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Francisco Beltrão
domingo, 01 de junho de 2025

Edição 8.216

31/05/2025

Perspectivas para quem está iniciando a profissão de médico

O Campus da Unioeste em Francisco Beltrão está diplomando a segunda turma de médicos. Como foi o curso, desde a sua escolha, e como esses jovens estão preparados para iniciar a vida profissional? Na impossibilidade de ouvir todos, o Jornal de Beltrão entrevistou os três primeiros beltronenses a concluir o curso de medicina em sua cidade.

Heloisa Stang Huning

O campus da Unioeste de Francisco Beltrão ainda não formou médico nenhum beltronense que tenha feito todo o curso, desde o vestibular. Na primeira turma, formada em novembro de 2018, eram todos de outras cidades. Na segunda turma, que colou grau nesta sexta-feira 24 de janeiro, tem três beltronenses, mas todos iniciaram o curso em outras instituições e depois obtiveram transferência para concluir em sua cidade.

Luiz Fernando Kist iniciou medicina em Joaçaba, Mariana Letícia Galupo em Passo Fundo e Heloisa Stang Huning em Presidente Prudente (SP). Luiz Fernando, filho de Gildo e Claudeni Kist, tem um irmão, Cássio, que é formado em sistemas de informação.

Mariana Letícia Galupo, a Mari, é filha de Antonio e Marinez Galupo e tem dois irmãos mais novos: Antônio Gabriel e Amanda. Ela conta: “Eu nasci em Francisco Beltrão, no Hospital São Francisco, e tive a honra de acompanhar, durante a faculdade, o obstetra e a pediatra que cuidaram de mim quando nasci, o dr. Rubens Schirr e a dra. Irides Cavalari”.

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Heloisa Stang Huning é filha de Eliane e Alcindo Huning e tem um irmão, João Augusto, que é engenheiro químico.

Um ponto positivo, para o curso de medicina de Francisco Beltrão, é que os três conheceram outros cursos e agora falam que o nível do nosso é bom. Entre outros pontos positivos, também tem a certeza de que estão capacitados, é esta a profissão que desejam e que, eles acreditam, todos os formados deverão exercer a profissão de médico.

A entrevista do Luiz Fernando e a Heloisa foi no Auditório Carlos Maes, quarta-feira 22, pouco antes do ensaio para a solenidade de formatura; a Mariana, que não pôde estar lá naquela noite, respondeu pelo Whatsapp.

Luiz Fernando e Mariana.

 

Luiz Fernando, você e a Maria são namorados. Já se conheciam antes de começar a faculdade?
Luiz- A gente se conheceu enquanto ela morava lá e eu em Joaçaba. Foi aqui em Beltrão mesmo, mas não tinha nada a ver com a faculdade, foi pura coincidência. E depois, meio que deu certo pros dois se juntarem, eu passei, ela passou e a gente acabou ficando junto.

Mari – Nós estudávamos em escolas diferentes, uma amiga em comum nos apresentou quando já estávamos na faculdade.

Como vocês conseguiram vaga na Unioeste?
Heloisa – É, na verdade a gente veio porque a universidade tem o “Provou”– Programa de Ocupação das Vagas Ociosas da Unioeste. É uma oportunidade bem legal, pro pessoal daqui que também quer voltar pra casa, quer voltar morar com os pais, tá procurando, o edital sai todo ano, e conforme saem vagas na turma, por exemplo, de um pessoal que transferiu ou desistiu do curso, tá tentando a prova, são várias fases de processos seletivo, de enviar documentos, depois fazer a prova, pra depois vir pra cá. Foi o que aconteceu com a gente, acabamos voltando pra casa.

Por que essa dificuldade de gente daqui ocupar essas vagas?
Heloisa – Eu acho que o processo seletivo da Unioeste é concorrido, porque uma faculdade estadual sempre é mais concorrida. Eu fiz seis meses de cursinho, passei numa universidade particular, daí pelo ‘Provou’ eu consegui transferir pra cá.

Luiz – Eu fiz dois anos de cursinho, aí passei lá em Joaçaba, Santa Catarina, pela CAF (Centro Acadêmico de Fisioterapia) que é um método das universidades privadas de Santa Catarina.

Como nasceu a vocação de vocês para a medicina?
Luiz – Olha, desde criança o pai falava que eu queria ser médico. Quando eu conversava com ele, eu falava que queria ser médico. Mas depois nunca tinha passado pela minha cabeça fazer medicina. Quando chegou no meu terceirão, eu tava muito indeciso, não sabia que curso ia fazer; tentei fazer Administração, passei pela UTFPR em Pato Branco e passei em Direito aqui em Beltrão. Aí eu acabei fazendo as duas faculdades ao mesmo tempo, Administração e Direito. Todo dia eu ia pra Pato Branco e voltava e ia pro Cesul, fazer Direito. Mas fiquei seis meses e desisti, não me identifiquei com os cursos. Aí eu acabei optando por estudar mesmo. Fiquei dois anos no cursinho e consegui passar, fiquei um ano aqui no Águia e um ano lá no Positivo, em Curitiba.

