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Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

É normal a criança roncar?

Geral

Durante esse período sem atividades escolares em que os pais estão convivendo mais tempo com seus filhos é possível que já tenham observado que as crianças estão roncando ou dormindo com a boca aberta. Também é provável que já tenham se perguntado: “É normal meu filho roncar à noite?” A resposta é não. Se a criança está roncando, certamente tem algo errado. O ronco denota uma dificuldade para respirar devido a um fator obstrutivo, ou seja, o ar está tendo dificuldade em passar pelo nariz e pela garganta. A obstrução pode ser gerada por uma inflamação das vias aéreas ou por um fator mecânico, como a hipertrofia de amigdalas, adenoide ou outras causas menos frequentes.
Os casos de inflamação podem ocorrer em vigência de um resfriado, gripe ou sinusite, em que a infecção gera um estado inflamatório na mucosa do nariz, garganta e seios da face, levando ao edema (“inchaço”) e acúmulo de secreções que dificultam a respiração. Essas doenças podem ser autolimitadas ou não, e, portanto, necessitam de avaliação e tratamento adequados pelo especialista. A rinite alérgica é outra condição relacionada à inflamação da mucosa nasal, mas ao contrário dos quadros infecciosos, é mediada pela resposta do próprio organismo aos alérgenos como ácaro, poeira, gramíneas, pelo de animais entre outros. Em ambas as situações os pacientes vão apresentar sintomas como espirros, coriza e nariz entupido. Nos pacientes alérgicos podem aparecer sintomas como coceira no nariz, garganta ou nos olhos e espirros constantes. Nos casos infecciosos pode ocorrer tosse produtiva, febre e secreção nasal amarelo-esverdeada. Os pacientes com roncos e respiração oral de origem inflamatória ou infecciosa vão apresentar melhora importante dos sintomas se tratados de maneira adequada.
Entretanto, nas crianças, existe um outro fator importante a ser considerado quando tratamos de roncos e respiração oral: a hipertrofia das amigdalas e adenoide. A adenoide, popularmente conhecida como “carne esponjosa”, é um aglomerado de tecido linfoide localizado na parte de trás do nariz e acima da garganta. Ao contrário do que muitos pensam, a adenoide não é uma doença ou sintoma. Ela é um tecido de defesa do organismo, atuando na proteção contra bactérias e vírus que se acumulam no nariz. A adenoide tem seu pico de crescimento por volta dos 5 anos e começa a diminuir a partir dos 8 anos. Quando ocorre um crescimento excessivo ela obstrui a passagem de ar pelo nariz, causando o ronco. O mesmo pode acontecer com a hipertrofia das amigdalas, que também leva a obstrução, mas ao nível da garganta. As amigdalas são visualizadas através de um exame simples da garganta e na consulta já podemos suspeitar se estão interferindo ou não na respiração. Já quando falamos da adenoide sabemos que não é possível visualizá-la a olho nu, devido a sua localização na rinofaringe (entre o final do nariz e a garganta), e, por isso, lançamos mão de exames como o raio X e a nasofibroscopia.
A Síndrome da Apnéia Obstrutiva do Sono (SAOS) caracteriza o distúrbio do sono tanto nos adultos, quanto nas crianças, porém a causa dessa síndrome difere entre os dois grupos. A principal causa de SAOS nas crianças é a hipertrofia adenoamigdaliana. Além dos roncos, respiração oral, salivação excessiva durante a noite, sono agitado, também estão presentes alterações de comportamento como hiperatividade, déficit de atenção e de concentração e queda no desempenho escolar. A respiração bucal também gera alterações craniofaciais, como a mordida aberta, o lábio superior mais fino, o apinhamento dos dentes e a face estreita e alongada. A grande maioria dos casos requer tratamento cirúrgico pelo otorrinolaringologista.
O ronco, é portanto, patológico na criança e no adolescente, e deve ser sempre avaliado por um profissional especialista para definir sua origem e o melhor tratamento. Nem todos os casos precisam de cirurgia, porém quando esse procedimento é indicado ele pode acarretar uma melhora importante na qualidade de vida e no desenvolvimento da criança.

Dra. Mariana Seerig.

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