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Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Coronavírus deixa rombo nas finanças brasileiras de aproximadamente R$ 1 trilhão

Governo estima gasto de 1 trilhão de reais para socorrer trabalhadores, empresas, municípios e estados. Dinheiro virá do aumento da dívida pública.

Professor Claudemir fala sobre a difícil situação financeira do Brasil.

O presidente Jair Bolsonaro, em entrevista à CNN na quinta-feira, disse que o rombo nas contas públicas com o combate à pandemia do coronavírus (Covid-19) deve chegar a R$ 1 trilhão. Esse dinheiro virá, basicamente, do aumento da dívida pública brasileira. Segundo ele, todo o esforço da reforma da Previdência para economizar cerca de R$ 900 bilhões em 10 anos, se perdeu em uma semana. “Estão matando a galinha dos ovos de ouro que é a União”, disse. A preocupação é cada vez maior com o futuro da economia brasileira. Uma vez que o Brasil terá dificuldade até mesmo para alavancar o dinheiro necessário para ajudar estados e municípios.

Segundo o professor Claudemir José de Souza, diretor da Unipar e analista de valores mobiliários, o auxílio de R$ 600 para o trabalhador, o uso da Medida Provisória para liberar o seguro-desemprego para as empresas não demitirem, foi uma medida estratégica para o governo preservar caixa e, ao mesmo tempo, manter os empregos. “O deficit previsto para esse ano, que no início do ano era aí na casa de 124 bilhões, ou seja, tudo que o governo iria arrecadar ele ia colocar na máquina pública e ainda faltariam 124 bilhões, já está caminhando para R$ 500 bilhões. Com todos esses gastos do coronavírus, a gente já está vivendo a pior crise desde 1929 (quebra da bolsa americana), com o governo tendo que auxiliar trabalhadores, famílias, empresas, ajudando nas duas pontas a saúde e a economia. O grande problema é: como financiar este rombo? É financiado na verdade por emissão de dívida pública. O governo lança através do Tesouro Nacional títulos de dívida. Então quando o investidor compra títulos no Tesouro Direto ele tá comprando o título de dívida do governo federal.”

Sem vendas, sem impostos, sem arrecadação
De acordo com ele, estados e municípios e a própria União estão tendo prejuízos imensos, porque com as quarentenas o comércio fechado não vende, não vendendo não gera imposto para o governo. Não tendo impostos, a arrecadação cai, principalmente de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias) e ISS (Imposto Sobre Serviços), que são os principais impostos. Com essa queda de arrecadação, a única forma do governo se financiar é por meio de dívida.

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“O Tesouro Nacional já informou que tá tendo dificuldades para vender título de longo prazo, porque para você vender título no mercado tem que ter comprador e quando a gente olha o cenário internacional todos os países enfrentando o mesmo problema, a mesma crise, o investidor prefere investir onde é mais seguro.”

Da onde virá o dinheiro?
Claudemir diz que não basta o governo ou a Câmara dos Deputados e o Senado “falar vamos ajudar com 89 bilhões os estados. “Sim e de onde virão os 89 milhões? De onde vai tirar isso? Não tem de onde tirar sem ser lançar títulos públicos. Ocorre que se o mercado não está propenso a comprar títulos públicos, uma vez que os investidores estrangeiros tiraram muito recursos do Brasil. Há muito dólar indo principalmente em direção aos Estados Unidos porque é um mercado mais seguro. O Brasil é um País que é emergente, mas assim como Argentina e México, são países caloteiros. O Brasil não é diferente desses países, porque já deu calote na sua dívida. Qual é o investidor lá de fora que vai querer colocar dinheiro no Brasil. Para eles Brasil, Venezuela, Cuba, México, Argentina é tudo a mesma coisa. Ele só coloca um dinheiro aqui se o Brasil tiver juro alto para pagar. Se pagar uma boa taxa de juros e ainda eles vão avaliar o risco. Agora nessa situação do vírus realmente é uma dificuldade e o tesouro está justamente pontuando isso que não adianta ficar contando com dinheiro de lançamento de títulos sem combinar com o comprador. Tem que ajudar, sim, o Brasil ajudou pouco até agora comparado aos outros países, (O Brasil está ajudando com algo em torno de 5% do PIB, Alemanha 35% do PIB, Espanha e Reino Unido, por exemplo, 17% do PIB, a França 15% do PIB, os Estados Unidos, que sozinho representa quase 25% do PIB do mundo, vai auxiliar com 10% do seu PIB), mas essa crise infelizmente pegou o Brasil no momento muito delicado da sua economia. Uma coisa é anunciar que vai colocar dinheiro, outra coisa é conseguir o dinheiro para financiar isso”.

 

É possível usar as reservas?

JdeB – O Brasil tem um volume superior a 300 bilhões de dólares em reserva internacional. Muitas pessoas se questionam por que não usar as reservas neste momento de crise. Segundo o professor Claudemir, as reservas são as garantias de financiamento. “Quando a gente olha a dívida externa ele vem pagando só juros, não vem pagando o valor principal. Se pagando juros e, somente com pagamento de juros, já deixou o Brasil numa situação complicadíssima. A máquina pública consome todos os recursos oriundos dos impostos e ainda a gente precisa financiar uma parte lançando título de dívida. Esses títulos têm vencimento, então se eu usar o dinheiro das reservas internacionais agora, eu não vou conseguir renovar as dívidas que eu já lancei. É um pepino. Se usar as reservas agora me arrebento daqui um ano, daqui dois anos, porque eu não vou conseguir refinanciar as dívidas que eu já contraí. Então o único caminho é vender tudo que for possível, vender mesmo, fazer dinheiro, fazer caixa e reduzir o que foi possível dos gastos.”

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