Sérvia. “Ganhamos o Brasileiro Escolar em Maceió e conseguimos a vaga para o mundial. Ficamos com a medalha de bronze”, conta a atacante. “Uma das minhas competições favoritas é o Brasileiro da Conmebol de 2017, Sub-14, ficamos em terceiro lugar. O campeonato foi realizado na Granja Comary.” Confira o histórico de Evelin no final da matéria.

O maior sonho

Apesar da pouca idade, a atleta já sentiu o gostinho dos títulos e tem certeza do que quer para a vida: “Meu maior sonho é conseguir alcançar minhas metas, conquistar muitos títulos, ajudar minha família, retribuir tudo que eles já fizeram por mim e vestir a camisa da Seleção Brasileira. Trabalho forte pra isso, procuro superar meus limites em todos os treinos. Acredito que todos os dias temos oportunidades novas para melhorar e aperfeiçoar o que já sabemos. Com o pé no chão e a cabeça no lugar, sei que vou conseguir realizar meu sonho”.

O número 7

A camisa 7 é a preferida de Evelin por dois motivos: “Me inspiro muito no Cristiano Ronaldo, desde pequena. O número 7, que ele sempre usa, meu pai usava quando jogava, então eu sempre jogava com a 7 em todo campeonato que disputava”. A atacante também tem o craque da Juventus como uma referência fora dos gramados.

“Gosto da história de vida dele, de superação e força de vontade para superar seus desafios. Sou muito fã, principalmente por ser o melhor jogador do mundo. Ganhando praticamente todas as competições, ele nunca parou de se dedicar aos treinos, é o primeiro a chegar e o último a sair, e mantém a humildade sempre. Gosto muito quando ele fala que seu talento é um presente de Deus. Realmente, Deus nos dá o talento, seja ele qual for, basta a gente saber aproveitar.”

Aos 5 anos, Evelin já demonstrava toda a sua paixão pelo futebol. Aos 16, representou o Brasil, com seu colégio, no Mundial Escolar, na Sérvia, e voltou com a medalha de bronze.

Aos 16, Evelin representou o Brasil, com seu colégio, no Mundial Escolar, na Sérvia, e voltou com a medalha de bronze.

Foto: Arquivo Pessoal

 

E o futebol feminino?

A Copa do Mundo da França, que começou ontem, tem tudo para ser um divisor de águas para a categoria. Nunca o futebol feminino foi tão divulgado e televisionado. No Brasil, pela primeira vez um canal de TV aberta — a Band — está transmitindo a competição integralmente, e outros dois de rede fechada — SporTV e Band Sports — passarão os jogos da equipe brasileira. Como alguém que começou jogando com os meninos, Evelin conhece algumas das dificuldades enfrentadas pelas mulheres que não arredam o pé do campo.

“Apesar da influência significativa do futebol na cultura brasileira, o futebol feminino se apresenta de forma tímida, muitos fatos confirmam esse preconceito em relação às mulheres jogarem futebol. Passo a passo, elas foram conseguindo seu espaço, brigando e lutando pelos direitos e igualdade. Hoje podemos dizer que conseguimos uma parte grande nesse processo de crescimento do futebol feminino. Com a torcida de todos, a nossa seleção vai conseguir ótimos resultados na Copa do Mundo”, opina.

A Seleção Brasileira estreia amanhã, às 10h30, contra a Jamaica, em Grenoble. Em 2019, enquanto Marta, Formiga, Cristiane e companhia vão em busca de um título inédito para o Brasil, Evelin ganha mais motivos para não deixar de acreditar.

 

Histórico: Os campos e os campeonatos de Evelin

Depois de treinar por dois anos com os meninos, no Genoma Colorado, em Honório Serpa, a família de Evelin voltou para Coronel Vivida e ela trocou o gramado pelas quadras. Jogando futsal, com o Colégio Arnaldo Busato, foi campeã invicta, artilheira e destaque dos Jogos Escolares, em 2016.

Em seguida, disputou os Jogos da Juventude por Boa Vista da Aparecida, também foi campeã e artilheira. Despertou o interesse da equipe de Telêmaco Borba, treinada por Anderson Valério, mas como tinha apenas 14 anos, foi indicada para Éder Poplaski, treinador da Female de Chapecó, que tinha uma parceria com a Chapecoense e o projeto Adell.

Evelin participou por um ano e meio do projeto. Em 2018, a parceria da Female (futsal) com a Adell (futebol) terminou e ela teve que optar por um dos dois, e escolheu o campo. “Este ano, jogamos a primeira edição da Copa Nike Feminina, ficamos em terceiro lugar. Ano passado, no Brasileiro da Conmebol, perdemos a final, ficando com a medalha de prata, e fui campeã do sub-15 de futsal e dos Joguinhos de Santa Catarina”, completa Evelin.

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