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Francisco Beltrão
domingo, 25 de maio de 2025

Edição 8.211

24/05/2025

Universidades públicas: ainda não há consenso sobre aulas a distância

Uma concordância é que a migração do ensino presencial pra educação a distância não é simples.

Patrícia Hellmann, estudante da UFFS, aprova as medidas tomadas por seu curso.

Na impossibilidade de aulas presenciais, os professores podem dar aulas a distância, mas muitos se posicionam contra e os motivos são vários. As opiniões se dividem também entre os alunos e seus pais. Deve-se diferenciar o ensino infantil do universitário, uma vez que o estudante com mais idade é independente e pode fazer suas atividades sem supervisão. É preciso considerar ainda que a migração do ensino presencial pra educação a distância não é simples, mas é necessária neste período de pandemia e depende da formação dos professores, pra que seja satisfatória. Isso leva tempo e investimento.

Patricia Hellmann, estudante da graduação em Física da Universidade Federal Fronteira Sul (UFFS) aprova as medidas adotadas por seu curso. “Alguns componentes curriculares foram liberados para serem na forma semipresencial. Porém, respeitando a ementa do curso, que disponibiliza que somente 40% do componente curricular seja feito no formato EaD. Estou realizando um componente nesta forma e a minha turma está se adaptando à nova metodologia, de aulas on-line, nas quais estamos tendo um resultado produtivo. Para dar certo tem que ter o comprometimento de todos os participantes. É uma nova forma de aprendizado que na minha turma está dando certo.”

Já Marcos Folador, estagiário da coordenação do curso de Pedagogia e acadêmico do 4º ano de Geografia Licenciatura, da Unioeste, campus de Beltrão, faz ressalvas: “Na Unioeste, após reuniões dos Conselhos Superiores, foi possibilitada a realização de alternativas como aulas remotas e ou a distância, desde que esteja constando no PPP (Projeto Político – Pedagógico) e que conste nas ementas das disciplinas como funcionarão as aulas. Neste caso, a maioria dos cursos não possui essa organização, pois entendemos que o curso é presencial e até então nunca foi necessário cogitar essa possibilidade.” Além disso, apenas uma porcentagem da carga horária pode ser na modalidade a distância.

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“A realidade dos acadêmicos é heterogênea”, diz Marcos Folador, estudante.

Marcos acrescenta: “Enfim, os cursos de graduação estão sem atividades acadêmicas (de ensino). Na minha opinião, acredito ser o correto, nada vai substituir as aulas presenciais, a troca de conhecimento, as relações sociais, sabemos também que a realidade dos acadêmicos é heterogênea, as condições nunca são as mesmas.”

Joceane Marcon, mãe de um estudante, desabafa: “Tenho filho na universidade federal e acho um absurdo os professores doutores não estarem ministrando aulas. Ouvi muitas vezes esses mesmos professores dizendo que tinha que mudar o método de educação e na hora que tem a oportunidade, ficam em casa”.

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Unioeste aprova aulas remotas para a pós-graduação

 
A Unioeste permanece sem aulas presenciais, mas o calendário letivo não foi suspenso, portanto, os dois únicos cursos EaD da instituição estão funcionando normalmente. Gilmar Ribeiro de Mello, vice-reitor, destaca que existe previsão nas normas da Unioeste para a realização, nos cursos de graduação presenciais, de até 20% da carga-horária em EaD, mas para isso é necessário que os Projetos Políticos-Pedagógicos dos cursos tenham esta previsão, assunto que é pauta de discussão no processo de curricularização das atividades de extensão. Portanto, os cursos de graduação presenciais estão desenvolvendo algumas atividades de forma remota, como as orientações de trabalho de conclusão de curso (TCC) e execução de projetos de ensino, pesquisa e extensão.

Na semana passada, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) definiu que os professores dos mestrados, doutorados e especializações podem dar aulas de forma remota, em caráter excepcional e enquanto estiver com atividades presenciais suspensas, porque ainda não havia regulamentação pra isso.

Adilson Carlos da Rocha, diretor-geral do campus de Beltrão, destaca que desde dia 16 de março as atividades de ensino, pesquisa e extensão foram suspensas, então a universidade começou a realizar alguns projetos dentro dos parâmetros das legislações local e estadual. “As atividades continuam suspensas, sem prejuízo do calendário, ou seja, os dias letivos serão retomados a partir da autorização do Governo do Estado das atividades com aglomeração.” O Governo do Estado sinalizou a previsão pra agosto.

