Veículos de carga têm livre tráfego pelo País e passam pelas barreiras, mas restaurantes, borracharias e oficinas estão fechados e dificultam a rotina de quem está no trecho.
Ontem à tarde, o motorista Ademar Foppa esperava para descarregar na BRF de Francisco Beltrão. Dali, ia “erguer o eixo e ir embora” para sua casa, em Garibaldi, no Rio Grande do Sul. “O problema é que a gente não tá tendo apoio na estrada, não temos onde comer porque tá tudo fechado por onde quer que passe”, relatou. O fechamento de comércios com atendimento ao público foi decretado em várias cidades do País como uma forma de conter a proliferação do coronavírus.
Ademar saiu segunda cedo de Primavera do Leste (MT) e só encontrou um mercadinho na estrada onde conseguiu comprar um pedaço de carne pra fazer na “caixa” do caminhão. À noite, em Cascavel, pessoas que estavam no posto onde ele parou para dormir o levaram até um mercado da cidade para comprar comida. “Frete tem, nas barreiras a gente passa tranquilo, mas não dá pra ter nenhuma segurança se as coisas vão tá funcionando ou não, então o melhor é ir pra casa, esperar uns dias e voltar na hora que normalizar.”
[relacionadas]
No posto em frente à BRF, o pátio quase vazio indica que há hoje menos caminhoneiros circulando que o normal. No local, até a venda de óleo diesel caiu nos últimos dias. A borracharia ao lado está trabalhando, mas com restrições, segundo o borracheiro: “Só fico eu aqui e, quando o motorista chega, tem que permanecer na cabine ou sair dar uma volta até que termino o serviço”.
O caminhoneiro Renato Rosalino chegou ontem de volta a Francisco Beltrão e vai permanecer em casa até domingo. O motivo também é a falta de locais de apoio na estrada. “O motorista que depender de restaurante passa fome no trecho. Ontem [segunda] até consegui uma marmita num restaurante e agora carreguei e ia voltar pro porto, mas vamos esperar até domingo, se melhorar, daí volto.”
A falta de locais abertos para dar suporte aos motoristas atinge, principalmente, quem faz viagens mais longas. Um caminhoneiro que conversou com nossa reportagem contou que nesta semana a transportadora para a qual trabalha está fazendo somente “baldeação” entre unidades da região, mas que os colegas de longe também reclamam do fechamento de pontos de apoio. “Tem posto que não tá mais deixando o pessoal tomar banho por medo do vírus”, pontuou.

Prevenção
Tanto caminhoneiros que trabalham por conta como os que são funcionários estão preocupados com a situação. Apesar de continuarem na estrada para não deixar o transporte de produtos parar – inclusive os essenciais nesta crise –, eles adotaram medidas como o uso de máscaras ao descer dos veículos e a higienização das mãos e cabine com álcool.
Rotarianos levam marmitas para motoristas
JdeB – Integrantes do Rotary Clube Novas Gerações, de Francisco Beltrão, remanejaram recursos que seriam usados nos jantares do grupo para comprar marmitas e distribuir a caminhoneiros. O ato foi registrado ontem e, segundo o associado Junior Terra, deve servir de inspiração para outros clubes de serviço.
“Como a gente é unido no Brasil inteiro, gostaria de passar essa mensagem a todos os presidentes de Rotary do País, para quem tiver condição de reverter suas jantas em ajuda para esses heróis, estão convidados. Vamos resolver todos os problemas? Não vamos, mas é um passo à frente que estamos dando para vencer essa batalha”, contou Terra, em vídeo divulgado nas redes sociais.
Em Beltrão, os clubes de Rotary também estão colaborando com a atuação de voluntários nas barreiras montadas nas entradas da cidade. O pessoal ajuda os profissionais de saúde e militares a identificar e monitorar quem passa por esses locais.

Nesse posto em frente à BRF (saída para Dois Vizinhos), o pátio normalmente fica cheio de caminhões; ontem estava praticamente vazio.
Fotos – Leandro Czerniaski/JdeB