Isso pode impactar na saúde mental e desencadear vários distúrbios.

Longos períodos de isolamento podem levar a sintomas psicológicos, como distúrbios emocionais, distúrbios alimentares, depressão, estresse, irritabilidade, insônia, sinais de transtorno de ansiedade e estresse pós-traumático. O psicólogo Leandro Pereira ressalta que, atualmente, em seu consultório, tem recebido uma demanda maior de pessoas com sintomas de transtorno de pânico, ansiedade e depressão, que também têm correlação com a pandemia e o isolamento social.
Por que isso acontece? “É fato que somos seres de relação, de contato, necessitamos de afeto, do outro para que possamos confirmar nossa existência. Apesar de, neste momento, encontrarmos outras formas de nos relacionarmos, como a internet, vídeo chamadas, dependendo da duração do isolamento, esses recursos passam a não ser suficientes e isso pode desencadear uma série de sentimentos e comportamentos não adaptativos”, responde Leandro.
Além disso, a falta de convívio social devido à pandemia da Covid-19 pode levar as pessoas a sentirem tédio e estresse relacionado à absorção de informações, como falta de clareza, especialmente relacionados aos diferentes níveis de risco que o indivíduo corre, perdas econômicas, a preocupação em relação à duração da quarentena, medo de ser infectado e o de ser capaz de infectar alguém, frustração e privação de bens, como alimentação, saúde etc. “Com o isolamento, podemos desenvolver a sensação de perder uma das condições essenciais da humanidade, que é liberdade, e isso tem impacto enorme em nossa saúde mental.”
Compulsão alimentar
De acordo com Leandro, a partir do momento em que o isolamento pode interferir na regulação emocional, em tempos de insegurança, a relação com a comida pode se agravar ainda mais. Além do aumento no tempo gasto nas mídias sociais, uma hipótese é de que a ausência de atividade física pode gerar uma preocupação com o ganho de peso e assim desencadear um transtorno alimentar. Além do mais, permanecer em casa o tempo todo pode aumentar os episódios de compulsão.
Segundo o psicólogo, todos esses fatores somados causam grandes impactos, afetando a bioquímica do organismo e aumentando os hormônios do estresse. Instintivamente, o ser humano procura soluções para todo este quadro de sofrimento e, como o alimento traz um prazer e um bem-estar imediato e momentâneo sem igual, pode aumentar o aporte energético e também causar a compulsão alimentar.
Tratamento
“Num primeiro momento, algumas atitudes podem diminuir os efeitos da quarentena, repensando o nosso atual modelo de vida. A criação de rotina em casa, a fim de manter o ritmo circadiano [período de aproximadamente 24 horas], ajudando a regular os ritmos fisiológicos e psicológicos do corpo humano para melhorar a imunidade. Ou seja, manter o horário de dormir e de acordar, de refeições, banhos e atividade física, adaptando exercícios. Cuidar com a quantidade e qualidade das informações recebidas, buscando um contato mais harmonioso e significativo com o outro”, ressalta o psicólogo.
Conforme explica Leandro, conseguindo estabelecer essa rotina equilibrada, é importante aprender a identificar e administrar suas emoções. Importante fazer uma avaliação semanal sobre o seu estado emocional, observando como está se sentindo, quais as suas reações e onde sua atenção está focada. “Identifique os pontos que podem ser melhorados e vá fazendo ajustes em seu planejamento. Algumas perguntas podem ajudar nesse processo: do que eu tenho medo? De ser infectado e morrer? Perdas financeiras? De rejeição? Identifique qual aparece com mais ênfase em suas preocupações e trabalhe nisso, ajustando à sua realidade.”