Não foi o primeiro curso que você imaginou então?
Luiz – Não, não. Eu não sabia o que fazer. Eu tava muito indeciso, optei por Administração que é uma área que eu acho muito promissora, e Direito também. Mas não me identifiquei com o curso, assim, os primeiros seis meses eu vi que não era isso que eu queria pra minha vida, e aí já parti pra outra opção. Fui pra área de saúde, foquei em Medicina.

E depois que começou o curso, você gostou?
Luiz – Aí sim, eu me encontrei. No primeiro dia de aula, aquela emoção, aquela aflição de tirar sangue do colega. Eu me realizei de verdade mesmo, foi aí que eu consegui me identificar, e consegui concluir o curso com êxito.

Mari – Eu dizia que queria ser médica desde criança, tive certeza no primeiro ano do ensino médio quando meu nono fez uma cirurgia cardíaca e ficou dois meses internado. Tive vontade de ajudar pessoas como os médicos ajudaram meu nono.

Mari, você gostou do curso, é isso mesmo que você quer?
Mari – Sim, não me vejo fazendo outra coisa.

E você, Heloisa, quando começou a pensar em Medicina?
Heloisa – Na verdade, foi decidido mesmo no terceirão. Eu fiz o meu terceirão fora, saí de casa bastante cedo, pra estudar, mesmo sem ter decidido que curso eu queria. No terceirão eu tinha muitos colegas que queriam Medicina, e foi aí que comecei a me interessar mais, pesquisar mais sobre a área e, realmente, quando eu entrei no curso eu me encantei. Eu não tentei outro não. Eu até tentei um vestibular de odonto, mas não passei, mas já pensando na área da saúde.

E depois que começou o curso gostou?
Heloisa – Gostei. E conforme a gente vai crescendo dentro do curso, a gente vai se apaixonando cada vez mais, porque tem sempre coisa nova e novos desafios.

Vocês já estão definidos em que especialização vão querer?
Mari – Sim, eu quero Geriatria.

Luiz – Quando você entra na faculdade de Medicina, você tem uma ideia muito superficial, você tem noção de como são as especialidades, Pediatria cuida de criança, Geriatria cuida de idoso, mas quando você entra no curso, você vai passando pelas especialidades e aquilo vai revirando tua cabeça e você não sabe pra que área vai seguir. Eu acho que todo mundo já passou por isso, são raras as exceções que chegam e falam “ah, eu quero isso” e vai até o final com aquela decisão. Pra mim, não foi assim, eu andei pensando que queria Cirurgia Plástica, depois mudei pra Cirurgia Geral, depois mudei pra Clínica Médica, depois que entrei na clínica, porque você vai se apaixonando pelas áreas. É claro que tem áreas que você tem menos contato, porque você se identifica menos, mas tem muitas outras áreas, porque é um leque muito grande que você acaba se identificando, não é assim uma área específica. Eu me identifiquei com várias áreas, e ainda tô decidindo o que eu vou fazer, é por isso que eu optei pra este ano trabalhar bem e estudar pra residência, pra depois definir bem certinho.

Heloisa – Eu, há bastante tempo queria Oftalmo, mudei de ideia várias vezes, e agora quero Oftalmologia também. Mas este ano pretendo concluir isso, trabalhar, estudar pra prestar a residência e, quem sabe, amadurecer a ideia, mas nada tá definido.

Como vocês se sentem em começar o trabalho, têm uma base boa?
Heloisa – Tem, claro que sim! A gente teve muitos professores ótimos na nossa formação, que tão sempre do nosso lado. Eles nos dão muito suporte, muita tranquilidade mesmo pra atuar, porque eles tão sempre do nosso lado, nos dão apoio, isso ajuda bastante. A gente também teve bastante oportunidade de estágio aqui, não só em Beltrão, como na região, em Pato Branco, em Ampere, Santa Izabel, então a gente conhece diferentes realidades e diferentes locais.

Luiz – Na verdade, eu já comecei (trabalhar). Eu peguei meu CRM semana passada, em Curitiba, aí vim pra cá e fiz um plantão em Nova Prata, esse final de semana. Graças a Deus, correu tudo bem. Tem aquela sensação de insegurança, mas que aos poucos a gente vai perdendo o medo de uma coisa que não é tão grave, que às vezes é só a sensação de emoção e não tão grave. No começo, o emocional fala muito mais alto que o racional, com o tempo a gente vai perdendo esse medo. Mas é uma situação bastante desafiadora, principalmente quando você tá num local que não tem muito recurso e você tem que abrir mão de professores, que nem a Heloisa falou de pedir ajuda, ligar pra outros lugares pra pedir opinião sobre um determinado caso. Sempre os professores aqui da Unioeste nos deram essa liberdade: “Quando vocês tiverem alguma coisa grave, alguma coisa que tão em dúvida, vocês podem ligar, podem pedir ajuda, porque a gente sempre vai estar disponível pra ajudar vocês”.

