Dos 356 matriculados, há apenas meia dúzia de atendimentos diários no setor de saúde
Em seus 44 anos de existência, este é o primeiro aniversário sem comemoração da Apae de Francisco Beltrão, nem entre os alunos. A pandemia do coronavírus mantém a maioria em casa e a dificuldade maior é o transporte, porque são de famílias carentes. Dos 356 matriculados, uma média diária de apenas cinco ou seis são atendidos pela equipe de saúde. As aulas continuam paralisadas, desde 23 de março.
A atual Escola Antônio Lúcio Duarte Filho – Apae de Francisco Beltrão – foi criada em 8 de maio de 1976 como Escola Mundo Colorido, Apae de Francisco Beltrão, desde o ano passado denomina-se Escola Antônio Lúcio Duarte Filho, em homenagem a seu primeiro aluno. Iniciou suas atividades no Quartel do Exército, depois, por dois anos e meio, passou para o Parque de Exposições, até mudar para sede própria, em terreno doado pela Prefeitura (primeira administração do prefeito João Batista de Arruda, 1977 a 1982), no Bairro Alvorada. Há mais de dez anos está em seu sítio (de cinco alqueires), no Bairro Água Branca.

Tudo muito quieto
O normal haver movimentação de pessoas na sede da Apae beltronense desde bem cedo, pois às 7h30 começa o atendimento pedagógico e de saúde; são muitas crianças, adultos (entre alunos, professores e funcionários), muitas atividades, em vários ambientes. Mas nesta sexta-feira, assim como tem acontecido desde 20 de março, estava tudo quieto. A partir das oito é que começam a chegar alunos, levados pelos pais, mas são poucos.
“Nunca a gente esperava uma coisa dessas. O homem cuidou de tecnologia, foi à Lua, cuidou de tudo, menos da saúde”, diz o médico Lúcio Antônio Duarte, o principal fundador da Apae de Francisco Beltrão. Foi com o nascimento de seu primeiro filho, com deficiência mental, que veio a ideia de criar a entidade. “É com tristeza que estamos sem comemorar, se bem que sempre comemoramos mais na Semana do Excepcional, que é em agosto, vamos ver se até lá volta ao normal”, continua dr. Lúcio, que é o atual vice-presidente (Luiz Bottin é o presidente).
Ainda segundo dr. Lúcio, a Apae de Francisco Beltrão, que tem 93 funcionários para atender seus 356 alunos, “hoje se tornou uma instituição de vulto, acho que em patrimônio é a maior do Brasil”.
Mais atendentes que atendidos na saúde
As aulas estão suspensas por causa da pandemia, mas o atendimento à saúde foi recomeçado desde 22 de abril. São 16 profissionais desta área: uma assistente social, duas fonoaudiólogas, duas terapeutas ocupacionais, quatro psicólogas e sete fisioterapeutas, totalizando 16, mas quatro permanecem em casa, porque são de grupos de risco (tem ainda o atendimento neuropediatra, que é buscado em Chapecó). As 12 que comparecem diariamente na Apae superam o número de atendidos, que não passa de cinco ou seis por dia. A limitação é o transporte, porque a maioria dos atendidos são de famílias que dependem do transporte da Prefeitura, que está paralisado. São atendidos alunos que os pais têm condição de levar com carro próprio.
O Jornal de Beltrão ouviu ontem as fisioterapeutas Luiza Dalla Vecchia e Krishna Faedo Metzler e a assistente social Eva Beatriz Andreis. Elas deram informações como estas que seguem:
– No período que a Apae esteve totalmente fechada, informações eram passadas aos pais e responsáveis por telefone e vídeos, para pelo menos fazer a manutenção dos tratamentos.
– Todos os atendimentos de hoje são individualizados e, logo após cada atendimento, a sala é esterilizada.
– São tomados cuidados especiais com crianças de risco e quando há suspeita de qualquer criança com rouquidão, coriza, resfriado, devem ficar em casa.
– Quem tem condições, traz seus filhos, mas a grande maioria vem de bairros pobres, depende de passe da Prefeitura e muitos são do interior.
– Os profissionais da saúde estão prontos para atender todos os 356 alunos, como acontecia até março, os pais gostariam que os filhos voltassem a frequentar a Apae, o difícil é fazer os alunos entenderem por que estão impedidos de ir à escola.
Um pai de aluno que acompanhou a entrevista, professor Vilmar Steffen, tomou a palavra: “Eu gostaria de destacar a importância do atendimento daqui. O meu filho (Raul, de 4 anos) desenvolveu muito em dois anos. É gigantesco o atendimento. Quando ele entrou aqui, há dois anos, quase não falava, agora não para de falar”.
O retorno do pequeno Raul demorou alguns dias após o reinício do atendimento, porque ele não aceitava a máscara, que é obrigatória. Mas o pai insistiu e buscou outros modelos até que o convenceu, agora ele aceita.
Promoções e doações da comunidade para ajudar a Apae e as famílias
A Apae sempre fez promoções para ajudar na sua manutenção. Agora está fazendo promoções também para ajudar famílias de alunos necessitadas. E também recebe doações da comunidade. A responsável pela captação de recursos, Helena Zanchetin, informa que são bem-vindas doações de alimentos e também de roupas e calçados, principalmente agora que o frio está chegando.