Como convencer a população a se cuidar? Secretário de Saúde diz que esse está sendo o maior desafio do momento.
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Um novo recorde diário de casos de Covid-19 foi registrado ontem em Francisco Beltrão. Em 24 horas, de quarta para quinta-feira, 127 pessoas receberam o resultado positivo. No total, o município soma 2.725 casos confirmados, 33 mortes e 2.243 pacientes recuperados. O boletim, divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde, indicava ainda que 449 pacientes estavam em tratamento e outros 340 casos seguiam em investigação.
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Por que o número de casos voltou a aumentar tanto? Quem leva a culpa? As pessoas não estão mais se cuidando? Não há uma resposta única para essas perguntas. De acordo com o secretário de Saúde de Francisco Beltrão, Manoel Brezolin, um conjunto de fatores contribui para a explosão do número de casos, mas convencer a população que ainda é preciso se cuidar tem sido o maior desafio deste momento.
Em uma entrevista para o Jornal de Beltrão, ontem à tarde, por telefone, Manoel falou sobre as dificuldades que as equipes de saúde estão enfrentando no combate à pandemia. Pela manhã, contou o secretário, houve uma reunião na Amsop, com representantes de outros municípios e da 7ª e 8ª regionais de Saúde, para analisar dados e pensar em medidas que devem ser adotadas de forma integrada.
“Nos últimos dez dias, a gente observou um aumento significativo [dos casos]. Se esperava que já estabilizasse, porque, quando a gente fica pensando quem é que contribuiu para aumentar esse número, se sabe que não é uma única coisa, são vários fatores. Mas confesso que o aumento preocupou muito mais, aumentou além do que se imaginava e não tem uma perspectiva que estabilize, pelo contrário, a perspectiva é que nos próximos dias ainda esteja aumentando. As reuniões são para analisar como que nós vamos adaptar as estruturas para atender a demanda, nós começamos a ter dificuldades para atender a demanda”, revelou Manoel.
Ocupação de leitos
Segundo ele, o coronavírus está infectando mais a população jovem, por isso, inicialmente, não houve aumento nos internamentos. Mas, nos últimos dias, as hospitalizações também aumentaram, porém, não de forma significativa nas UTIs. Ontem, no entanto, a ocupação dos leitos de UTI em Francisco Beltrão estava em 80%. “Não dá pra dizer que os leitos de UTI são o problema hoje, não são! Os leitos de UTI para Covid, os respiradores para a Covid não são o maior problema. A dúvida é se logo para frente esse número de internamentos vai aumentar, se esses pacientes poderão piorar e precisar de UTI ou não.”
A regulação de leitos é feita pela Secretaria de Saúde do Estado e Francisco Beltrão integra a Macrorregional Oeste. “Os leitos de UTI são sempre analisados pela região. A Regional de Saúde que tem menos leitos de Covid proporcional à população é a nossa. Por que não implantaram mais leitos na nossa Regional e implantaram em outras? Isso foi em função dos hospitais, não tem espaço físico nos hospitais para implantar mais leitos, por isso optaram por implantar nos vizinhos, para compensar. Hoje, a busca é primeiro no Hospital Regional, depois é Chopinzinho, Pato Branco, Palmas e Cascavel, se for o caso.”
Cuidados
Para que não ocorra a lotação dos hospitais e o setor de saúde consiga atender à demanda dos infectados, é necessário manter as medidas de prevenção. E entre as principais estão o uso de máscara, o distanciamento e a higienização das mãos, seja lavando com água e sabão ou utilizando o álcool em gel. Mas nem todo mundo tem seguido as orientações. Conforme Manoel, há uma percepção de que as pessoas têm perdido o medo da doença e descuidado dos protocolos.
“O que mais preocupa a gente é que a pessoa fez o exame, é suspeita, mas continua levando a vida normal até chegar o resultado; não é indicado. Antes de fazer o exame, começou a sentir alguma coisa, dor no corpo, tosse, sentir que tem febre, nesse momento, ela já precisa se isolar, adotar pelo menos aquelas medidas de uso de máscara, ficar mais longe das pessoas. Uso de máscara, manter pelo menos um metro de distância e lavar a mão sempre que possível funciona mesmo para aquelas pessoas que possivelmente já estão em positivo”, afirmou o secretário.
Manoel contou ainda que o município não aplicou nenhuma multa individual, a alguma pessoa, por descumprimento de medidas, mesmo quando se desconfia que um paciente positivado tenha saído de casa. “Lá no início, tinha muita denúncia, ‘ó lá, fulano tá positivo e tá andando na rua’. Então, se desenvolvia uma ação. Hoje, a gente recebe pouca denúncia desse tipo e precisamos confiar nas pessoas; não tem mais como conferir, ir na casa e ter certeza que ela tá ou não.”
Ele reforçou que um conjunto de fatores é responsável pelo aumento dos casos, mas atribui alguns como principais: “Tudo contribuiu, a liberação dos setores, as festas de família, as reuniões, os bares, as lojas, a campanha política contribuiu… mas, eu tenho certeza, o que mais contribuiu foram as pessoas acharem que a máscara não funciona e deixar de usar corretamente, esquecer que tem que lavar, esquecer que tem que ficar um metro longe um do outro. Qual é a mágica pra gente convencer a população nesse sentido? Esse é o desafio do momento”.
Vai fechar tudo?
Ontem, em reuniões com representantes de outros municípios e com equipes de trabalho da Saúde de Francisco Beltrão, Manoel Brezolin diz que foram analisados dados do coronavírus na região e debatidas medidas a serem tomadas para frear a disseminação. No entanto, essas discussões devem continuar hoje e novidades só devem surgir durante o fim de semana ou segunda-feira, 23.
“Não se pretende adotar medidas restritivas como se pensou lá no começo. Não se pretende restringir esse setor produtivo, mas algumas dessas medidas a gente vai avaliar. Estamos tentando entender quais as mais prováveis que contribuíram para aumentar e tentar atacar nesse momento, por um período, pra conseguir estabilizar e trazer para baixo um pouco, não comprometer o sistema de saúde”, adiantou.
Sobre o fechamento, Manoel acrescentou: “A máscara funciona e a doença, pra aqueles que é simples, esses têm o compromisso de não deixar chegar naqueles que têm outras complicações. Essas medidas de restrição, de fechamento, lá no início se pensava isso pra um, dois meses, mas não é possível pra uma vida toda, não é possível por um ano inteiro. Pra levar essa vida mais próximo do normal, precisa levar a sério essas medidas, que as pessoas não acreditam, ou mesmo acreditando não se importa muito, não leva muito a sério, tem sempre aquele conceito da população, um entendimento de que ‘só eu sem máscara não tem problema’, o problema é que todo mundo pensa igual. Todo mundo quer que o outro use, mas eu não”.