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Francisco Beltrão
quinta-feira, 29 de maio de 2025

Edição 8.214

29/05/2025

Para se livrar do aluguel, Augusto abriu uma barbearia no interior de Beltrão

Agora, num espaço pequeno e rústico – mas bem decorado –, às margens de uma rodovia, o novo negócio anda movimentado.

Após vender sua barbearia, Ricardo Augusto recomeçou
debaixo de uma tenda improvisada, no interior, e hoje está
com a agenda lotada e um novo espaço.

Uma tenda de acampamento armada ao lado de casa e cadeira antiga posta em frente ao balcão improvisado. Foi assim que o barbeiro Ricardo Augusto recomeçou depois de vender sua barbearia para quitar dívidas. O chão era de brita e a energia, puxada na extensão, mas a clientela nem ligava pra simplicidade do lugar diante do bom serviço — e se deslocava a 4 km da cidade para fazer a barba e cortar o cabelo.

“Foi aqui que conheci a real humildade do ser humano, muitos empresários e gente da alta chegando para ser atendido. Uma galera vindo de longe, de bicicleta, me dava muita esperança de que daria tudo certo”, resumiu o empreendedor.

Os últimos seis meses foram de recomeço e aprendizado para Augusto. Ele está na profissão há 16 anos — em Beltrão há cinco — e tinha uma barbearia bacana no centro da cidade. Sala alugada, bem localizada, movimento bom e parceria com outros profissionais no mesmo espaço. No início do ano, prevendo que os negócios iriam bem, ele investiu para melhorar o lugar. E aí veio a pandemia. A barbearia ficou fechada por mais de duas semanas e, quando voltou, o movimento ainda era fraco. Os clientes desconfiavam do alcance do coronavírus e evitavam procurar o serviço.

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Com um custo fixo alto, Augusto não estava mais conseguindo dar o giro financeiro. Tinha a parcela do empréstimo que fez pra melhorar a barbearia, funcionários, aluguel e despesas pessoais. Isso lhe custava uns R$ 6 mil por mês. Ao comentar a situação com um cliente, entre uma tesourada e outra, recebeu a proposta para vender o ponto. Era um valor bem abaixo do de mercado, mas suficiente para saldar as dívidas. Fechou negócio.

Para se livrar também do aluguel do apartamento onde morava, vendeu o carro e deu entrada numa área no interior, com o restante parcelado. Colocou uma casa de madeira no local e tentou emprego em outras barbearias, mas o momento não era bom para contratar. Foi aí que resolveu levar ao pé da letra o ditado “recomeçar nem que seja debaixo de uma lona” e montou um espaço improvisado. Aos poucos, os clientes de longa data, vizinhos e mesmo quem passava pela rodovia paravam ali pra dar um trato no visual.

Movimento estourou
Hoje, Augusto tem quatro vezes mais clientes e o atendimento é feito numa sala bem rústica, decorada ao estilo da barbearia — batizada de Parada Velho Oeste —, com rodas de carroça, selaria e lustres de nó de pinho pelas paredes. “Desde que fiz a sala aqui, estourou de clientes”, comentou o barbeiro, enquanto cortava o cabelo de Michel Neves, cliente antigo que não se importa em fazer mais de 5 km para ir ao “saloon”, na comunidade de Nova Seção. “Eu faço uns 18 atendimentos por dia, não tenho problema em começar antes ou esticar o horário, atender no domingo, feriado… a gente tem que ter essa flexibilidade e isso vem atraindo gente de outras cidades também.”

Publicidade boca a boca
Os atendimentos acontecem somente mediante agendamento eletrônico e são necessários até dois dias para encontrar horário na agenda. Isso porque o barbeiro lança mão de muita publicidade gratuita, na internet, e também conta com o boca a boca de quem já é cliente, mostrando que uma localização nobre e investimento alto nem sempre são essenciais para o sucesso de um negócio. Agora, seu único custo é a energia elétrica.O bom movimento tem feito Augusto pensar em diversificar a barbearia com novos serviços e produtos, mas com o pé no chão. Ele está retomando os atendimentos sociais na Apae e no Caps e planeja instalar uma frutaria com espaço para servir refeições, mantendo as mesmas lições e o estilo que o fizeram ir do inferno ao céu durante a pandemia: na humildade, aos poucos e caprichando no atendimento e no serviço.

Clientes antigos, como Michel, permanecem; outros novos vieram. E a distância até a cidade parece não importar muito, diante do bom atendimento.

 

 

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