Neste intervalo, algumas atividades essenciais são realizadas, como a ação de extensão contra o coronavírus pelo serviço de call center e da plataforma de telemedicina, funcionando no campus, promovido pelo convênio entre Fundação Araucária e as universidades. A Pró-Reitoria de Graduação estabeleceu uma instrução de serviço, em que os professores vão propor projetos de ensino via remoto, com carga-horária pra atividade acadêmica complementar (ACC).

Adilson acrescenta que o Diretório Centro Estudantil (DCE) e os centros acadêmicos (CAs) pesquisaram questões relacionadas ao acesso à tecnologia, ensino a distância e às opiniões dos alunos, que contou com participação de 827 estudantes. Quase 30% dos acadêmicos indicaram que não gostariam de ter atividades de ensino via EaD ou aula remota e sim aguardar o retorno às aulas presenciais. O campus de Francisco Beltrão tem atualmente 1.450 alunos na graduação e 200 na pós-graduação.

Normas da Capes
Ângela Maria Silveira Portelinha, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação, em Francisco Beltrão (PPGE/FB), explica que a pós-graduação na modalidade stricto sensu (mestrado e doutorado) segue as normas da Capes, com prazos específicos para os estudantes concluírem o curso. No PPGE, as reuniões, orientações e defesas públicas de dissertações ocorrem via sistema remoto, já as aulas estão suspensas por conta de normativas da Unioeste. No entanto, recentemente foi aprovada uma resolução institucional com normativas bastante flexíveis, as quais possibilitam aos programas ofertarem as aulas, via sistema remoto, desde que o colegiado de curso aprove com anuência de professores e estudantes.

Enquanto coordenadora, Ângela ressalta que algumas atividades são possíveis de serem realizadas, mas é preciso muita prudência para não reduzir o processo educativo-formativo à mera transmissão de conteúdos, relegando a aprendizagem a segundo plano. “Preocupa-nos a oferta por conta da dimensão político-pedagógica que envolve uma série de condicionantes, como falta de equipamentos tecnológicos, dificuldade de acesso de professores e estudantes a uma boa conexão de internet, o perigo de transformar a questão didático-pedagógica em arremedos virtuais, excluir aqueles que não têm acesso, mas também preocupa-nos a não oferta por considerar que o calendário não foi suspenso e, no retorno, talvez tenhamos que adequar as atividades do calendário acadêmico em um ‘ano civil’ carregado de adversidades e incertezas.” Essas questões devem ser avaliadas pelos professores para aprovação ou não das aulas via remoto.

UTFPR está com o calendário suspenso, mas organiza retomada de atividade
O Conselho Universitário (Couni) da UTFPR definiu pela suspensão do calendário letivo da UTFPR por tempo indeterminado, mas as atividades com os servidores seguem normalmente. Alexandre Alfaro, diretor-geral do campus de Beltrão, destaca que o Conselho Universitário aprovou e irão acontecer atividades didáticas não presenciais também na graduação. “O objetivo é facilitar e avançar em disciplinas que podem ser feitas de forma remota.” 

Marcelo Bortoli, diretor de Graduação e Educação Profissional da UTFPR-FB, comenta que a instituição, há pelos menos três semanas, tem trabalhado em uma proposta de retorno das atividades didáticas na graduação e pós-graduação. “Já existe um documento da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação pra normatizar o ensino de forma remota nos cursos de pós. Na graduação, por envolver um grupo maior de alunos e muitas vezes mais frágeis, do ponto de vista financeiro e de estrutura para acompanhar as aulas no modo virtual, ainda estamos normatizando. A proposta foi pra o Conselho Universitário, que aprovou, e agora o Conselho de Graduação está montando a operacionalização.” 

A previsão é que na próxima semana haja uma definição. “O documento está sendo analisado artigo por artigo. O processo é criterioso para que atinja as expectativas da comunidade. Este documento trará um cronograma das atividades, a princípio pra iniciar em junho, mas ainda não está fechado”, afirma Marcelo. 

Aulas remotas na pós-graduação
Claiton Zanini Brusamarello, diretor de pesquisa e pós-graduação, afirma que as aulas na pós-graduação foram autorizadas pela resolução da IN 04/2020, do Conselho de Pesquisa e Pós-Graduação. “Este mesmo conselho se reúne na próxima segunda-feira para debater e votar a proposta de instrução normativa complementar, o qual dispõe sobre as orientações complementares referentes à oferta remota e parcial das atividades de ensino dos programas de pós-graduação da UTFPR. É importante salientar que a oferta total ou parcial das disciplinas fica condicionada ao resultado de uma negociação entre o docente e os discentes regularmente matriculados nas respectivas disciplinas. Este regulamento, que será debatido e votado, conta com a sugestão dos mais de 50 programas de pós-graduação ofertados pela UTFPR. Beltrão, tem mil alunos na graduação e 120 na pós-graduação.

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