Quanto ao curso da Unioeste – que é novo, vocês são a segunda turma –, qual é a avaliação que têm em relação a ele, comparando com os outros cursos?
Heloisa – Olha, eu acho que, na nossa trajetória, a gente pôde ver o quanto ele avançou. Eu entrei no terceiro ano e até o sexto já deu uma diferença muito grande. É lógico, a gente teve bastante dificuldades, algumas limitações, em questões que eu comentei de ir para outra cidade, pra encontrar o lugar de estágio, mas aos pouquinhos junto com a coordenação, com o doutor Luiz Fernando Dip, está se organizando pra manter tudo aqui em Beltrão. A tendência é só melhorar, aos pouquinhos vão se estruturando, mas já é muito bom, com certeza a gente pôde ver o crescimento ao longo do curso, e a gente tem muito orgulho de fazer parte dessa história.

Luiz – Eu sou da mesma opinião. Eu acho que a faculdade aqui vem tendo um crescimento muito rápido e exponencial, na verdade, porque é claro que quem começou lá do zero, como eu iniciei lá no terceiro ano, eu tenho uma noção um pouco menor, mas quem começou lá no comecinho, e ver a evolução que a universidade teve ao longo desse tempo, é motivo de se orgulhar mesmo.Com o empenho de todos os profissionais, todo mundo engajado ali pra manter, principalmente a preocupação dos coordenadores de manter uma boa formação pro aluno, ele se preocupa muito com a nossa formação, é o que faz a universidade ir pra frente e crescer.

Mari – Eu me surpreendi positivamente. Tivemos algumas dificuldades no começo mas com o decorrer do tempo o curso estava muito bem estruturado. Tivemos a colaboração de muitos médicos da região que nos deram aula e preceptoria voluntariamente e que acabaram se tornando nossos amigos, além de inspirações. Sem dúvidas, muitas pessoas trabalharam pra que o curso chegasse no nível que está, a professora Franciele Follador, o professor Roberto Yamada e o professor Luiz Fernando Dip foram os grandes nomes por trás da nossa formação.

Da turma que vocês participam, qual é o percentual de médicos mesmo?
Luiz e Heloisa – 100%, com certeza.
Luiz – As duas turmas se formaram agora, e eu acredito que não vá ser diferente também. Porque o curso aqui em Beltrão, exige muito do aluno, são professores muito exigentes que não hesitam em reprovar, se necessário, então você tem que ter um apoio e isso, pra mim foi muito importante voltar e tá em casa, porque a gente sempre teve o apoio dos pais, os familiares nas situações difíceis, quando precisou. Eu acho que nós somos pessoas privilegiadas, justamente por isso, por poder cursar um curso de Medicina numa faculdade estadual e morar em casa, ter esse apoio que às vezes uma outra pessoa não tem e acaba dificultando ela conseguir lidar da melhor forma possível com o curso.

Todos querem exercer a profissão mesmo.
Heloisa – Com certeza, os meus colegas, cada um com seu jeitinho especial, tenho um carinho grande por todos eles e sei o quanto eles se esforçaram juntos, passamos por momentos nada, nada fáceis e todos eles são excelentes médicos.

Pelo contato que vocês têm com colegas de outras cidades, eles estão ansiosos pra voltar para as cidades, ou Beltrão os acolheu bem?
Heloisa – Acolheu muito bem, a maioria deles pretende ficar na região, alguns até já estão encaminhados onde vão fazer plantão, onde vão trabalhar. Já estão conversando com a Secretaria de Saúde e tal, e pretendem ficar por aí.
Luiz – Aqui em Beltrão tem bastante campo de trabalho ainda, na área médica e também nos interiores, que você pega uma população desassistida. O pessoal que quiser ficar aqui, com certeza vai ter campo de trabalho, vai ter oportunidades de ficar.

O que vocês dizem pra quem está pensando em Medicina?
Heloisa – Eu sempre falo assim, pras pessoas que me pedem uma dica: é uma profissão muito bonita, é gratificante, mas não é fácil! Eu acho que, se você tem esse interesse, tire um dia, acompanhe um médico, algum conhecido da família ou até mesmo aqui dentro da universidade, eu tenho certeza que, se você entrar em contato, tem a feira de profissões da Unioeste, se você passar um dia na universidade, um dia com o aluno, com o estagiário, com um interno ou até com um médico, se você tem conhecimento. É uma dica muito legal, pra você sentir como vai ser o dia a dia, porque às vezes a gente vê na televisão, é uma coisa, mas no dia a dia é puxadinho.

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