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Francisco Beltrão
quarta-feira, 28 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

“Se nós pararmos, o Brasil para”

Apesar da mudança e de novos protocolos de segurança, Vilson Gasparim destaca a importância da profissão durante a pandemia

Vilson Gasparim é caminhoneiro há 36 anos e viaja diariamente com cargas de ração.

Foi no final de março que Vilson Gasparim começou a sentir os primeiros efeitos da pandemia na profissão. “Começamos a encontrar todos os restaurantes da estrada fechados”, relembra do primeiro impacto. Ele, que tem 54 anos, trabalha há 36 anos como caminhoneiro e hoje transporta ração diariamente de Faxinal dos Guedes às cidades de Ampere, Barracão e Nova Esperança do Sudoeste, por uma empresa.

Além das portas fechadas, o uso obrigatório de máscaras de proteção facial, álcool em gel e a submissão diária a um sistema de triagem, um sentimento de insegurança passou a fazer parte da nova rotina da categoria e com a qual ele precisou aprender a conviver. “Nós nunca nos sentimos seguros de verdade, o medo está o tempo todo ao nosso lado, portanto, fazemos o que está ao nosso alcance para nos cuidar e ficar com a consciência limpa.”

Antes, conta Gasparim, os dias eram diferentes. Embora suas viagens não lhe custassem dias fora de casa, a boleia não era sua única companheira na estrada. Como outros profissionais da mesma área, a falta do contato com os grupos foi um dos primeiros impactos sentidos, seguido do medo, ansiedade e insegurança de contrair uma doença que, após meses descoberta, ainda se tem aprendido a lidar.

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Chegar em casa é uma vitória
“Antes da pandemia, onde parávamos (para comer ou abastecer) descíamos do caminhão, encontrávamos nossos amigos de estrada, conversávamos e então seguíamos viagem. Agora, além de usar máscara, álcool em gel e manter distância, só paramos em algum lugar quando é extremamente necessário e dificilmente descemos do caminhão”, aponta.

O mesmo cuidado vale para o retorno à casa. Gasparim vive com a esposa e a filha. O primeiro abraço e as histórias da viagem que eram contadas já ao portão precisaram ser substituídas por um novo protocolo. Mais distante, mas também mais seguro. “Chegar em casa após um dia na estrada, onde passamos por tantos riscos, é uma vitória, e chegar em casa e ter alguém esperando por você é uma vitória maior ainda. Graças a Deus, quando eu chego minha família está me esperando, mas agora o reencontro é diferente. Quando eu chego a gente se dá um oi de longe, eu vou pro banho e lavo minha roupa, meu calçado e minhas máscaras.”

A força do caminhoneiro
Como um trabalho essencial, Gasparim entende a importância da sua atividade. Uma força, diz, já sentida na greve dos caminhoneiros, no ano de 2018. “Se nós pararmos, o Brasil para”, reverbera com firmeza.

Com muitas profissões tendo as rotinas readaptadas, cancelamento de aulas e fechamento de espaços culturais e alimentícios, houve um impacto direto no aumento do consumo – uma vez que as pessoas passaram a ficar mais tempo em casa. “Não demoraria muito para faltar comida nos mercados e nos lares, o que agravaria a situação que estamos vivendo. Infelizmente nem todos têm o privilégio de ficar em casa em isolamento”, avalia, caso os caminhoneiros também parassem.

Apesar disso, Gasparim não esconde que teme contrair o vírus. Mas para quem há quase 40 anos vive da mesma profissão, ele segue todos os cuidados para sempre poder se ver na estrada, cumprindo o que considera seu dever. “Meu amor por essa profissão está no sangue, meu pai era caminhoneiro e eu e meu filho somos também. O transporte no Brasil é, principalmente, rodoviário, ou seja, nós transportamos o Brasil.”

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